Entrevista: Helcio Hime (artista e empresário)
- Chico Vartulli

- 26 de jul.
- 10 min de leitura
Meu entrevistado é o a Artista e Empresário Helcio Hime.

1- Olá Helcio! Qual é o balanço que você faz da sua trajetória como cantor e ator?
Cantar e atuar são inenarráveis e incomensuráveis prazeres! Meu primeiro trabalho profissional como ator foi ainda na infância, quando estreei contracenando — simplesmente — com o grande e saudoso Hugo Carvana, na famosa série da Rede Globo Plantão de Polícia! De lá para cá, foram inúmeras realizações: como ator, diretor, produtor, roteirista, compositor de trilha sonora, e até mesmo dançarino e coreógrafo, em novelas, produções audiovisuais e filmes — muitos laureados com dezenas de prêmios internacionais.
Como cantor profissional, embora já tivesse banda de rock e músicas românticas no fim da adolescência com uma boa estrada de shows, considero minha estreia “profissional para valer” o espetáculo Elvis, Cantado & Contado, um grande sucesso no Copacabana Palace, em 2011. Casa lotada em todas as apresentações, com a presença de artistas, celebridades e VIPs de todo o Brasil — e até mesmo figuras do jet set internacional. Daí em diante, não parei mais.
Uma das pessoas que me assistiu neste show de estreia já me contratou para uma temporada de músicas francesas em Manaus, também de grande sucesso. Tive a honra de ser acompanhado ao piano pelo grande maestro internacional Sandino Hohagen, além de um conjunto de cordas. Pouco tempo depois, estreei o musical FranKamente Sinatra, na casa de shows mais badalada do Rio na época, a “Miranda”. Depois veio Natal com Elvis & Sinatra, no maravilhoso palco do Teatro Rival.
Os espetáculos excursionaram por grandes palcos do Brasil e eventos internacionais, como o Centenário Internacional do Lions Club e o Bicentenário da Independência da Grécia. Mais recentemente, apresentei a série Helcio Hime Canta & Conta, com quatro shows de imenso sucesso — com repertórios diferentes — em homenagem a Sinatra, Elvis, Música Francesa e Pérolas da Música Brasileira, no histórico palco do Teatro do Centro Cultural Justiça Federal. Fico muito feliz de já ter me apresentado em alguns dos principais palcos da arte. Sou absolutamente apaixonado pelo palco!
Além das artes cênicas e musicais, amo também as artes plásticas — adoro pintar, esculpir e fazer instalações. Apesar de já ter recebido convites para vernissages e exposições, ainda não decidi tornar público esse trabalho, embora tenha recebido comentários entusiasmados de críticos renomados da área. Outra paixão artística: a literatura. Aos 11 anos, tive a honra de receber do Governo Dinamarquês, em parceria com a Academia Brasileira de Letras, o prêmio Hans Christian Andersen, considerado o “Prêmio Nobel da Literatura Infantojuvenil”. Meu trabalho como escritor e roteirista tem recebido dezenas de importantes condecorações desde então.
2- Qual é o seu repertório favorito como cantor?
Amo cantar tudo: Jazz, Rock, Música Brasileira, Francesa, Italiana, Gospel — e até mesmo tangos, fados e, de vez em quando, uma ária ou outra de ópera. Eu diria que o meu repertório favorito é sempre aquele que estou cantando naquele momento. O intérprete de uma canção deve ser tão fiel a ela quanto o ator a seu personagem. A verdade visceral na interpretação de uma música, deve ter a mesma verdade do ator quando veste a personagem. O público só se emociona com a Arte quando o “eu” mais verdadeiro do artista está ali, presente naquele instante. E quem consome arte — da mesma forma — deve ouvir, ler, ver, sentir… com seu “eu” mais verdadeiro. E o nosso “eu” mais verdadeiro, é a centelha divina que nos anima.Como escrevi em minha peça (ainda inédita), O Rei e Deus: neste sentido, a Arte é um ato sagrado… religioso… Divino!
3- Como ator, qual é o gênero que você mais gosta de atuar? Justifique.
Novamente, cada papel é uma paixão. Cada estilo tem o frescor e o entusiasmo do novo, da reinvenção. Amo muito atuar no gênero que criei para algumas de minhas apresentações: o Monólogo Musical. A regra que escrevi é clara — uma única pessoa tem que fazer praticamente tudo: cantar, contar histórias, roteirizar, dirigir, tocar, etc.
Estar no palco solo — porém 100% acompanhado da plateia — destruindo a “quarta parede” e trazendo o público para dentro do espetáculo, como se estivéssemos todos juntos num bate-papo informal na sala de estar tomando chá, entremeado pelos números musicais… é totalmente íntimo e mágico. Amo também participar de montagens maiores, com grande elenco: teatros musicais, comédias, dramas, longa-metragens — cada linguagem é interessantíssima e tem seus encantos!
Um trabalho que guardo no coração com especial carinho foi ter atuado, composto e executado ao piano a música tema do primeiro filme Dogma 95 brasileiro — movimento iniciado pelo genial diretor Lars von Trier, na Dinamarca, e inaugurado no Brasil pela talentosíssima cineasta franco-portenha, radicada aqui, Rosario Boyer. Esse longa-metragem recebeu dezenas de prêmios em grandes festivais internacionais.
Entre os grandes clássicos, confesso que tenho especial paixão por Shakespeare, que estudei a fundo com o grande mestre, dramaturgo e filósofo Alcione Araújo, no curso de pós-graduação de Comunicação na PUC, sobre Shakespeare e Tragédias Gregas — e também no curso Shakespeare After All, em Harvard, com a Professora Marjorie Garber.
Essa paixão shakespeariana me levou a traduzir o célebre monólogo To Be or Not to Be e adaptar a peça Hamlet para um curta-metragem de cinema: Pocket Hamlet – To Be or Not to Be. Ainda baseado no Bardo inglês, fiz também o filme Shakespeare e a Peça de Nome Proibido — aquela peça cujo nome os atores evitam pronunciar dentro do teatro, embora seja uma das mais famosas de todos os tempos…
Outros trabalhos que amei fazer, premiados pela Secretaria de Cultura, foram as produções para a internet durante a pandemia: Causos da Música Fluminense e Em Cantos e em Contos Fluminense, sobre a música e a literatura no estado do Rio de Janeiro.
4- Como você analisa a escalação de artistas jovens em produções culturais em detrimento daqueles com mais idade e experiência?
Sinceramente, não acredito no etarismo — pelo menos quando se trata dos protagonistas. Talvez ele exista no coro de musicais, onde há muita demanda física, especialmente na dança (por vezes, são nove horas de ensaio por dia)… Mas, para os protagonistas, não creio.
Veja: cada personagem tem um physique du rôle — ou seja, um corpo, um tipo físico, uma idade, que o papel exige do ator. Alguns atores são tão geniais que transcendem e transformam seus próprios corpos para se adaptarem aos personagens. Um exemplo é Robert De Niro, que engordou 27 quilos para interpretar a versão mais velha de Jake LaMotta em Touro Indomável.
Um Hamlet, por exemplo, necessariamente será mais jovem que um Rei Lear. Não se trata de preconceito de idade — mas de adequação ao papel. Mesmo que o ator seja um gênio absoluto, aos 80 anos dificilmente poderá interpretar um adolescente… Pelo menos com os recursos que temos hoje — ou que tínhamos até bem pouco tempo.
Um apêndice nesta discussão: há cerca de três anos, nos meus canais nas redes sociais, fiz uma previsão sobre um tema no qual a Hime Informática, uma de minhas empresas, é especialista — a Inteligência Artificial. Na época, defendi que as barreiras do physique du rôle seriam derrubadas, ao menos nas produções audiovisuais, pois o ator poderá ter a idade que desejar — e a aparência que desejar. Essa previsão está se realizando rapidamente. Já temos até atores 100% digitais. Imagine o progresso nos próximos anos…
Recentemente, lancei uma obra para internet: Meu nome é Galileu Galilei. Nessa produção, interpreto o mesmo personagem com 40 anos de diferença entre a versão mais velha e a mais jovem. Sem os recursos sofisticados de Hollywood, e sem utilizar inteligência artificial, recorri a truques caseiros: deixei a barba bem grande, salpicada com pontos brancos; e para o personagem mais jovem, fiz aquela barba perfeita — de noivo no dia do casamento. Usei também recursos básicos de iluminação. Mudando a forma de falar, a voz e a expressão física, o resultado ficou bastante convincente.
Outro ponto interessante a se observar: como defendo no meu musical sobre a vida de Presley, Elvis “inventou a juventude”. Antes de Elvis, era bacana parecer mais velho — se vestir como alguém mais maduro. Esse eixo se alterou totalmente com o fenômeno presleyano, que deu voz à juventude. E hoje, ironicamente, são os mais velhos que fazem de tudo para parecer mais jovens.
Excelentes atrizes e atores da terceira idade — no Brasil e no mundo — às vezes têm suas interpretações prejudicadas por precisarem usar camadas de maquiagem pesada (criando rugas artificiais) para representar a idade que, na verdade, já têm. Tantos são os procedimentos estéticos atuais, na busca pela eterna juventude… Não critico — apenas assinalo esse fenômeno curioso dos nossos tempos.

5 – Qual é a área de atuação do Grupo Hime? Quais os projetos que são executados nas empresas?
Inúmeros! A divisão de informática, a HIME Informática, nasceu no jardim de inverno da casa dos meus pais, quando eu ainda era adolescente. Programei o primeiro ERP para microcomputadores do mundo em 1984 — antes mesmo de existir o famoso IBM PC, ou a Internet. Na época, um hard disk era quase do tamanho de um Fusca — e custava cinco vezes mais! Só armazenava 5 megabytes — hoje em dia, não dá nem para uma foto em alta resolução. Nenhuma pequena empresa podia usar informática naquele tempo, pois os mainframes custavam milhões de dólares, e os microcomputadores disponíveis não tinham memória suficiente.
Foi nesse contexto que desenvolvi um modelo de redução de matrizes esparsas, que permitiu compactar dados e aumentar a memória via software, sem custo adicional — o que popularizou a informática para pequenas e microempresas em todo o Brasil.
Lançamos também chaves criptográficas de alta complexidade, chatbots com inteligência artificial, e fomos pioneiros na incorporação do BI (Business Intelligence) e no lançamento de tecnologias que mais tarde dariam base ao conceito hoje conhecido como blockchain — que, na época, eu batizei de registro tipo “cofre-boca-de-lobo”, onde é possível inserir informação, mas jamais alterá-la.
Atualmente, a divisão de informática da Hime atua fortemente em consultoria e treinamento em inteligência artificial, gestão estratégica, e no desenvolvimento de projetos sob medida.
No segmento da linguística, temos o Hime Group, com destaque para nosso carro-chefe: o Fonema Nativo — um programa dedicado ao treinamento de oratória em Inglês, Português, Espanhol, Francês e Italiano. É uma metodologia extremamente útil para pessoas que precisam aperfeiçoar ou aprender rapidamente um segundo idioma para viagens, entrevistas ou apresentações. Também é especialmente eficaz para atores e cantores que desejam alcançar pronúncia nativa com refinamento técnico e expressivo.
Além de ensinar a língua em si, transmitimos também as técnicas mais poderosas de voz e comunicação, inspiradas em alguns dos maiores gênios da oratória da humanidade — Aristóteles, Cícero, Schopenhauer, Dale Carnegie, Napoleon Hill — e na própria deusa grega da persuasão, Suadela (persuasão = per Suadela).
Os progressos dos alunos da Hime são verdadeiramente entusiasmantes e inspiradores! São centenas de testemunhos — como o da aluna que saiu do nível básico em inglês para assistir a filmes e noticiários sem legenda em apenas cinco meses; o do aluno que se tornou CEO mundial de uma das maiores multinacionais de telecomunicações após polir seus discursos com a gente; ou o da professora-doutora que passou a ministrar seus cursos em inglês e passou a ser remunerada em euros, multiplicando seu rendimento.
Na parte cultural, o Grupo Hime atua com a produção de espetáculos, filmes e livros, sempre prezando por conteúdo autoral, sensível e transformador.
Ao longo desses anos, a atuação da HIME recebeu dezenas de prêmios e honrarias de entidades internacionais, como a GTZ – Sociedade Alemã de Cooperação Tecnológica, o U.S. Department of Commerce, governos federais, estaduais e municipais, SEBRAE, FNQ – Fundação Nacional da Qualidade, entre outros.
6 – Você poderia nos contar algumas de suas muitas histórias que você conta nos seus shows?
Claro, com o maior prazer! Uma vez, Pixinguinha foi assaltado no meio da rua. Só que o Pixinguinha era tão cativante, tão gentil, tão bondoso, que começou a conversar com o ladrão… convidou-o para almoçar em sua casa. O ladrão aceitou — e, no final da tarde, devolveu tudo o que havia roubado e ainda pediu desculpas!
Elvis tinha mania de dar presentinhos aos amigos. Seu preferido? Cadillacs. Inclusive conversíveis. Um dia, enquanto comprava mimos para os amigos e funcionários de sua mansão, numa concessionária, viu uma senhorinha na porta da loja olhando intensamente para seu Cadillac rosa, estacionado ali.
Então fingiu brigar com ela:
— Ei, ei, o que a senhora está fazendo aí!? O que está pensando? Esse Cadillac já tem dono! É meu! A senhora não pode comprar ele, não!
Fez uma pequena pausa dramática e completou:
— Agora entra lá dentro e escolhe um pra senhora. É presente meu!
Edith Piaf teve um seríssimo problema de visão na infância, que a deixou completamente cega dos três aos sete anos de idade. Foi criada no bordel de sua avó paterna, já que sua mãe a abandonou ainda bem pequena. As profissionais da casa, administrada pela avó, levaram a menina Piaf para orar no túmulo de Santa Teresinha de Lisieux. A menina recebeu da Santa — uma de suas prometidas flores (“farei cair uma chuva de rosas”) — um dos mais belos e valiosos milagres: recuperou a visão! Piaf permaneceu sua devota fiel pelo resto da vida.
Essa eu testemunhei pessoalmente:
Frank Sinatra fez o maior show da história da humanidade no Brasil, no Maracanã — mais de 180 mil pagantes para assistir a um único artista. Papai levou a mim e à mamãe para assistirmos, quando eu ainda era criança. Esse dia ficou marcado para sempre na minha memória e no meu coração.Chovia a cântaros. Não se sabia se Sinatra conseguiria cantar.
Até que anunciaram:
— Senhoras e senhores, com vocês: Frank Sinatra!
E as nuvens se abriram para Sinatra entrar em cena. O maior céu estrelado surgiu da tempestade. Sinatra olhou para o céu e disse, em inglês:
— Vejam como Deus é nosso amigo… Olhem para o céu!
Assim que Sinatra terminou o show, o Rio de Janeiro testemunhou uma das mais torrenciais tempestades de todos os tempos. A estiagem foi um presente de Deus — para a Cidade Maravilhosa, para os cariocas e para a Arte!
7 – Quais são os seus projetos futuros?
Muitos! Primeiramente… tentar fazer o dia ter 72 horas em vez de 24! (Risos). Estou analisando como conciliar, com a agenda, os convites para a apresentação da série de shows temáticos “Helcio Hime Canta & Conta” em turnês regionais fora do Rio. Quero também enfatizar toda a parte de treinamento de idiomas e oratória na divisão de comunicação da Hime. Já na área da informática, pretendo lançar pacotes ensinando como utilizar a Inteligência Artificial na geração de conteúdo e palestras — inclusive em múltiplos idiomas.
Outro projeto é terminar de escrever meu livro sobre como emagreci 35 kg em poucos meses (faltam poucas páginas). Pretendo também lançar minhas músicas autorais, tanto as peças clássicas quanto as populares, em diversos ritmos. Esses são apenas alguns dos projetos… vem mais por aí!
Aproveito a oportunidade para saudar meu querido e talentoso amigo Chico Vartulli e agradecer por estas maravilhosas perguntas — enviando um abraço especial a toda a equipe da Revista do Villa e ao querido Villarino!

Fotos:: Arquivo pessoal/Divulgação
Chico Vartulli


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