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Revista do Villa

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Talento e Formação de Mão de Obra

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Se a base foi a infraestrutura tecnológica, a procura por talento foi o verdadeiro impulsionador da transformação digital no Brasil de 2010 a 2015. Era como construir uma nova cidade com ruas e energia elétrica já instaladas, porém sem pedreiros, engenheiros ou arquitetos para erguer os edifícios. A procura por profissionais de tecnologia aumentava rapidamente, porém a oferta ainda era limitada e, frequentemente, pouco qualificada para enfrentar os novos desafios que surgiam.


Naquela época, havia uma escassez de programadores, designers de interface, especialistas em segurança e até mesmo gestores capazes de converter as demandas empresariais em soluções digitais. O mercado se assemelhava a um "Velho Oeste" do conhecimento: aqueles que se aventuravam a aprender, até mesmo de maneira autodidata, encontravam oportunidades que pareciam infinitas.


A maioria das universidades de tecnologia no Brasil ainda seguia currículos ultrapassados, centrados em linguagens de programação obsoletas e teorias desconectadas da prática. Ao mesmo tempo, as empresas buscavam profissionais capacitados para trabalhar com linguagens mais atuais, metodologias ágeis e novos paradigmas de desenvolvimento que estavam apenas iniciando sua adoção no exterior. Esse descompasso deu origem a outro fenômeno: o crescimento das comunidades de desenvolvedores.


Eventos como meetups, hackathons e grupos de estudos começaram a prosperar em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Belo Horizonte. O Porto Digital, em Pernambuco, e o San Pedro Valley, em Minas Gerais, são exemplos representativos de polos que surgiram não só por apoio governamental, mas também pela mobilização de comunidades comprometidas. Nessas rodas de conhecimento, os profissionais compartilhavam códigos, dicas e experiências, além de estabelecerem redes de confiança que impulsionaram startups em estágio inicial.


O aprendizado autodidata foi outro fenômeno crucial. Plataformas como Codecademy, Udemy e, posteriormente, Alura, se transformaram em canais de acesso para aqueles que desejavam aprender de forma rápida. Em poucos meses, jovens sem acesso a uma graduação formal eram capazes de dominar noções básicas de programação e ingressar no mercado de trabalho. Esse fenômeno, combinado com a crescente popularidade do YouTube como plataforma educacional, tornou o acesso ao conhecimento mais democrático do que nunca no país.


No entanto, a falta de profissionais não era apenas técnica. Além disso, o mercado exigia gestores com uma perspectiva digital. As empresas tradicionais necessitavam de líderes que compreendessem a transformação e orientassem suas operações rumo a novos formatos de negócios. Foi nesse contexto que surgiu a valorização de perfis híbridos: profissionais com conhecimentos em administração, finanças ou marketing que se dispuseram a aprender tecnologia. Esse encontro de conhecimentos resultou em novas funções, como o product manager e o growth hacker, cargos quase inexistentes no Brasil até a metade da década.


Contudo, é necessário reconhecer os dois lados dessa situação. Por um lado, a escassez de profissionais capacitados criou oportunidades para salários atrativos e crescimento acelerado na carreira. Por outro lado, várias empresas enfrentaram dificuldades devido a projetos mal planejados e equipes inadequadamente treinadas, resultando no fracasso de diversas iniciativas digitais. O aprendizado coletivo teve um custo elevado, porém foi essencial para o amadurecimento do ecossistema.


A partir de 2016, houve um aumento na popularidade de aceleradoras e programas de capacitação corporativa. Bancos digitais, por exemplo, entenderam que, para expandir, precisavam investir não só em tecnologia, mas também na capacitação de pessoas. Nesse intervalo, observamos o surgimento de escolas de programação intensiva, como bootcamps e hubs de inovação, que oferecem treinamento prático e acelerado.


Esse esforço foi recompensado: nos anos seguintes, o Brasil começou a ser visto como um dos países que mais exportam talentos digitais. Desenvolvedores brasileiros começaram a ser contratados por empresas internacionais para trabalhar remotamente, frequentemente recebendo em dólar. Isso, por sua vez, exerceu uma pressão ainda maior sobre o mercado local.


Hoje, a situação é diferente. As plataformas low-code e no-code simplificam o desenvolvimento de sistemas, diminuindo a demanda por grandes equipes para atividades simples. Mesmo assim, os profissionais de tecnologia seguem sendo ativos estratégicos, principalmente os que conseguem combinar habilidades técnicas, visão de negócios e criatividade.


Como em qualquer cidade em desenvolvimento, o capital humano foi e ainda é o cimento que une os blocos da edificação digital. Sem sua presença, a cidade não se mantém; com sua presença, os arranha-céus digitais proliferam.


No capítulo seguinte, examinaremos como as APIs e as ferramentas de desenvolvimento modular mudaram o panorama, possibilitando que projetos que antes demandavam anos para serem concretizados agora possam ser realizados em poucos meses — como se a cidade digital começasse a receber edifícios pré-fabricados, prontos para montagem.


Rafael Lins

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