No Universo dos Brancos...
- Alex Gonçalves Varela
- 19 de mar.
- 2 min de leitura
Estreou Onde Vivem os Bárbaros no teatro Gláucio Gill. A realização é da Brecha Criações.
O texto original é do autor chileno Pablo Manzi, que foi adaptado por Patrick Sampaio.

O texto é contemporâneo, crítico, denunciador, apresenta discussões complexas sobre a branquitude e colonialidade, discute os diversos significados que o conceito de bárbaro pode assumir, e denuncia a violência, mesmo nas sociedades democráticas de direito, realizada pelos chamados grupos nazifascistas contra pretos, índios, judeus, ciganos, grupos homo afetivos, entre outros.
A dramaturgia narra uma situação ficcional de um encontro familiar, um jantar, entre três primos que há muito tempo não se viam. Cada um levou a sua vida de maneira distinta, tem histórias e experiências diferentes e ao se reencontrarem percebem o quão diferentes são e estão. E o quanto essas diferenças, no modo de vida contemporâneo, podem representar uma ameaça. De repente, o telefone toca, e a anfitriã vai atender. Do outro lado, uma voz anuncia um plano de violência contra si e seus entes queridos. A partir desse momento toda a complexidade da trama se desenvolve, revelando as facetas do medo e as tensões vividas em nossa sociedade.

O elenco, integrado por Caio Riscado, Isadora Cecatto, Joana Kannenberg, Júlia Horta e Patrick Sampaio, apresenta uma técnica perfeita de interpretação aliada à capacidade de transmitir emoção. Medo e tensão atravessam todo o espetáculo, temperados com o humor ácido e cáustico presente nas várias passagens do texto. Os atores apresentam uma boa movimentação pelo palco, e um domínio correto do texto, passando a mensagem com Clareza. Eles estão ajustados e sintonizados.
A direção é de Patrick Sampaio que realizou as marcações precisas e certeiras, e definiu a direção de correta atuação dos atores.
Patrick Sampaio também foi o responsável pela correta adaptação do texto a realidade brasileira.
A cenografia criada por Tainá Medina apresenta uma correta distribuição dos elementos que a integram, fato que cria uma paisagem harmônica. O elemento central é a mesa de jantar com taças e garrafas de vinho, e um bode de pelúcia cenográfico com marcas de sangue. Há também uma mesinha com telefone e um jarro de flores, e do lado oposto uma pá enterrada num monte de terra. O piso do palco é de tom de terra, inclusive numa parte contendo o material propriamente dito.
Os figurinos criados por Isadora Amorim e Paloma Borges são adequados, e de bom gosto.
A iluminação criada por Lara Cunha apresenta um correto desenho de luz, e realça a interpretação dos atores por meio dos seus respectivos personagens.
Onde Vivem os Bárbaros apresenta uma dramaturgia crítica, e marcada por pitadas de humor ácido, e uma adaptação correta ao contexto brasileiro; elenco de qualidade que associa interpretação e emoção; e cenografia, figurinos e iluminação adequados e corretos.

Ótima produção cênica!
Fotos: Isadora Relvas e Philipp Lavra
Alex Varela

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