Sem Energia, Sem Sociedade: a Falha que Pode Parar o Século XXI
- André Aguiar
- há 4 dias
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A queda de energia que atingiu Portugal e partes da Espanha nesta semana revelou uma fragilidade estrutural que governos e empresas continuam subestimando. Em minutos, vimos um colapso funcional: hospitais em alerta, mobilidade urbana paralisada, redes de comunicação fora do ar e o comércio em suspensão. Não se trata de um caso isolado. O Brasil já enfrentou crises similares — como o apagão do Amapá em 2020 —, e os riscos continuam latentes. Em um mundo cada vez mais digital e automatizado, a dependência absoluta da energia elétrica tornou-se um ponto cego estratégico.
Tenho observado que os debates sobre resiliência energética ainda são tímidos diante da complexidade do problema. O caso europeu deixou evidente como a sociedade atual está acoplada a um ecossistema elétrico frágil. Segundo dados da União Europeia, redes móveis entram em colapso após poucas horas sem fornecimento. No Brasil, projeções da Abradee indicam que menos de 40% das cidades possuem infraestrutura robusta para emergências prolongadas. Isso significa que basta uma falha — seja climática, técnica ou cibernética — para que serviços básicos entrem em pane e a ordem social entre em estado crítico.
A experiência portuguesa reforça o alerta: a comunicação digital depende integralmente da eletricidade. Durante o apagão, redes móveis e servidores ficaram inoperantes, comprometendo até serviços de emergência. No Brasil, onde a conectividade é desproporcionalmente concentrada em grandes centros, o impacto seria ainda mais desigual. Além disso, o comércio se mostra vulnerável: terminais de pagamento, caixas eletrônicos e sistemas de estoque são imediatamente afetados. Em Bizkaia, na Espanha, mais de 45 mil trabalhadores do varejo foram atingidos pela paralisação. Estamos, literalmente, a uma tomada de distância da estagnação econômica.

Outro ponto crítico é a mobilidade urbana. Em Madri, semáforos desligados provocaram acidentes e o metrô foi paralisado. No Brasil, onde a logística urbana já enfrenta gargalos estruturais, um cenário semelhante teria impactos exponenciais. A saúde pública também não escapa. Mesmo com geradores, hospitais operam sob tensão — como vimos no Amapá. UTIs, exames e conservação de vacinas dependem de fornecimento estável. Por fim, há a questão da segurança: a escuridão facilita o crime, reduz a vigilância eletrônica e amplia a sensação de vulnerabilidade, especialmente em áreas já afetadas por baixos índices de segurança pública.
E Agora?
A transição energética global não pode ignorar a resiliência. Precisamos repensar desde as infraestruturas críticas até os hábitos domésticos. A descentralização da produção de energia, o fortalecimento de redes autônomas e o preparo da população para emergências devem ser tratados como políticas de Estado. A pergunta que fica é: estamos construindo uma sociedade inteligente — ou apenas mais dependente?
André Aguiar

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