Entrevista: Patricia Lemos
- Paulo Serpa
- 19 de mai.
- 5 min de leitura
Educar com propósito: a trajetória de Patricia Lemos e o futuro da educação

Patricia Lemos é mãe de duas meninas, diretora da Colibri Creche Escola, educadora parental e especialista em desenvolvimento infantil. Formada em Administração de Empresas, com pós-graduação em Gestão Escolar e em Neurociência, Educação e Desenvolvimento Infantil, Patricia alia uma formação sólida a uma vivência profunda na educação. Sua trajetória começou com a maternidade e se consolidou no propósito de transformar a infância por meio de uma educação respeitosa, afetiva e intencional. À frente da Colibri, lidera uma equipe comprometida com a excelência pedagógica, a valorização do brincar, a inclusão e o vínculo com as famílias. Atualmente, conduz a escola como uma forma de reafirmar sua missão de formar crianças mais conscientes, empáticas e preparadas para os desafios do futuro.
1. Patricia, para começarmos, conte um pouco sobre você. Como surgiu sua conexão com a educação?
Minha conexão com a educação surgiu de forma muito pessoal. Quando me tornei mãe, percebi que educar não era apenas criar, mas formar um ser humano em sua totalidade. E isso me tocou profundamente. Comecei a estudar sobre desenvolvimento infantil, comportamento, vínculos, e fui me especializando em educação parental e disciplina positiva.
Com o tempo, essa paixão virou missão. Eu queria oferecer para outras crianças o mesmo ambiente de respeito, escuta e desenvolvimento que eu sonhava para minhas filhas. Comecei a pesquisar profundamente sobre o assunto, a conhecer as escolas mais conceituadas no mundo, e percebi que a educação havia evoluído. Foi então que surgiu a Colibri — uma escola que faz caminhar lado a lado a excelência pedagógica e o desenvolvimento humano.
2. E como nasceu a Colibri Creche Escola? Qual é a essência da escola?
A Colibri nasceu da vontade de fazer diferente. Quando idealizei a escola, queria um espaço onde a infância fosse respeitada, onde as crianças pudessem ser crianças — brincar, explorar, errar, criar. Mas também um lugar onde as famílias fossem acolhidas e onde a equipe tivesse preparo, sensibilidade e propósito. A essência da Colibri está em três pilares: vínculo, excelência e respeito. Aqui, a criança é protagonista do seu processo. Nosso papel é criar condições para que ela se desenvolva de forma integral — intelectual, emocional, social e física. Cada detalhe da rotina tem intenção pedagógica, cada conversa com os pais tem escuta ativa, cada decisão é pensada com cuidado.
3. Em termos pedagógicos, o que torna a Colibri diferente de outras escolas?
Na Colibri, nada é feito por acaso. Usamos metodologias ativas, trabalhamos por projetos e acreditamos na potência do brincar como instrumento de aprendizagem. A disciplina positiva é parte da nossa identidade — ela nos ajuda a lidar com os comportamentos infantis de maneira respeitosa, firme e sensível. Outro diferencial é o cuidado com o ambiente. Temos espaços pensados para despertar a curiosidade e a autonomia das crianças. Implementamos práticas sustentáveis, uma horta sintrópica mantida em parceria com uma empresa especializada, e promovemos um contato cotidiano com a natureza.
Além disso, somos uma escola bilíngue desde a Educação Infantil, com professores formados para trabalhar a segunda língua de forma lúdica e contextualizada. Acreditamos que a linguagem é uma ponte para o mundo, e quanto mais cedo e naturalmente ela for apresentada, melhor.
4. Em sua visão, quais são os principais desafios da educação hoje?
Um dos maiores desafios é romper com modelos ultrapassados. Ainda temos muitas escolas pautadas na repetição, na obediência cega e na memorização. Mas o mundo mudou — e os alunos também. Hoje, é fundamental desenvolver habilidades socioemocionais, pensamento crítico, empatia, criatividade. Outro desafio é a parceria com as famílias. Vivemos tempos de sobrecarga, de excesso de informação e pouca escuta. Precisamos resgatar a confiança entre escola e família, construir pontes, dialogar com clareza. A educação só funciona quando todos estão remando para o mesmo lado. E claro, não podemos deixar de falar sobre inclusão. As escolas precisam se preparar — de verdade — para acolher a diversidade. Isso vai além da estrutura física: passa por formação, recursos, sensibilidade e compromisso ético com o direito de aprender de cada criança.
5. E como você vê o movimento de atualização das escolas?
Estamos vivendo uma virada de chave. Muitas escolas já entenderam que não basta ter uma boa estrutura — é preciso ter propósito. As famílias estão mais conscientes, mais exigentes, e querem escolas que cuidem do todo: do aprendizado, mas também das emoções, dos valores, das relações. A tecnologia também traz novos cenários. O desafio é usá-la com equilíbrio, sem perder o víncul humano. Aqui na Colibri, por exemplo, usamos ferramentas digitais para comunicação com as famílias, mas nosso foco está no contato real, na brincadeira ao ar livre, no olho no olho. Atualizar-se hoje é manter-se conectado com as necessidades da infância e com os desafios do nosso tempo. E isso exige coragem para mudar, humildade para aprender e muita intencionalidade.
6. Como é ser uma mulher à frente de uma escola que rompe padrões e inspira novas formas de educar?
É desafiador e, ao mesmo tempo, profundamente gratificante. Sou mulher, mãe, educadora e gestora. São muitas camadas que se encontram diariamente. Às vezes, é cansativo, mas é sempre transformador. Acredito que meu olhar feminino e minha vivência como mãe me ajudam a trazer mais sensibilidade para a gestão. Educação não é só planejamento e currículo — é afeto, escuta, coerência entre o que se diz e o que se faz. Tenho orgulho de liderar uma escola onde esses valores são reais, vividos no dia a dia.
8. Além da gestão da Colibri, você também tem se dedicado às redes sociais. Como surgiu essa iniciativa?
Sim, esse movimento aconteceu de forma muito orgânica. Comecei compartilhando reflexões sobre maternidade e educação, e percebi o quanto esse conteúdo fazia sentido para outras famílias e educadores. Aos poucos, meu perfil nas redes tem se tornado um espaço de troca, acolhimento e aprendizado coletivo. Hoje, entendo que compartilhar meu conhecimento na internet é uma forma de educar para além dos muros da escola. Falo sobre desenvolvimento infantil, disciplina positiva, limites com afeto, rotina, vínculos — sempre com base na ciência e na prática. As redes se tornaram uma extensão do meu propósito como educadora: levar informação de qualidade, promover a escuta e ajudar pais e mães a se sentirem mais confiantes na criação de seus filhos.
9. Para encerrar: qual mensagem você deixaria para quem acredita na educação como ferramenta de transformação?
A educação tem o poder de transformar vidas, e isso começa com cada gesto, cada conversa, cada escolha. Não se trata de perfeição, mas de presença e intenção. Ao olhar para uma criança com respeito, você está mudando o mundo. Que a gente nunca perca a esperança no poder da escola, do vínculo, da infância. E que sigamos, juntos, construindo uma educação mais humana, mais conectada e mais verdadeira.
Paulo Serpa

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