Lô Borges: A Poesia Eterna do Clube da Esquina
- Gilson Romanelli

- 5 de nov.
- 3 min de leitura

O Brasil perdeu um de seus mais sensíveis e revolucionários poetas da alma: Salomão Borges Filho, o Lô Borges. Nascido no coração de Belo Horizonte, em 10 de janeiro de 1952, Lô se tornou um pilar na música popular brasileira. Sua partida, em 2 de novembro de 2025, aos 73 anos, deixou um silêncio melancólico, mas seu legado musical ecoará por gerações.
Internado desde 17 de outubro devido a uma intoxicação por medicamentos, o artista faleceu na noite de domingo, 20h50, em decorrência de falência múltipla de órgãos, conforme confirmado pela família e pelo Hospital Unimed. Seus últimos dias foram de luta na UTI, com ventilação mecânica e traqueostomia.
O Berço Musical e a Gênese do Clube da Esquina
A história de Lô Borges está intrinsecamente ligada ao bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, e a encontros que redefiniram a MPB. Curiosamente, a base do futuro movimento surgiu de uma mudança temporária. Aos 10 anos, durante uma obra na casa da família Borges, no Centro de BH, Lô conheceu o vizinho mais velho que tocava violão nas escadarias do Edifício Levy: Milton Nascimento.
"Sentei na escadaria, dei de cara com um carinha tocando violão, era o Bituca. Eu tinha 10 (anos), e ele tinha 20. [...] Fiquei vendo o Bituca tocando violão, e ele assim comigo: 'Você gosta de música, né, menino?'"
(Lô Borges)
Dois meses depois, o acaso trouxe outro futuro parceiro: Beto Guedes, que tinha a mesma idade de Lô. A amizade se consolidou nas ruas de Santa Tereza, onde os jovens se reuniam na esquina das ruas Divinópolis e Paraisópolis – a casa dos Borges – para conversar, trocar ideias e, principalmente, tocar. O local, uma confluência de talentos e referências, de Beatles e Rolling Stones ao jazz e à bossa nova, batizou o que se tornaria um dos movimentos mais aclamados da música brasileira: o Clube da Esquina.
O Álbum Fundador e Sucessos Atemporais
A visão de Milton Nascimento foi crucial. Bituca, que já havia gravado a parceria inicial "Para Lennon e McCartney" (Milton, 1970), bancou o talento do então adolescente Lô Borges. Aos 19 anos, Lô se uniu a Milton para morar no Rio de Janeiro e criar o disco que entraria para a história: "Clube da Esquina" (1972).
A gravadora temia um álbum duplo com um nome novo, mas a genialidade das composições falou mais alto. Lô trouxe a veia pop-rock, dialogando perfeitamente com a latinidade, o jazz e a africanidade de Milton.
As canções de Lô Borges são verdadeiros hinos líricos que pintam a alma e a essência brasileira:
"Um Girassol da Cor do Seu Cabelo": Uma lembrança da beleza e da simplicidade da vida.
"Paisagem da Janela": Transporta para um mundo de sonhos e imaginação, um reflexo do olhar mineiro, mas universal.
"O Trem Azul": Um clássico atemporal que conjuga melancolia e esperança.
"Clube da Esquina": A própria celebração da amizade e da cumplicidade que deu origem ao movimento.
A Importância, a Contribuição e o Legado
A música de Lô Borges, com sua sensibilidade e criatividade, é mais do que canção; é um espelho que reflete a alma mineira e brasileira. Suas letras falam de amor, saudade, esperança e realidade, convidando à auto reflexão e à reconexão com as raízes.
O Legado de um Poeta
O Clube da Esquina, que contou com parceiros fundamentais como Milton Nascimento, Beto Guedes, Márcio Borges, Fernando Brant, Ronaldo Bastos e Wagner Tiso, entre outros, revolucionou a MPB ao fundir harmonias complexas, lirismo poético e influências do rock progressivo e psicodélico, criando um som único que se tornou a marca de Minas Gerais para o mundo.
Lô Borges é reconhecido por injetar o espírito do rock e dos Beatles no movimento, mantendo o frescor da juventude e a experimentação. O disco de 1972 se tornou um dos mais aclamados de todos os tempos. Sua obra continuou relevante por mais de cinco décadas, sendo regravada por gigantes como Elis Regina, Tom Jobim, Caetano Veloso, Nando Reis e Samuel Rosa (Skank), atestando sua versatilidade e a profundidade de suas composições.
Com o falecimento de Lô Borges, a música brasileira perde um de seus artífices mais inspirados, mas ganha a eternidade de uma obra que continuará a tocar, inspirar e fazer sonhar, como um tesouro imortal da nossa cultura.
Gilson Romanelli































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