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Entrevista: Luiz Otávio D. Pinheiro

Luiz Otávio D. Pinheiro: Terras Raras e o Futuro Tecnológico Global

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As terras raras deixaram de ser apenas um tema técnico da geologia para se tornarem um dos assuntos mais estratégicos do século XXI. Discretas, quase invisíveis ao consumidor final, mas indispensáveis para turbinas eólicas, baterias, sistemas militares, carros elétricos e toda a infraestrutura digital, elas moldam a tecnologia moderna — e, ao mesmo tempo, revelam vulnerabilidades geopolíticas profundas.


Para entender melhor esse universo, a REVISTA DO VILLA convidou Luiz Otávio D. Pinheiro, pesquisador atento à interface entre tecnologia, sustentabilidade, geopolítica e economia mineral. Ele nos oferece uma leitura clara, profunda e estratégica sobre o tema que hoje define quais países vão liderar o futuro — e quais dependerão de quem domina a cadeia produtiva.


A seguir, a entrevista completa.


Para começarmos, o que são, afinal, as terras raras e por que elas são tão importantes para a vida moderna?


A tecnologia moderna é altamente dependente de terras raras, um grupo de 17 elementos químicos estratégicos e, muitas vezes, invisíveis para o consumidor final, mas essenciais para o funcionamento de dispositivos e sistemas que moldam a vida contemporânea.

Apesar do nome, terras raras não são verdadeiramente raras em termos geológicos; o grande desafio está na sua dispersão, baixa concentração em depósitos economicamente exploráveis e na complexidade dos processos para remoção, separação e purificação, que exigem tecnologias sofisticadas que podem causar sérios impactos ambientais.

Esses elementos — como lantânio, neodímio, disprósio e outros — são indispensáveis para motores de carros elétricos, turbinas eólicas, baterias, telas, equipamentos médicos, sistemas militares e armazenamento de dados.


Há um paradoxo entre tecnologias limpas e o impacto da extração desses minerais. Como você vê essa contradição?


A transição para energias limpas, embora necessária, se dá em um paradoxo: tecnologias consideradas limpas são baseadas em insumos provenientes de processos minerais intensivos e ambientalmente prejudiciais. Eles geram grandes volumes de rejeitos químicos e radioativos, exigindo tratamento e armazenamento altamente controlados.


Em termos geopolíticos, por que as terras raras se tornaram tão estratégicas no mundo?

As terras raras são minerais críticos — fundamentais para inovação e crescimento econômico — e estratégicos, pois impactam a soberania tecnológica e a capacidade de defesa nacional.

Estados Unidos, União Europeia e Brasil têm listas próprias desses minerais de acordo com suas prioridades. O neodímio, por exemplo, essencial para turbinas eólicas, também é estratégico para sistemas guiados militares.

A cadeia produtiva é complexa e dominada pela China, principalmente nas etapas de separação e refino, que agregam maior valor. Mesmo países com reservas abundantes dependem da capacidade chinesa para transformar concentrados em materiais utilizáveis.

Isso cria vulnerabilidades globais e permite que a China utilize esse poder como ferramenta geopolítica.


O impacto ambiental é sempre mencionado. Qual é a dimensão desse desafio?

Extrair pequenas quantidades de elementos valiosos implica movimentar grandes volumes de minério com baixíssima concentração útil. Isso gera resíduos tóxicos e radioativos que podem permanecer perigosos por décadas ou séculos.

O manejo desses rejeitos exige tecnologias avançadas de neutralização, armazenamento seguro e pesquisas contínuas para reaproveitamento dos resíduos.


O Brasil tem potencial para assumir protagonismo nesse setor?

Segundo o Serviço Geológico do Brasil, temos cerca de 21 milhões de toneladas em reservas espalhadas por diversos estados — uma das maiores quantidades do mundo. Porém, estamos no início da cadeia. Exportamos principalmente concentrado, sem agregar valor nas etapas de refino e metalurgia. Para romper essa dependência, precisamos investir em ciência, tecnologia, políticas públicas estratégicas e parcerias internacionais que permitam acesso ao know-how.


Quem são os principais atores envolvidos na exploração de terras raras?

Três atores formam o núcleo do processo: governo, pesquisadores e empresários.

O governo estabelece prioridades e regula a exploração responsável.

Os pesquisadores desenvolvem tecnologias sustentáveis de extração e processamento.

Os empresários transformam conhecimento em negócios, investindo em projetos e infraestrutura, sempre alinhados às exigências ambientais e diretrizes governamentais.

Quatro segmentos sustentam essa integração: tecnologia, meio ambiente, negócios e prioridades governamentais.


Como modelos estratégicos, como Porter e Oceano Azul, ajudam a entender esse setor?

O modelo de Porter ajuda a definir estratégias de integração vertical.

A integração para trás controla a matéria-prima; a integração para frente agrega valor com refino, processamento e comercialização.

No caso das terras raras, essa integração é essencial para reduzir dependências, especialmente da China.

Já a Estratégia do Oceano Azul orienta a criação de novos mercados, tecnologias menos dependentes de terras raras, novos usos para os minerais e processos sustentáveis que diferenciem empresas e abram espaços pouco explorados.


E qual o papel do conhecimento estruturado nessa cadeia?

A teoria do capital intelectual de Thomas Stewart mostra que transformar conhecimento tácito em explícito — manuais, sistemas digitais, documentação — é fundamental.

Isso acelera a inovação, aumenta eficiência e facilita a integração entre governo, pesquisadores e empresários, criando um ambiente favorável ao desenvolvimento tecnológico do setor.


Para finalizar: qual o caminho para um futuro sustentável e competitivo no setor de terras raras?

Combinar:

• integração vertical da cadeia (Porter),

• inovação e criação de novos mercados (Oceano Azul),

• valorização do capital estrutural (Stewart).

Essa tríade permite equilibrar controle produtivo, inovação e transferência de conhecimento — elementos centrais para alcançar sustentabilidade e vantagem competitiva.


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Créditos

Matéria produzida para a Revista do Villa

Entrevista: Delcio Marinho (DM)

Entrevistado: Luiz Otávio D. Pinheiro (Otávio)

Edição em parceria com IA Avançada – by Delcio Marinho & ChatGPT

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Delcio Marinho


 
 
 

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