Vive na Suíça e ensina a língua alemã. Conheça o dia a dia da brasileira Isa Felder na Europa
- Ígor Lopes
- 28 de mai.
- 6 min de leitura

Isa Felder tem 51 anos de idade, é jornalista, tradutora e professora de alemão. Vive em Olten, uma comuna da Suíça, no Cantão Soleura.
“Amo esta cidade. Por ser o centro da parte alemã, estou a 30 minutos de Zurique, a 30 minutos de Berna ou a 30 minutos de Basel. É muito prático viver em Olten”, confirmou Isa Felder, que afirma sentir-se, “atualmente, integrada”.
“Tenho a minha própria escola e escritório de tradução e, mesmo assim, ainda trabalho para duas outras instituições suíças. Como pode perceber, é uma vida bem agitada. Mas adoro o que faço”, frisou.
Sobre viver na Suíça, Isa Felder recorda que “os primeiros anos foram bem difíceis, pois eu e o meu marido não tínhamos dinheiro suficiente para pagarmos um curso de alemão para mim. Aprendi na força e na coragem. Sempre vi muita televisão alemã, ouvia muita música, li muito e tentava escrever cartas e e-mails em alemão para alguns amigos que fiz por aqui.
Porém, como tive uma grande defasagem na aprendizagem do idioma alemão, levei tempo a integrar-me e a arranjar bons amigos. Os estrangeiros estavam também na mesma situação do que eu, a tentar aprender o idioma, conseguir um emprego e se integrar. Por isso, até mesmo com os estrangeiros, foi difícil ter uma amizade sólida. Todavia, com o passar dos anos, os caminhos foram se abrindo, principalmente após estudar na Schule für Angewandte Linguistik (SAL), em Zurique. Nesta instituição, o meu alemão melhorou da noite para o dia e não só obtive o Diploma de tradutora como também ganhei excelentes amigos. Até hoje tenho contacto com quase todos os amigos que fiz na minha época académica na Suíça”.
No país helvético, Isa Felder atua como tradutora e professora de alemão e mantém uma escola de idiomas, a World Language School, além de trabalhar para duas outras instituições suíças.
Relativamente sobre a sua convivência com a comunidade portuguesa na Suíça, Isa revela ter “excelentes amigas portuguesas, inclusive, uma delas trabalha comigo na área de tradução”.
“Conhecemo-nos na SAL e a amizade perdura até hoje. Além disso, tenho muitos alunos portugueses que me procuram pelo facto de eu falar português e entender como é ser estrangeiro na Suíça. Alguns desses alunos portugueses tornaram-se meus amigos também”, comentou a nossa entrevistada, natural do Rio de Janeiro, Brasil.
Na Suíça, onde vive com o seu marido suíço e o seu “cãozinho”, Isa tem já grandes conquistas.
“Sinto-me uma pessoa abençoada, pois, nestes quase 25 anos de Suíça, conquistei excelentes amigos de várias nacionalidades: portugueses, brasileiros, turcos, suíços, italianos, espanhóis, austríacos, alemães e etc. A lista de amigos é realmente grande, assim como de nacionalidades. Na Suíça tive a oportunidade de conhecer de perto culturas que eu só ouvia falar no Brasil, o que fez-me crescer. Ser tolerante, entender a visão de mundo das pessoas oriundas das mais diversas partes do planeta é muito importante para o nosso crescimento pessoal. Além disso, conquistei uma reputação sólida neste país. Atualmente, a minha escola, a World Language School, também conhecida como WLS, é a escola oficial do consulado brasileiro na Suíça. Isto é uma honra enorme para mim, sem contar a credibilidade que esta parceria oferece à minha escola. Gostaria também de assinar uma parceria deste porte com o Consulado português, mas parece que o corpo de funcionários é menor do que o do Consulado brasileiro. De qualquer forma, quem sabe no futuro também não teremos uma parceria com o consulado luso?”, adiantou.

Para Isa Felder, a Suíça significa a sua segunda Pátria.
“No início, tudo foi muito difícil e sofrido. Pelo menos para mim, não posso falar pelas outras pessoas, já que cada um tem uma realidade totalmente diferente do outro. Eu cheguei a pensar em voltar para o Brasil várias vezes. Porém, seria muito difícil para o meu marido encontrar trabalho na minha cidade. E esse pensamento fez-me ficar. Porém, depois que consegui aprender o idioma e consegui formar-me na SAL, as portas abriram-se e tudo se tornou mágico. Sou muito grata à Suíça e aos suíços por me terem dado a chance de trabalhar lado a lado com eles tanto em escritórios de tradução como em escolas de idiomas ensinando alemão. Inclusive, muitos suíços encorajaram-me a continuar a dar aulas. Além da questão profissional, a segurança e a saúde pública ainda hoje são muito boas, principalmente se comparadas com muitos países da Europa e da América do Sul”, mencionou Isa, que revelou como foi viver nesse país europeu.
“Conheci o meu marido suíço. Tentamos viver no Rio de Janeiro, mas como ele fala muito pouco o nosso idioma, achei melhor eu me mudar para a Suíça. Deixei o meu trabalho de Assessora de Imprensa na Fundação do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) para viver ao lado do meu grande amor”, lembrou.
Sobre o futuro, Isa Felder espera ter “estabilidade e harmonia em todos os sentidos”.
“Sou uma Workaholic. O que no início parece ser maravilhoso, pode ter um lado problemático, como, por exemplo, o surgimento de problemas de saúde. Graças a Deus, até hoje, estou bem de saúde. Porém, com 51 anos, percebo que a energia já não é mais a mesma de quando comecei a dar aulas, com 35 anos. Portanto, hoje em dia, estou a tentar equilibrar mais a minha vida, com meditação, desporto e alguns momentos de lazer. Além desse equilíbrio, espero muito que a WLS alce voos maiores e consigamos nos tornar uma escola de grande porte, como uma Klubschule Migros, por exemplo”, avaliou.
Quando o assunto é a área empresarial no país, Isa confessa ser “muito difícil de empreender, não apenas na Suíça, mas em qualquer parte do mundo, quando não se tem um capital sólido”.
“No caso específico da Suíça, mesmo havendo instituições que fazem aconselhamento de como se deve criar uma empresa, falta uma base sólida de apoio, em especial ao microempresário. Neste ponto, devo dizer que o Brasil oferece excelentes serviços de apoio, aconselhamento e acompanhamento do pequeno e grande empresário. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) oferece cursos de excelência para podermos abrir uma empresa no Brasil. Este tipo de apoio, a meu entender, falta na Suíça. O apoio oferecido é muito básico, sem aprofundamento”, ressaltou Isa ao recordar os resultados obtidos na Suíça.
“Graças ao trabalho conjunto que venho fazendo junto com o meu sócio e a minha equipa de Marketing, estamos a conseguir captar muitos alunos lusófonos. E a qualidade do serviço está-se a espalhar a tal ponto que, embora a ideia inicial fosse apenas ter alunos lusófonos, de uns tempos para cá começamos a ter alunos de outras nacionalidades, como marroquinos, dinamarqueses e até japoneses. Muitos deles trabalham em bancos e, quando encontram algum aluno da WLS que também trabalham no mesmo banco, os alunos WLS acabam por indicar a escola. Aos poucos, estamos a abrir as portas para outras nacionalidades”, referiu.
Isa Felder acredita que a Suíça oferece ao público estrangeiro, em termos de qualidade de vida e experiências, pontos muitos positivos, já que a “Suíça é um dos países mais lindos do mundo”.
“Já visitei cerca de 30 ou mais países, mas a Suíça está no meu top 10. A qualidade de vida aqui é sensacional. As pessoas cuidam da saúde. (…) Nas cidades há vários clubes e associações, o que faz com que os laços de amizade sejam estreitos e possam se manter por vários anos. A única coisa que percebo é que na Suíça, embora existam vários tipos de atividades para o corpo e a mente, o trabalho é de certa forma mais estressante do que no Brasil”, salientou, que não esconde o coração do imigrante ao viver no país helvético.
“Creio que muitos estrangeiros acabam se sentindo divididos entre o país de origem e a Suíça. O coração bate por ambos os países. Além disso, há um fenómeno muito interessante que venho observando quando converso com os estrangeiros que é uma certa perda de identidade. Perda de identidade no sentido de que quando estamos no país de origem ouvimos, muitas vezes, frases como: "ah, chegou a Suíça". Ou então frases como: "ah, ela já não sabe mais falar o português porque virou suíça", e coisas do género. Enquanto que aqui ouvimos sempre que somos estrangeiros. Pode ser da maneira mais delicada que for, mas sempre ouvimos, seja nas entrelinhas ou diretamente, que somos estrangeiros, mesmo que tenhamos adquirido o passaporte suíço. E é este jogo, se é que posso denominar assim, que acaba fazendo com que alguns estrangeiros entrem em crise existencial e não se sintam mais parte nem de um país e nem de outro. É como se algumas pessoas caíssem num limbo. (…) Confesso que vivo as mesmas situações, mas vejo que as pessoas não fazem por mal e nem com intenção de me magoar. Portanto, levo na desportiva. E o meu coração hoje em dia está dividido. Na Suíça, sinto falta do Brasil. No Brasil sinto falta da Suíça. Porém, nada que me tire o sono ou o meu humor que, de acordo com os alunos, é contagiante”, finalizou Isa Felder.
Ígor Lopes

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