Zé Ketti ganha musical que exalta o samba e a memória preta nas ruas do Rio de Janeiro
- Alex Gonçalves Varela
- 1 de jul.
- 4 min de leitura
Espetáculo inédito “Zé Ketti, Eu Quero Matar a Saudade!” resgata a vida do compositor de “A Voz do Morro”; projeto também inclui oficina de dança gratuita

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Um dos maiores nomes do samba carioca vai ganhar o tributo que merece. Com estreia no dia 01 de julho, no Teatro Municipal Ziembinski, o musical “Zé Ketti, Eu Quero Matar a Saudade!” chega aos palcos do Rio de Janeiro com o objetivo de reacender a memória e a importância do compositor negro nascido em Inhaúma, autor de sucessos como Opinião, Máscara Negra, Diz que Fui por Aí e Acender as Velas. A montagem é uma celebração da cultura preta, das favelas e da força artística que moldou a identidade musical do país. Zé Ketti, Eu Quero Matar a Saudade fez, 04 apresentações em arenas populares da cidade.
Fruto de parceria entre a Associação de Amigos José Bonifácio (AAJOB) e a Companhia Teatral Queimados Encena, foi idealizado pelo ator e produtor Leandro Santanna, com texto de Cadu Caetano, direção de Márcio Vieira, direção musical de Beá Ayòóla e produção geral de Marcelo Viégas, o musical busca dar visibilidade à importância histórica e cultural de Zé Ketti, cuja contribuição ao samba e à cultura popular ainda carece de reconhecimento à altura. “Zé foi muito mais do que um compositor de sucesso — ele foi uma voz da malandragem, do protesto e da dignidade preta. A nossa missão é reacender essa memória e celebrar esse legado com o povo que construiu essa cidade”, afirma Santanna.
Além de enaltecer um nome fundamental do samba, o musical se posiciona como uma ação afirmativa no circuito teatral carioca, com um elenco diverso e ações que priorizam o acesso da população negra, periférica e LGBTQIA+ aos bens culturais. “Este musical não é só um espetáculo — é um resgate, um gesto político e poético. Queremos levar a arte para quem vive o samba no dia a dia, mas que raramente tem a chance de ver essa história no palco. É sobre democratizar, reconhecer e recontar nossa história com orgulho e arte”, reforça Marcelo Viégas.
O diretor geral, Márcio Vieira, lembra que é o momento de retirar Zé Keti do apagamento que sofreu ao passar dos anos, principalmente depois de seu falecimento, em 1999, trazendo à luz o autor das mais de 200 obras catalogadas e poucas vezes citado e homenageado. Ele diz ainda que se sentiu lisonjeado e com uma responsabilidade grande em fazer essa homenagem ao artista.
“Obviamente me sinto honrado, responsável, mas precisamos entender o que motivou esse apagamento da memória do Zé Keti, mesmo sabendo, de antemão, que um dos grandes motivadores, quiçá o maior, é o preconceito em torno do samba, da comunidade, da periferia. Não era aceito que esse ritmo que vem dos morros chegasse ao asfalto“, pontua Márcio Vieira.
O artista possui mais de 200 obras e uma das dificuldades encontradas pela direção era encaixar esse volume dentro do espetáculo, de pouco mais de uma hora, ou excluir alguma música. Desta forma, para não cair em um chamado “musical comum”, o diretor se enveredou para a dramaturgia, entendendo melhor o texto e aplicando no espetáculo.
“Nós queríamos fazer o teatro no teatro, entendendo como as músicas se encaixam no dia a dia do subúrbio e dos personagens. Tem a brincadeira da homenagem, mas virou tema de moradores de subúrbio”, analisa.
Oficina de dança: o corpo como instrumento do samba
Como parte do projeto, será realizada uma oficina gratuita de preparação corporal com base no samba, conduzida pela bailarina e coreógrafa Valéria Monã. Com três horas de duração, a atividade propõe exercícios que exploram ritmo, expressão e ancestralidade a partir da movimentação típica do samba de raiz. “O corpo tem memória, e o samba é um código afetivo e político que comunica muito além da dança. A oficina é um espaço de reconexão com essa potência”, explica Valéria Monã.
Saiba mais sobre Zé Ketti, a voz que veio do morro e ecoou no Brasil
José Flores de Jesus, o Zé Ketti, nasceu em Inhaúma e eternizou-se como um dos maiores compositores do samba nacional. Suas letras cantaram as favelas, a boemia, os amores e, principalmente, a dignidade e as lutas do povo negro carioca. Foi autor de sambas que marcaram época e participou ativamente do movimento do samba de protesto nos anos 60. Fundador do grupo A Voz do Morro, que lançou Paulinho da Viola, Zé Ketti também dirigiu o lendário Zicartola, espaço que aproximou a MPB da raiz do samba.
Apesar da relevância, seu legado ainda é pouco celebrado no teatro e na grande mídia. “Falar de Zé Ketti é falar do Rio, do Brasil e de uma identidade cultural forjada com suor, talento e resistência. Essa homenagem é urgente”, finaliza Santanna.
FICHA TÉCNICA
Elenco: Leandro Santanna, Marcelo Viégas, Clarissa Waldeck, Fernanda Sabot, Negawall, Gustavo Maya e Otávio Cassiano
Autor: Cadu Caetano
Diretor: Márcio Vieira
Diretora Musical: Beá Ayòóla
Arranjador Musical: Pedro Paulo Jr
Preparação e Arranjo Vocal: Pedro Lima
Preparadora corporal, Coreógrafa e Oficineira: Valéria Monã
Figurinista: Wanderlei Gomes
Cenógrafa: Cris de Lamare
Iluminador: Pedro Carneiro
Visagistas: Diego Nardes e Nata Di Paula
Palestrante e Assessoria vida e obra de Zé Ketti: Geisa Ketti
Músicos: Vinícius do Vale, Claudia Flauta e Eduardo Reis
Aderecista e assistente de Cenografia: Silas Pinto
Estagiária de Preparação corporal e Coreografia: Manuela Brito
Assistente de Direção e Produção: João Félix
Profissional especializado em sensibilização e acessibilidade: Vanessa Andrezza
Designer Gráfico: Emanuel Antunes
Videomaker e Fotógrafo: Caio Cezar
Intérprete de libras: Claudia Chelque
Assessoria de Imprensa: Alessandra Costa
Técnica de Luz: Tamara Campos
Técnico de Som: Leandro Mattos
Idealizador e Produção Executiva: Leandro Santanna
Coordenação Geral e Financeira: Marcelo Viégas
SERVIÇOS:
Musical “Zé Ketti, Eu Quero Matar a Saudade!”
Temporada de 01 a 30 de julho - terças e quartas
Horário: 20h - com intérprete de libras todas as quartas
Local: Teatro Municipal Ziembinski - Avenida Heitor Beltrão SN
Ingressos: R$ 40 (inteira) R$ 20 (meia)
Classificação Indicativa: 14 anos
Duração: 80 minutos
Alex Varela

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