Revista do Villa
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Revista luso-brasileira de conteúdo sobre cultura, gastronomia, moda, turismo,
entretenimento, eventos sociais, bem-estar, life style e muito mais...
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- Encontro nos bastidores celebra a união entre artistas e linguagens da dança no Grand Prix Ana Botafogo
Após os aplausos da plateia e o encerramento emocionante da noite de gala do Grand Prix Ana Botafogo , um novo espetáculo tomou forma longe dos refletores, nos bastidores . Sorrisos, abraços e olhares de cumplicidade marcaram o encontro entre integrantes do Núcleo de Dança para Atores e da Cia Paulista de Dança , que celebraram juntos a arte que os une: a dança. Mais do que um simples momento de confraternização, o encontro simbolizou o diálogo entre linguagens e trajetórias distintas , reunidas sob o mesmo propósito: transformar emoção em gesto. De um lado, o casal Murillo Miron e Larissa Luna , da Cia Paulista de Dança , que havia encantado o público com o virtuosismo dos Pas de Deux “ Dans L’Amour ” e “ Cisne Negro ”. Do outro, os intérpretes do Núcleo de Dança para Atores , dirigidos por Roberto Lima e com coreografia de Mônica Barbosa , que levaram ao palco o intenso espetáculo “ Sob a Pele ” — uma criação que investiga o corpo como linguagem dramática, entre o teatro e a dança. Nos bastidores, o que se viu foi um encontro de mundos : o balé clássico dialogando com o teatro físico; a precisão técnica se encontrando com a expressão visceral. Entre conversas, elogios e risadas, os artistas compartilharam experiências e a alegria de estarem lado a lado em um evento que exalta a pluralidade e a força da dança brasileira . Assim, o que começou como uma noite de gala à beira-mar terminou como um manifesto silencioso de união e reconhecimento , uma coreografia espontânea de afetos, onde cada abraço valia mais do que mil aplausos. 📍 Grand Prix Ana Botafogo – Segunda Edição 📅 24 a 26 de outubro de 2025 📌 Orla da Praia dos Cavaleiros – Macaé/RJ Nando Andrade
- “A literatura pode ser a mesa onde todos saboreamos os valores da nossa consciência social”
Imagem: Pedro Sequeira de Carvalho, escritor natural de São Tomé e Príncipe. Foto: divulgação Natural de São Tomé e Príncipe, o escritor Pedro Sequeira de Carvalho tem vindo a afirmar-se como uma das vozes mais consistentes da literatura africana de língua portuguesa contemporânea. Entre o arquipélago que o viu nascer, Portugal — onde consolidou a sua carreira — e o Brasil — país que o acolheu literariamente —, o autor constrói uma trajetória marcada pela reflexão sobre identidade, ética e pertença. Com romance “O Branco e a Preta” (2025), editado pela In-Finita Editorial, Pedro Sequeira de Carvalho mergulha nas contradições da sociedade são-tomense e nas heranças do colonialismo, explorando o amor, a desigualdade e o desafio de escrever a partir de um espaço insular que dialoga com o mundo. Além da escrita, o autor fundou a companhia teatral “DEMOS”, através da qual promove peças que abordam temas sociais como a igualdade de género e o combate à pobreza, apostando no teatro como ferramenta de consciencialização e transformação. Em entrevista à nossa reportagem, o autor fala sobre o seu percurso literário, as influências da lusofonia e o papel da literatura na construção da consciência social e cultural do seu país. A sua trajetória literária começou em São Tomé e Príncipe, mas consolidou-se também em Portugal e no Brasil. De que forma essa vivência entre continentes influenciou a sua escrita e o olhar sobre a literatura lusófona? Eu sou da ilha pelo que, sair da ilha é sempre uma mais valia, porque faz-me ver melhor a ilha e mais importante, faz me ver que aquilo que é feito na ilha é útil para a humanidade. Ainda, ter contacto com Portugal e Brasil funciona como um leque, uma vez que abre a minha mente para outras questões que não são relevantes para São Tomé e Príncipe, mas são importantes para esses países. E, esta abertura faz-me ver com outros olhos as questões da lusofonia. Somos uma comunidade, mas estando na ilha parece que está tudo na corrente da normalidade, mas o meu contacto com Portugal e Brasil me faz ver que ainda falta muito para que haja uma comunidade plena e que a literatura poderá contribuir e, de que maneira, para que haja, de facto, esta comunidade. Por outro lado, os contatos com outros povos e países dá-nos a certeza de que, nos final das contas somos todos humanos e uma literatura que faz bem a um português, uma brasileira, faz bem também a um ou uma são-tomense. O romance “Leonor”, publicado em 2016, marca a sua estreia no panorama literário. Que temas o motivaram a escrever esta obra e de que maneira ela dialoga com a realidade são-tomense contemporânea? Quem lê as minhas obras vê que não são os livros de uma história, mas sim livros de várias histórias. Quanto à Leonor, o que mais me motivou a escrever, foi o vazio que se manifestava em mim- eu sentia que tinha várias histórias sobre as realidades de STP que não eram contadas, por isso eu decidi contá-las. A obra é centrada em três protagonistas: a Leonor, o Padre António e o Emanuel. A Leonor foi inspirada em minha mãe que se chama Leonor e, tal como ela, a Leonor do livro é uma mulher comum são-tomense, cheia de virtudes e com alguns defeitos. Padre António é um padre que assume a sua posição de homem, feito de carne e osso, admite as suas fraquezas humanas, mas o reconhecimento desta condição humana faz com que ele tenha a plena consciência de que deve ser muito firme para não ceder às paixões da carne, porque como padre, tinha uma missão maior. O Emanuel era um jovem otimista e idealista, características que faltam em muitos jovens nacionais. Entretanto, para além dessas três personagens protagonistas desta história de amor que teve um final feliz, havia ainda outros personagens sobre tudo os da família da Leonor que também contribuíram para colorir o livro. Este romance tem uma história de amor como o seu pano de fundo, mas se comunica com a sociedade são-tomense em seus aspetos históricos, sociológico, cultural, religioso, filosófico e psicológico. Leonor é uma obra que está totalmente conectada com a realidade são-tomense, caracterizando a sociedade como ela é e, através de alguns personagens, como ela deveria ser. A sua produção teatral, através da companhia “DEMOS”, aborda temas sociais como a igualdade de género e o combate à pobreza. Como o teatro e a literatura se complementam na sua missão de intervir e transformar a sociedade? Eu sinto que nem a literatura, nem o teatro tem contribuído o suficiente para a transformação da sociedade são-tomense. E pelos sinais, ainda falta muito para que isto aconteça efetivamente. Há sobejos sinais de que “a ceara é grande e, a mão-de-obra é pouca”. A literatura e o teatro ainda tem sido coisas das elites. As produções são dirigidas para as elites nos sentido de manter o seu “ status quo”. A massa social, o povo, ignora por completo as importâncias dessas artes sublimes (literatura e o teatro). Os livros são ignorados pelas massas e o teatro transformador não chegam aos olhos do povo. Os teatros que chegam às massas são somente os lúdicos. Todavia, tem havido sinais motivadores. O meu grupo teatral “DEMOS”tem um espaço televisivo e um espaço onde realizamos espetáculos ao vivo. Esses dois espaços fazem com que o público tome contato com as nossa peças que, têm como missão levar à reflexão sobre os temas sociais como a igualdade de género, o combate à pobreza e outros mais. Eu que escrevo a grande maioria das peças teatrais do “DEMOS” e esta prática quase que inaugura em São Tomé e Príncipe a produção escrita de textos para o teatro. Antes o grupos basicamente trabalhavam somente recorrendo ao improviso, mas hoje o grupo “DEMOS” já interpreta o excerto do meu livro, contos e histórias escritas por mim. Há um género de teatro que quase que não era praticado na nossa sociedade, sobretudo para os espetáculos longos, que é o monólogo, mas hoje já realizamos espetáculos longos de uma hora com monólogos apresentados, sobretudo pelo atriz Adozia Cristo, cujo nome artístico é Saco de Boxe. Ela é uma atriz com capacidades extraordinárias e é apelidada por alguns de “a menina dos monólogos”. Podemos dizer que é pelas mãos dela que o público são-tomense ficou a conhecer e a muito gostar do monólogo, enquanto um género de teatro. Há um facto relevante verificado no nosso grupo que tem a ver com o multiculturalismo. No grupo “DEMOS” temos também a colaboração de pessoas de outras nacionalidade, o que tem sido bastante enriquecedor, a título de exemplo recentemente realizamos um espetáculo de monólogo com um texto dramático escrito por mim, intitulado “As declarações do adeus” que foi apresentado Daniel Romero, como nome artístico “Mona. Ele é espanhol, reside em São Tomé como cooperante, mas conseguiu apresentar um monólogo de 50 minutos de uma forma comovente, arrepiante e prender a atenção do público até aos último minuto. Acredito que a relação entre a literatura e o teatro gozam de uma melhor saúde que antes e, que este esforço para que continue havendo a complementaridade entre essas duas áreas deve continuar para o bem do nosso país e, talvez de toda a humanidade. A sua mais recente obra, “O branco e a preta” (2025), editada pela In-Finita Editorial, parece continuar um percurso de reflexão sobre identidade e convivência. Que mensagem pretende transmitir com este romance e como ele se insere na sua evolução como escritor? Como disse, o meu livro não é um livro de uma mensagem, mas sim de várias mensagens. Uma das mensagens que pretendo transmitir com este livro é que o colonialismo deixou marcas, muitas ruins e outras boas. Hoje o facto de termos uma sociedade multicultural é por causa do colonialismo e isto tem contribuído para que tenhamos um repertório cultural muito rico. Por outro lado, a falta do investimento social, a profunda desigualdade, o racismo institucional, a exploração do homem pelo homem, a necessidade que os colonos tinham de dividir para reinar são marcas que ainda afetam negativamente a nossa sociedade. Mas apesar disto, o amor pode ser uma força unificadora, embora nem sempre capaz de ultrapassar todas as barreiras. O amor não tem cor, mas pode ser impedido pela cor, de ser vivido. Há uma outra grande motivação por detrás da escrita deste livro que é a necessidade de termos e vermos as nossas histórias a serem contadas por nós. Os factos poderão ser os mesmos, mas uma história contada pelo caçador jamais será contada da mesma forma pelo leão. E o mundo clama por mais histórias contadas pelos leões. Em relação à minha evolução como escritor, para quem já leu outros meus livros anteriores, dá conta, de facto, que houve um aumento de maturidade enquanto escritor. Eu já tenho quatro romances (Leonor, Nós temos sonhos, As curvas da vida e este último O branco e a preta), mas considero este o mais bem escrito, fruto de várias críticas recebidas dos leitores dos livros anteriores, sobretudo no que concerne aos ligeiros erros ortográficos. Mas devo dizer que a In-Finita Editorial também foi fundamental neste processo, não se preocupando somente em publicar mais um livro, mas ainda em publicar algo com qualidade. Um nome que devo referir também é do escritor Albertino Bragança que é o Presidente da UNEAS - União Nacional dos Escritores e Artistas são-tomenses. O senhor é um exímio conhecedor da Língua Portuguesa e neste livro eu pude contar com a sua colaboração enquanto revisor. Escrever já é um trabalho gigante e, escrever com qualidade é pior ainda, sobretudo para uma pessoa como eu que não vem de um meio literário. Eu sou dos primeiros de todos os tempos, da minha família toda a ter um curso superior. Em casa, os únicos livros que conheci eram duas Bíblias Sagradas, uma forrada e a outra de capa preta. Comecei a ler já na adolescência, não estou rodeado de amigos, familiares e pessoas que consigam fazer críticas construtivas e, não por culpa delas. Este livro trouxe-me até a 95ª Feira do Livro de Lisboa e, a responsável da editora, a estimada amiga Adriana Mayrinck, fez um comentário, com o seu rosto feliz, dizendo que eu era o seu autor com mais livros vendidos na Feira. Eu não podia ouvir um melhor comentário que este. Conheci a Adriana ainda neste ano pela Dyandreia que é a presidente do grupo “Redes Sem Fronteiras”, uma pessoa que eu tenho muita estima e, hoje, temos já um forte laço de compromisso profissional. Uma boa editora e, sobretudo, um bom revisor não é tudo, mas é muito importante para um escritor como eu que nunca teve um curso de escrita. Por tudo isto, tenho a plena consciência do longo caminho que tenho de percorrer para atingir a plena maturidade enquanto escritor. Assumo esta missão com a consciência plena de que o caminho faz-se caminhando. Participou em coletâneas e revistas literárias em Angola e no Brasil, reforçando uma rede criativa entre autores africanos e lusófonos. Que importância atribui à circulação dessas vozes literárias no fortalecimento da literatura africana de língua portuguesa? Essas experiências são de elevadas importâncias, porque com elas reforçam a consciência dos valores comuns que nos norteiam enquanto humanos e escritores, sobretudo para mim que sou de um arquipélago com um tamanho minúsculo, ter contatos e participações juntos com outros escritores serve como uma força animadora para sabermos que não estamos sozinhos e abre também as possibilidades para que as nossas obras sejam conhecidas nos outros países. Entre o direito, o ensino e a escrita, a sua obra revela um compromisso ético com a palavra e com o ser humano. Que papel acredita que a literatura desempenha hoje em São Tomé e Príncipe na construção da consciência social e cultural do país? A literatura desempenha, ou melhor, deveria desempenhar um papel fundamental na construção e da manutenção da consciência social e cultural de São Tomé e Príncipe. Parece que no mundo todo e, em particular no meu país o sentido da consciência social dos cidadãos está em crise e, estamos a enfrentar uma crise cultural aguda. A literatura deveria ser o despertar e o resgatar do consciência social e cultural. A literatura poderia ser a mesa onde todos nós que desejamos viver juntos poderíamos saborear dos valores que nos levariam a ter uma melhor consciência social e uma maior defesa daquilo que consideramos da nossa cultura. Atualmente, a literatura não tem desempenhado o papel que deveria desempenhar, não tem havido escritores em quantidade e, em qualidade que escrevam as diversidades de assuntos que possam efetivamente levar a sociedade à mudança necessária. Quando há poucos escritores é mais fácil a literatura falhar com os seus objetivos, por isso, seria bom que houvesse mais escritores a nível nacional para que possamos formar uma corrente suficientemente forte para que a mesma possa exercer o seu verdadeiro papel que é de manter ativa a consciência social dos cidadãos e preservar as culturas dos povos. Ígor Lopes
- João Morgado encerra a primeira edição da Fliporto Portugal com reflexão sobre Camões, Nabuco e o futuro da lusofonia
Fotos: Agência Incomparáveis O escritor português João Morgado foi o responsável por encerrar a primeira edição da Festa Literária de Pernambuco - Fliporto em Portugal, que decorreu entre 22 e 25 de outubro, no Mosteiro de Leça do Balio, sede da Fundação Livraria Lello, em Matosinhos. A convite de Antônio Campos, presidente do Instituto Fliporto no Brasil, o autor protagonizou um momento alto do festival com uma intervenção profundamente literária e politicamente reflexiva, sob o tema: “Nabuco e Camões: dois visionários da lusofonia”. Ao lado do próprio Antônio Campos, ex-presidente da Fundação Joaquim Nabuco e grande especialista da sua obra, João Morgado traçou um paralelo entre o poeta português Luís de Camões e o pensador brasileiro Joaquim Nabuco, realçando o que os separa: três séculos e dois continentes, mas, sobretudo, aquilo que os uniu: uma visão de futuro para a língua portuguesa como um território comum, feito de humanidade, ética e pertença cultural. Recordemos que Nabuco foi o grande defensor do abolicionismo no Brasil. Na sua intervenção, o escritor destacou que “Camões deu-nos uma língua; Nabuco deu-nos uma visão”, sublinhando que, para o intelectual brasileiro, “Os Lusíadas” não eram apenas a epopeia de um império, mas um património literário e moral que também pertencia ao Brasil, e que projetava a língua portuguesa como ponte de civilização, não como herança colonial. “Nabuco entendeu que a língua portuguesa podia ser, ao mesmo tempo, uma herança e um destino. Nabuco não quis apagar o passado, quis transformá-lo em diálogo. Foi um percursor da Lusofonia”, disse. Com ironia e atualidade, João Morgado desafiou os presentes: “A questão que nos fica é: nós honrámos essa visão? Ou deixámos que ela se perdesse no caminho?”. A intervenção terminou com uma poderosa evocação do crescimento geopolítico do português, hoje falado por mais de 270 milhões de pessoas, lembrando que “a profecia de Nabuco cumpriu-se: o português tornou-se uma língua global, uma língua de futuro”. Além da sua participação no painel sobre Camões e Nabuco, João Morgado apresentou a nova edição do clássico da poesia brasileira “Livro Geral”, de Carlos Pena Filho, agora republicado pela editora “Novembro”. Numa leitura sensível e cativante, o autor destacou a singularidade lírica e visual de Pena Filho, escolhendo dois poemas marcantes: Azul e Testamento do Homem Sensato, que comoveram o público presente. “Este é um poeta que pintava com palavras, cuja poesia azul atravessa o Atlântico e continua a tocar corações portugueses e brasileiros”, referiu Morgado. A primeira edição internacional da Fliporto Portugal, que celebra 20 anos em 2025, afirma-se assim como uma plataforma essencial para o reforço dos laços literários e culturais no espaço lusófono, unindo autores, leitores e instituições dos dois lados do Atlântico. A participação de João Morgado, reconhecido pela sua escrita histórica e sensibilidade humanista, reforça a relevância do evento enquanto espaço de pensamento e criação partilhada, que agora chega a Portugal. Ígor Lopes
- Reflexões II - O espaço é infinito
Einstein lembrava que “o espaço e o tempo são modos pelos quais pensamos, não condições nas quais vivemos” . Talvez por isso o espaço entre as pessoas diga tanto sobre o que somos. No universo, tudo se expande: galáxias se afastam, estrelas nascem e morrem, e a luz viaja incansável. Também nós, em nossas pequenas órbitas humanas, oscilamos entre o desejo de aproximar e o medo de perder o próprio eixo. O brasileiro, por exemplo, nasceu com o dom da aproximação. Encosta o ombro, o braço, o riso. Gosta de sentir o outro perto, talvez porque aprendeu, desde cedo, que calor humano é mais confiável que previsão do tempo. Na fila do banco, puxa conversa; no bar, divide o petisco; na praia, arma a barraca a vinte centímetros da sua — e ainda pergunta se quer uma cerveja. É o afeto que transborda, feito maré. Do outro lado do mundo, o japonês vive o oposto. Fala baixo, respeita o espaço, mede as palavras e as distâncias. Não é frieza — é respeito. Como quem entende que o silêncio também é forma de convivência. Enquanto nós achamos que estar junto é misturar, eles parecem saber que estar junto também pode ser deixar o outro respirar. E entre um extremo e outro, o planeta vai girando. Uns se tocam para se entender, outros se afastam para se compreender. No fundo, todos buscamos o mesmo: um jeito de caber no mundo — e no coração dos outros — sem invadir demais, sem ficar de fora. Talvez o segredo esteja aí: saber quando é hora de se aproximar e quando é hora de dar espaço. O universo, afinal, também se expande e se contrai. E nós, pequenos cosmos de carne e emoção, fazemos o mesmo — à nossa maneira, no nosso ritmo, no nosso idioma de abraços e silêncios. No Brasil, o ritual do encontro é quase uma dança: um beijo, dois, às vezes três, um abraço que dura um segundo a mais do que o necessário. É um afeto que se mede em centímetros. Na mesa, os pratos se misturam, os copos se confundem, e o calor humano é tempero. Falar alto, aqui, tornou-se hábito — às vezes por alegria, às vezes por descuido. Talvez porque confundamos presença com volume. Queremos tanto ser ouvidos que esquecemos de escutar. E o silêncio, esse gesto de atenção, vai ficando raro como sombra ao meio-dia . Mas ele existe — e quando é verdadeiro, o silêncio também pode ser ouvido. Saint-Exupéry, em O Pequeno Príncipe , sussurrou que “o essencial é invisível aos olhos.” O espaço entre nós é exatamente esse invisível essencial — o intervalo onde cabem o respeito, a delicadeza e a escuta. Na praia, por exemplo, a s barracas se encostam, as conversas se misturam, a bola de frescobol passa cruzando entre toalhas e risadas. O cheiro do protetor solar se mistura ao do milho verde e da maresia. Um desconhecido oferece uma cadeira, outro compartilha o guarda-sol. A areia parece território coletivo, e o mar, um convite para se pertencer. Do outro lado do mundo, nas praias do Japão, o cenário é outro. As famílias se organizam em pequenos círculos, discretos, respeitando o espaço do vento. Há silêncio entre as ondas, e até o mar parece falar baixo. Ninguém invade o território alheio — não por frieza, mas por respeito. O espaço é uma forma de gentileza. E, sobre as saudações, Na Índia, o gesto de juntar as mãos em prece, o namastê, é o reconhecimento da divindade no outro. Não há toque, mas há presença. É como dizer: “vejo você”, sem precisar provar com a pele. Na França, um beijo rápido em cada bochecha , como na minha terra natal, Argentina. Na Itália, o abraço é teatral, cheio de gestos, como se o corpo inteiro participasse da conversa. Na Rússia, o aperto de mão é firme — porque confiança se demonstra na força. Nos países nórdicos, o cumprimento é breve, o espaço respeitado, mas o olhar sincero: afeto contido, não ausente. O curioso é que todos esses rituais falam da mesma coisa: o desejo humano de se conectar. Uns o fazem pela distância, outros pela proximidade. É uma questão de temperatura emocional — uns vivem sob o sol, outros sob a neve. Talvez seja isso: o espaço entre as pessoas é como o clima. Onde falta calor, procura-se abrigo. Onde sobra calor, busca-se sombra. E, em algum ponto do planeta, sempre há alguém estendendo a mão — seja para abraçar, para reverenciar, ou apenas para deixar o outro passar. Mas, apesar de todos esses costumes, somos humanos antes de sermos culturais. Cada pessoa carrega seu próprio mapa de distâncias. No Brasil, há quem prefira o sossego, o canto silencioso do próprio espaço. E no Japão, há quem busque o calor de uma mesa cheia e de vozes misturadas. Fernando Pessoa, por sua vez, dizia que “viver é ser outro.” Talvez por isso precisemos tanto do espaço: ele é o intervalo onde o outro pode existir sem ser engolido pelo nosso barulho, e onde nós também podemos respirar. Porque no fim, o verdadeiro ritual é esse: o de existir junto, cada um com seu modo de ocupar o mundo ! Susi Sielski Cantarino BE HAPPY! www.susicantarino.com www.metara.com.br 21 99998 7283 Susi Sielski Cantarino Artista visual, produtora, diretora da Galeria Metara
- Quero Tempo Parado e Poder Reviver!
Estreou Alma no teatro Ziembinski. O espetáculo é um projeto da Multifoco Cia. de Teatro O texto de Ricardo Rocha e Ayana Dias é poético, emotivo, sensível, utiliza linguagem metafórica, e apresenta uma crítica ao tempo acelerado em que vivemos. O texto clama pelo tempo parado, em que podemos reviver, lembrar nossos antepassados, e reativar memórias e lembranças. Ao defender um tempo desacelerado, os autores deixam transparecer o valor das tradições, das memórias, dos afetos, que se perdem ou ficam vazios de conteúdo no mundo contemporâneo da sociedade da informação, cada vez mais frenético e acelerado. E como o teatro é resistência, é no palco que se clama por um tempo parado. O texto nos apresenta Alma, uma mulher que vive sem tempo, e tem uma rotina acelerada. Certo dia, ela se deu conta que sua alma, a metade de si, ficou pra trás. Ela então desacelerou para conseguir reencontrar consigo mesma e a sua metade. A criativa e bem projetada cenografia criada por Ricardo Rocha remete a um lugar de habitar. Ela é constituída por um portal azul com uma estrutura vermelha que se transforma em portas e janelas. Utiliza como materiais o metalon e o compensado naval. Toda a ação das três atrizes (Bárbara Abi-Rihan, Clarissa Menezes e Viviane Pereira) ocorre nessa estrutura cenográfica. Elas interpretam de forma adequada, e emocionam. Dominam o texto, apresentando diálogos intensos e equilibrados; dominam o palco, se movimentando intensamente, e realizando todo um conjunto gestual acrobático na estrutura cenográfica. São manobras complexas! Elas sobem e descem, se dependuram, abrem e fecham portas e janelas, rodam a estrutura, e, ao final, a decoram com diversos vasos de plantas, e inserem um balanço. Realizam um verdadeiro espetáculo de gestos e movimentos intensos. Portanto, uma atuação de qualidade e digna de elogios. A direção de Ricardo Rocha deixa transparecer a intensa interação entre o elenco e a cenografia, sendo essa relação que dá o tom da apresentação. Os figurinos criados por Flávio Souza são simples, de bom gosto, coloridos e facilitam a movimentação da atrizes. A iluminação criada por Ricardo Rocha é boa, e contribui para realçar a interpretação das atrizes de suas personagens. As composições criadas por Vinicius Mousinho são melodiosas e apresentam uma boa sonoridade. Alma é um espetáculo cujo texto apresenta uma reflexão sobre a aceleração do tempo; três atrizes competentes e com uma atuação de qualidade; e uma cenografia criativa em que o elenco interage o tempo integral com a mesma. Excelente produção cênica! Crédito das fotos: Daniel Debortoli Alex Varela
- De Consultora de Uma Grande Empresa à Catadora de Lixo: Processo de Enlouquecimento
Estreou Choque! Procurando Sinais de Vida Inteligente no teatro Copacabana Palace. O texto de Jane Wagner, com intervenções de Gerald Thomas, é ficcional, crítico, reflexivo, humanista, humor ácido, e contemporâneo. Apresenta uma profunda reflexão sobre a condição humana, suas ambições, suas mazelas e suas contradições, e a incessante busca de empatia, conexão e sentido no meio da confusão cotidiana da humanidade. Danielle Winits tem uma atuação de qualidade e merecedora de elogios. Ela interpreta diversos personagens de forma correta e adequada, sobretudo a catadora de lixo, e emociona. Ela domina o texto, passando com uma retórica eloquente, com uma linguagem acessível e fácil assimilação; bem como o palco, se movimentando por ele de forma intensa, preenchendo todos os espaços, se jogando ao chão, subindo e descendo escadas, descendo na plateia, entre outras ações, que deixam transparecer o dinamismo da atuação da atriz. Estabelece com o público uma boa comunicação. Ao final, nos pareceu enlouquecida por nao ter conseguido erradicar a fome do mundo. Portanto, atuação deferida e merecedora de aplausos. A direção de Gerald Thomas focou no texto, e deixou a atriz livre para realizar sua brilhante apresentação. A cenografia volumosa em nada tira a liberdade de Danielle. Os figurinos criados por João Pimenta são de bom gosto, criativos e facilitam o deslocamento da atriz pelo palco. No nosso ponto de vista acreditamos que faltou uma melhor caracterização do traje da catadora de lixo. Está pouco sujinho! Pouco esparrafado! A cenografia de Fernando Passetti é sofisticada, apresenta diversos elementos cenográficos espalhados pelo palco, como sacos de lixo, pedaços de espuma, e escadas, e é criativa. Nos pareceu um pouco entulhado o ambiente! Visualizamos ainda no palco elementos da arte pop de Andy Warhol, que aparecem na forma de latas de sopa Campbell’s, bem como nos quadros de Rinaldo Escudeiro. Boa sacada! A iluminação criada por Wagner Pinto é boa, bonitos desenhos de luz, e contribui para realçar a interpretação da atriz de suas personagens. A trilha sonora criada por Gerald Thomas é agradável, e apresenta uma boa sonoridade. A qualidade do texto ganha realce num espetáculo marcado pelo equilíbrio e harmonia entre as criações artísticas - direção, atuações e concepção visual. Ótima produção cênica! Crédito das fotos: Dalton Valério Alex Varela
- Entrevista: Rafael Renato Pereira - Consultor em Gestão de Bares e Restaurantes
Formado em Marketing pela UNESA, com Pós-graduação em Administração de Empresas e Gestão de Bares e Restaurantes pela PUC-Rio. 1 — Como surgiu sua trajetória na consultoria gastronômica e o que te levou a escolher o universo dos restaurantes? Após me formar em marketing, tive uma breve vivência em Londres para aprimorar a língua inglesa e, retornando ao Brasil, iniciei minha pós em administração de empresas e ingressei no grupo Botequim Informal, aumentando ainda mais meu interesse pelo mercado. Depois fiz a pós em gestão de bares e restaurantes criada pelo Pedro Delamare (proprietário do grupo Gula Gula). Passei 4 anos no grupo Conversa Fora, também atuei no Hotel Lagune do grupo francês GL e hoje sou gestor do Grupo Mandarim há mais de 2 anos. 2 — Quais são os erros mais comuns que você encontra quando chega para orientar um restaurante? Gestão, administração, controles e profissionais qualificados para alto segmento. 3 — Na sua visão, o que faz um restaurante se tornar marcante e competitivo hoje em dia? Identidade própria, atendimento de excelência e um cardápio bem elaborado e executado. 4 — Como equilibrar gestão financeira, qualidade do cardápio e experiência do cliente? Tendo todos os controles, tudo se torna muito mais fácil. Quando não se tem controle no topo da pirâmide, todos os outros pilares estão fadados a ruir. 5 — Para quem está abrindo um restaurante agora: qual o primeiro passo que nunca pode ser ignorado? Estudar o mercado, concorrentes, público-alvo. Saber exatamente quem você quer atingir e aonde quer chegar. Entrevista exclusiva para a Revista do Villa Delcio Marinho & ChatGPT #Gastronomia #RevistaDoVilla #Consultoria #BaresERestaurantes #GestãoGastronômica Delcio Marinho
- Iza é coroada na Imperatriz Leopoldinense e o Carnaval 2026 já começou a brilhar
A quadra da Imperatriz Leopoldinense celebrou uma noite inesquecível com a coroação de IZA como rainha de bateria para o Carnaval 2026. Em dourado reluzente e recebida com o carinho da comunidade, a artista marcou seu retorno à escola com emoção, brilho e muito samba no coração. O Programa do Villa, com realização de Luiz Villarino, fez uma cobertura especial do evento, registrando cada detalhe e trazendo entrevistas que mostram toda a vibração dessa grande festa da Leopoldina. As imagens da celebração foram captadas por Silas Marques, da Insigne TV, com destaque para o enredo e o clima de pré-Carnaval que já toma conta da Cidade do Samba. Leandro Vieira, carnavalesco da Imperatriz Leopoldinense, conduz o enredo do Carnaval 2026 com sua visão artística reconhecida nas grandes vitórias da escola. Imagem: Silas Marques (Insigne TV / Programa do Villa). Criação de conteúdo digital: Delcio Marinho & ChatGPT. Yago Savalla, jovem que viralizou interpretando Ney Matogrosso, foi convidado para desfilar no Carnaval 2026 pela Imperatriz Leopoldinense no enredo em homenagem ao artista. Imagem: Silas Marques (Insigne TV / Programa do Villa). Criação de conteúdo digital: Delcio Marinho & ChatGPT. Créditos Criação de conteúdo digital: Delcio Marinho & ChatGPT Imagens: Silas Marques – Insigne TV / Programa do Villa Delcio Marinho & ChatGPT Delcio Marinh o
- Peter — o corpo que canta, o som que liberta
Sua voz canta por elas, por eles, por elus, e por todos que buscam a liberdade de ser quem são. Sua arte é resistência em cada nota, em cada passo, em cada sonho que ousa realizar. A próxima performance já tem data marcada: 14 de novembro , em um tributo à Liniker . Há artistas que sobem ao palco para entreter, e há os que o fazem para transformar. Cantor, ator e performer, Peter faz das próprias vivências matéria-prima de uma arte que grita doce ou vorazmente por liberdade. Negro, não binário e periférico de São Gonçalo, ele decidiu carregar em sua presença algo de sagrado, de encantamento ancestral. Um caminho que exige coragem, fé e reinvenção constante. A história começou cedo. Aos seis anos, Peter já fazia da igreja o seu primeiro palco. Foram anos entre corais e celebrações, até que surgiu o desejo de profissionalizar-se e transformar em devoção em ofício. Passou a integrar o Coral HERMOM , gravando álbuns, participando de turnês e programas de TV. Mais tarde, criou e regeu o Coral Black Melody , revelando um talento natural para conduzir vozes e harmonias. Em 2018, subiu ao palco do Prêmio Multishow como tenor no coral da cantora IZA . A transição para o teatro musical foi um salto e um reencontro. Peter descobriu que sua arte não cabia apenas na música: precisava também do corpo, da expressão, da cena. Vieram então produções como Ayrton Senna – O Musical , Rent , Vira-Latas , Assassinas e o aclamado Benjamin, o Palhaço Negro , espetáculo que lhe rendeu indicação ao prêmio de Ator Revelação pelo portal Musical.Rio . Mais recentemente, encantou plateias em montagens como Nóia – Um Musical Moribundo (SESC Vila Mariana), Rio Uphill , primeira produção musical brasileira concebida em Nova York e Menino Mandela , onde deu vida ao protagonista de uma história que une infância, resistência e legado. Criador do Projeto CORPO , série multimídia de fotos, vídeos e performances que celebram o corpo negro como “corpo chave, corpo mel e corpo ouro”, Peter também estreou seu primeiro show solo, Canto das Águas , no Teatro Municipal de São Gonçalo. Apresentou-se ainda no projeto Toda Terça um Jazz , no Bourbon Street Music Club, em São Paulo, com um tributo vibrante a Liniker e Elza Soares . “Liniker, pra mim, traz a ideia da possibilidade. Olhar pra ela e perceber quantos aspectos temos em comum: raciais, sociais e afetivos, me faz querer prestar essa homenagem em vida. Ter a oportunidade de fazer isso é um ato de humildade e gratidão. É um sonho que estou realizando.” Atualmente, Peter trabalha em diversos projetos e prepara novidades. Entre elas, o álbum “Ouro” , ainda em fase de captação, reunindo 11 faixas de Pop, R&B e Black Music para falar de amor, afeto e autovalorização. “A liberdade é nosso bem mais precioso e inegociável. Minha arte expressa um desejo profundo de voar livremente e alcançar lugares inimagináveis. Essa nova fase está apenas começando. No meu álbum, quero cantar sobre amor, saudade, vivência, sobrevivência. Tudo pra mim vira música. Uma das minhas marcas é ser libidinosa — coloco minha verdade pra fora e deixo fluir o misto de sentimentos que nos fazem humanos”, completa a artista. Tributo a Liniker com Peter 📅 Data: 14 de novembro 🕡 Abertura: 18h30 🎤 Show: 20h30 📍 Local: Bar Caju — JW Marriott São Paulo 📫 Endereço: Av. Nações Unidas, 1440 Nando Andrade
- Flora Gil é a estrela da retrospectiva que Junia Machado apresenta na Care Body & Soul Ipanema, em mais uma edição de sua Boutique Pop Up, nos dias 23 e 24
Coletânea Mix dá sequência à coleção Love, que teve participação de Flor Gil Flora Gil clicada por Nana Moraes em Santa Teresa - imagens para baixar aqui F lora Gil é a estrela da retrospectiva que Junia Machado apresenta na Care Body & Soul Ipanema , na Rua Barão de Jaguaripe, em Ipanema, em mais uma edição de sua Boutique Pop Up, nos dias 23 e 24, das 10h às 20h . Clicada por Nana Moraes no Estúdio Retrato Fotográfico , na subida de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, a retrospectiva teve início em maio com a coleção “Love”, que contou com a participação de Flor Gil, clicada por Lucca Liberal, em Nova York. Nesta edição de outubro no Care, em Ipanema, no Rio, a Coletânea Mix, apresenta, em seis cliques, diferentes coleções da trajetória, misturadas em looks contemporâneos que imprimem a personalidade marcante, casual e sofisticada de Flora. Serviço Dias 23 e 24 de outubro Na Care Body & Soul Ipanema Rua Barão de Jaguaripe, 289 Ipanema - Rio Das 10h às 20h Tels : (21) 3813-0560 e (21) 9 9295-5505 Para saber mais Junia Machado Instagram Alex Varela










