“Matar a Saudade, Matar o Apagamento“
- Alex Gonçalves Varela

- 10 de jul.
- 3 min de leitura
Estreou Zé Ketti. Eu Quero Matar a Saudade! no teatro Ziembinski.

O texto de Cadu Caetano é musical, poético, cultural, memorialístico, sensível, e crítico.
Memória é seleção. E o texto seleciona a trajetória do compositor Zé Ketti para que não seja apagada, como a de diversos artistas pretos, e não caia no esquecimento. Zé Ketti é o samba, a cultura preta, carioca, periférica, dos subúrbios, dos morros, das favelas e dos guetos, das religiões afro-brasileiras e das ancestralidades. Portanto, preservar o legado deixado pelo músico é imprescindível. Dar visibilidade é um ato de resistência!
Zé Ketti é interpretado por Leandro Santanna, que tem uma apresentação digna de louvor e aplausos. Ele incorpora a figura do malandro-sambista de forma notável, com o gestual e expressão corporal do tipo popular. O andar todo requebrado e malandreado, aliado ao excelente figurino criado por Wanderley Gomes, dão um toque de qualidade a atuação do ator, que incorpora o personagem. Ele está a vontade, livre e solto no palco. Nenhum dos atores o vê, pois ele aparece na forma de espírito. Ele circula o palco todo, passa por todos os demais personagens, mas na forma de espectro. Não estabelece nenhum diálogo com eles. Apenas fala para o público. Uma atuação de relevância.
O elenco (Marcelo Viégas, Clarissa Waldeck, Fernanda Sabot, Negawall, Gustavo Maya e Otávio Cassiano), no conjunto, apresenta uma boa atuação. Eles interpretam, cantam e dançam. Eles estão unidos, afinados e em harmonia. Mas não é um elenco equilibrado, pois alguns apresentam expressão, postura e presença de palco mais intensa do que outros. O mesmo vale para o cantar. Alguns cantam com mais afinação e entonação do que outros. Eles apresentam um bom domínio do texto e do palco. Se movimentam intensamente, e realizam coreografias com bonitos desenhos. Portanto, uma atuação feita com comprometimento, garra e vontade.
Acompanham o elenco os músicos Vinícius do Vale, Claudia Flauta e Eduardo Reis.

No nosso ponto de vista, o momento ápice do musical se dá quando ocorre a cena da canção Opinião, interpretada pelo elenco de forma emocionante.
A direção é de Márcio Vieira, que realizou as marcações precisas e certeiras, dando um dinamismo e movimento ao espetáculo, e direcionando a competente atuação do elenco.
A diretora musical é Beá Ayòóla, responsável por selecionar os principais sucessos de Zé Ketti, e nos brindar com sambas melodiosos e poéticos.
Os figurinos criados por Wanderley Gomes são de bom gosto, criativos, e adequados. Ganha destaque o terno branco, chapéu panamá, e sapato preto e branco do ator que interpreta o personagem Zé Ketti. Os demais figurinos representam tipos populares cariocas.
A cenografia criada por Cris de Lamare é adequada e criativa. Ela é constituída por uma mesa ao centro e sobre a mesma a bandeira da Portela. Esse mesmo objeto cenográfico será deslocado, e sobre a mesa outros objetos serão colocados. Nas laterais visualizamos cadeiras, engradados, e um balde com Espada de São Jorge. No centro fundo a foto de uma pessoa pendurada. Ao fundo instrumentos de percussão. Há também um poste de iluminação do início do século XX.
A iluminação criada por Pedro Carneiro apresenta um bonito desenho de luz, tons diversos, e contribui para realçar a interpretação dos atores de seus personagens.
Zé Ketti. Eu Quero Matar a Saudade! É um musical simples e correto sobre a trajetória do cantor e compositor Zé Ketti; apresenta uma dramaturgia inteligente, memorialística, e musical; e um elenco determinado, aguerrido e unido.

Ótima produção cênica !
Crédito das fotos: Caio Cezar
Alex Varela


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