Hannah Cacy: A Força Indígena Que Encanta O Rio E Vai Brilhar No Carnaval Das Culturas
- Nando Andrade

- 30 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 31 de jul.

Nascida em Cachoeira dos Índios, no sertão da Paraíba, Hannah Cacy Potiguar carrega no corpo e na alma os traços da ancestralidade tupi que resistiu ao tempo, ao esquecimento e à marginalização histórica dos povos originários do Brasil. Mulher indígena da etnia Potiguar, artista popular e guardiã de saberes culturais, ela vem construindo, com firmeza e sensibilidade, uma trajetória que ultrapassa barreiras geográficas, sociais e históricas.
Hoje moradora da cidade do Rio de Janeiro, Hannah representa uma realidade ainda pouco visível: a da mulher indígena que vive nas grandes cidades, sem abrir mão da identidade de seu povo. Seu corpo é território político. Suas palavras, sementes de resistência. E sua presença em escolas, universidades e palcos culturais revela uma potência que transforma espaços colonizados em locais de afirmação.
A história de Hannah ganhou grande repercussão em 2022, durante a pesquisa “Akangatu, o Levante da Memória: Ensino de História e Letramento Patrimonial em Cachoeira dos Índios-PB”, conduzida pelo professor Djalma Luiz do Nascimento Dantas. Esse projeto inovador revelou, com base em vestígios arqueológicos com mais de 800 anos, a presença contínua e viva dos povos tupis na região. A pesquisa resgatou a riqueza histórica e cultural local, envolvendo a comunidade no processo de reconhecimento e valorização do patrimônio ancestral.
Entretanto, para os pesquisadores, a maior descoberta não foram apenas os artefatos antigos, mas a própria Hannah Cacy Potiguar — uma mulher que, no século XXI, mantém vivos os saberes, histórias e práticas culturais da etnia Potiguar. Ela representa a resistência e a continuidade dessa ancestralidade, tornando-se um elo vital entre o passado e o presente, e um símbolo vivo da identidade indígena que resiste às intempéries do tempo e da modernidade.
Desde então, Hannah vem participando de feiras, exposições e apresentações artísticas — entre elas, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia da Fiocruz, em Manguinhos (RJ), onde levou a exposição “Achados para uma Cachoeira dos Índios/PB”. Também já apresentou a dança tradicional do “Cavalo Relâmpago” em escolas e centros culturais, levando ao público infantil e jovem um olhar sensível sobre o universo indígena.
Hannah Cacy Potiguar é a prova viva de que a ancestralidade caminha entre nós. Lenda viva de um povo que resiste, ela encarna sua origem indígena com altivez, transformando o espaço urbano em território sagrado de memória e presença. Desafiando os estereótipos, sua arte ecoa nos centros urbanos e lembra ao mundo que ser indígena é preservar tradições, um ato de permanência e luta.
Neste ano, Hannah Cacy Potiguar tem mais uma vez presença confirmada no Carnaval das Culturas, evento que celebra o encontro de múltiplas identidades culturais e que há 19 anos acontece em plena capital fluminense. Sua participação já consagrada no evento é aguardada com entusiasmo pelos integrantes e seguidores do coletivo cultural liderado por Lúcia Sons, que vêm apostando na diversidade como linguagem central do carnaval contemporâneo.
Com olhar firme e coração aberto, Hannah Cacy Potiguar se torna uma espécie de ponte entre mundos: entre o sertão e o asfalto, entre o passado e o agora, entre a memória e o futuro. Sua ancestralidade, cada vez mais latente, se projeta como símbolo de um Brasil profundo, que pulsa com cores próprias, fora dos centros de poder.
O Carnaval das Culturas será mais um capítulo de uma história que precisa ser contada, dançada, vivida e respeitada.
Nando Andrade


Comentários