Desde 2006, todos os anos participo da Vinitaly, principal feira de vinho na Itália, o concurso e exposição internacional de vinhos acontece em Verona, a terra de Romeu e Julieta, mas a região é o Vêneto - local de onde mais saíram imigrantes para o Brasil, por sinal minha família foi uma que atravessou o Atlântico em barcos a vapor lá pelo idos de 1890. A feira recebe mais de 4 mil produtores e quase cem mil frequentadores todos os anos.
Vou contar algo da última grande surpresa que tive na Vinitaly, a feira internacional de vinhos em Verona: os vinhos do ETNA. Vinhos vulcânicos, vinho de vulcão, vinho do maior vulcão ativo da Europa - uma experiência singular para quem aprecia grandes vinhos, os enoviajantes compreendem isso. Como conhecedor dos vinhos italianos, eu já sabia da escalada de qualidade dos vinhos daquela região, arrisco dizer que em pouco tempo os vinhos vulcânicos vão se tornar celebridades. Nas minhas degustações na feira, em relação aos produtores ali presentes, deu para perceber a vontade de crescer em qualidade.
A uva Nerello Mascalese representa o mundo das descobertas das uvas autóctones na Itália, estão proporcionando ótimos vinhos e com tendência de em breve período de se tornarem grandes estrelas do vinho italiano. As principais uvas além da Nerello Mascalese são Nerello Cappuccio e Corricanti, que são tintos, e o Catarrato para o vinho branco.
Na degustação dos vinhos tintos, espere notas minerais do início ao fim, frutas vermelhas, mas não doces, os vinhos que passam por barricas tendem à maturação nas notas de café e chocolate amargo, do mais jovem ao mais envelhecido, a persistência na boca é extremamente longa e forçada a salivação.
Na degustação dos brancos, as notas minerais lhe farão sentir o sal marinho, bicarbonato e frutas exóticas como o liche e o damasco, uma certa secura da boca provocando salivação nas partes mais internas da boca, ideal para acompanhar frituras de peixes e legumes.
Os vinhos vulcânicos do Etna
A ilha da Sicília no extremo sul da Itália tem fatores bem curiosos e ótimos vinhos, imagine os feitos ao pé de um vulcão? Os vinhos vulcânicos têm sido muito apreciados. O clima quente e invernos amenos deixam a ilha bem própria para vinhos fortes e temperamentais, não tenha medo nunca de um vinho Siciliano de 14,5% de álcool, mesmo sendo vinhos de graduações alcoólicas altas são sempre muito saborosos pelo amadurecimento completo dos cachos de uva.
Na microrregião do Etna, o cultivo da uva é bem difícil, quase os considero viticultores heroicos, pois há muitas particularidades do terreno e da geografia que exigem acentuada criatividade para levar avante o cultivo das parreiras.
Para alguém trabalhar ao pé de um vulcão que é o mais ativo da Europa, o Etna, a pessoa tem de ter muita paixão pelo que faz. Em 2024, o Etna teve erupções de quantidade importante de lava.
O solo vulcânico é bom para o plantio de uvas, favorece os vinhos vulcânicos, mas o plantio só pode ser feito em pequenas localidades ao pé do vulcão, e neste solo a uva Nerello Mascalese está fornecendo ano após ano sempre uma qualidade a mais. Minha experiência me diz que quanto mais velha a vinha, melhor é o produto, e eu creio que agora que a maioria das vinhas desta região estão acima dos 40 anos, os vinhos estão na ascendente de qualidade, por este motivo eu tenho propriedade em dizer que logo estaremos vendo os preços desta pequeníssima região subir em espiral.
Os produtores estão todos no mesmo lado do vulcão, pois ali o solo está pronto e não corre risco de que o material expelido pelo vulcão os atinja. As vinícolas estão a Leste do Vulcão formando uma meia lua em torno da caldeira magmática. Os cerca de 200 produtores de vinho e outros 400 de uva dividem este pequeno território de 1200 hectares, estão divididos também por terroir, e cada setor da área produtiva representa uma real mudança das características aromáticas e gustativas do vinho.
Confira a forma de simplificar as 4 divisões:
O Versante Norte: o vinho mais mineral, equilibrado e com ótima tendência de guarda.
Versante Leste: os com grande complexidade aromática, tânicos e sabores profundos.
Versante Sudeste: vinhos frutados, com mais corpo e mineralidade equilibrada.
Versante Sudoeste: os mais vivazes, mais alcoólicos e taninos mais macios.
O enoturismo e o vulcão mais ativo da Europa
Para se ter ideia da importância dessa microrregião, os produtores decidiram produzir menos garrafas de vinho para poderem melhorar ainda mais a qualidade do vinho de vulcão. Isto na prática quer dizer: quanto menos cachos tenha um pé de uva, mais elementos concentrados as uvas terão, fazendo por sua vez vinhos mais importantes.
Na região do Etna estão sendo realizadas muitas obras para favorecer o enoturismo. Em razão da alta busca pela experiência de se provar o vinho produzido perto do vulcão ativo, as cantinas se preparam para receber turistas de toda a parte do mundo, admiradores da natureza, curiosos por causa da visita ao vulcão e também para recepcionar os enoviajantes.
Então, na próxima vez que pensar em viajar para a Itália, faça uma parada obrigatória em Catania, que é a cidade do Etna, você terá uma belíssima surpresa, pois poderá visitar algumas “cantinas” da região e entender um vinho feito com muita coragem e ótimas uvas.
Revista do Villa | Evandro Martini
Muito interessante
Parabéns Evandro
Muito interessante, fortalece a importância do vinho como extrato da cultura de seu povo. Parabéns mestre Evandro!!🍷
Excelente conteúdo, descreveu de forma tão poética e prazerosa que salivei de vontade provar alguns desses rótulos. Saúde!
Matéria muito bem elaborada e objetiva.
Parabéns, Evandro.
Evandro excelente matéria, ficou fantástico mesmo, para quem gosta de apreciar um bom vinho e precisa saber mais das suas propriedades tai , e só explorar e aproveitar , assim vc pode estar explanar com requinte e excelência seu paladar .🥂🔝👏👏👏.