Quero Tempo Parado e Poder Reviver!
- Alex Gonçalves Varela

- 29 de out.
- 2 min de leitura
Atualizado: 29 de out.
Estreou Alma no teatro Ziembinski.



O espetáculo é um projeto da Multifoco Cia. de Teatro
O texto de Ricardo Rocha e Ayana Dias é poético, emotivo, sensível, utiliza linguagem metafórica, e apresenta uma crítica ao tempo acelerado em que vivemos. O texto clama pelo tempo parado, em que podemos reviver, lembrar nossos antepassados, e reativar memórias e lembranças.
Ao defender um tempo desacelerado, os autores deixam transparecer o valor das tradições, das memórias, dos afetos, que se perdem ou ficam vazios de conteúdo no mundo contemporâneo da sociedade da informação, cada vez mais frenético e acelerado. E como o teatro é resistência, é no palco que se clama por um tempo parado.
O texto nos apresenta Alma, uma mulher que vive sem tempo, e tem uma rotina acelerada. Certo dia, ela se deu conta que sua alma, a metade de si, ficou pra trás. Ela então desacelerou para conseguir reencontrar consigo mesma e a sua metade.
A criativa e bem projetada cenografia criada por Ricardo Rocha remete a um lugar de habitar. Ela é constituída por um portal azul com uma estrutura vermelha que se transforma em portas e janelas. Utiliza como materiais o metalon e o compensado naval.
Toda a ação das três atrizes (Bárbara Abi-Rihan, Clarissa Menezes e Viviane Pereira) ocorre nessa estrutura cenográfica. Elas interpretam de forma adequada, e emocionam. Dominam o texto, apresentando diálogos intensos e equilibrados; dominam o palco, se movimentando intensamente, e realizando todo um conjunto gestual acrobático na estrutura cenográfica. São manobras complexas! Elas sobem e descem, se dependuram, abrem e fecham portas e janelas, rodam a estrutura, e, ao final, a decoram com diversos vasos de plantas, e inserem um balanço. Realizam um verdadeiro espetáculo de gestos e movimentos intensos. Portanto, uma atuação de qualidade e digna de elogios.
A direção de Ricardo Rocha deixa transparecer a intensa interação entre o elenco e a cenografia, sendo essa relação que dá o tom da apresentação.
Os figurinos criados por Flávio Souza são simples, de bom gosto, coloridos e facilitam a movimentação da atrizes.
A iluminação criada por Ricardo Rocha é boa, e contribui para realçar a interpretação das atrizes de suas personagens.
As composições criadas por Vinicius Mousinho são melodiosas e apresentam uma boa sonoridade.
Alma é um espetáculo cujo texto apresenta uma reflexão sobre a aceleração do tempo; três atrizes competentes e com uma atuação de qualidade; e uma cenografia criativa em que o elenco interage o tempo integral com a mesma.
Excelente produção cênica!
Crédito das fotos: Daniel Debortoli
Alex Varela

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