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Revista do Villa

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Entrevista: Carol Rosman, a mulher-música

A minha entrevistada é CAROL ROSMAN, a mulher-música. 


Um flash exclusivo para coluna de Carol Rosman .
Um flash exclusivo para coluna de Carol Rosman .

1) O que fez a menina Carol iniciar os estudos de piano clássico aos seis anos?


Olá, Chico, é maravilhoso dividir com você e os seus leitores um pouco do meu envolvimento com a música e das minhas aventuras culturais.


Obrigada pelo título da entrevista. Adorei!


A menina Carol, aos três anos, ganhou um pianinho de brinquedo com uma escala, e logo aprendeu o dó ré mi fá sol lá si dó. Brinquedo favorito. Aos cinco, já conseguindo alcançar o teclado no piano de verdade, a família achou que a menina tinha algum talento. Minha mãe, boa  pianista, me ensinou a primeira música: “Frère Jacques”. Eu aprendi rápido e ela decidiu me ensinar a ler partituras simples. Diante da minha facilidade, achou que eu devia estudar formalmente o instrumento. Assim cheguei ao Instituto de Música Luciano Gallet, da professora Sylvia Tavares, casada com o pianista Roberto Tavares. Esse instituto tinha convênio com o então Conservatório Nacional de música, hoje Conservatório Brasileiro de Música. Lá permaneci até os 15 anos.



2) E a chegar a se formar em Teoria Musical e Harmonia pela mesma escola vinculada ao Conservatório em 1973? 


O diploma em Teoria Musical obtive aos doze anos…ou menos, aos onze. Em seguida estudei harmonia. Comecei muito cedo e fui boa aluna, fazia dois anos em um etc. Mas a exigência era imensa, tanto por parte das professoras de música, quanto pela minha mãe. Ela talvez projetasse em mim a bem sucedida pianista clássica que não foi. Eu nunca tive tal ambição. Tocava porque amava tocar. O tempo de parar os estudos que demandavam horas – três a quatro – de prática diária veio de repente, no início da adolescência. Comecei a tocar violão sozinha, aprendi a levada de bossa-nova e curti demais tocar música popular, algo que eu não fazia ao piano. Dona Sylvia ficou extremamente aborrecida comigo. Dizia que as cordas do violão me criariam calos que deformariam as pontas dos dedos e isso comprometeria o meu desempenho ao piano. Senti-me ultra  pressionada e, sob uma torrente de protestos, dei um tempo no instrumento. Tocava em casa, quando e como me desse vontade. Isso tudo aos 15, período em que pipocavam namoradinhos  – “puppy love”. Foi um pouco antes de eu sair do colégio de freiras e entrar para o Colégio Andrews. Acabei não voltando ao Instituto de música e, devagarinho, fui deixando o piano sério de lado, mas jamais a música!



3) E a transição para o curso de Direito na PUC/Rio de 1977 a 81, com o ingresso no escritório de advocacia do famoso Senador Nelson Carneiro, idealizador da lei do divórcio no Brasil?


Meus pais eram advogados. Minha mãe sempre me disse que eu seria uma ótima  advogada. Dizia que eu falava e escrevia muito bem, além de saber argumentar. No meu caso, a adolescência – após os 15 –  foi um período incrível, eu só pensava em  me divertir. Era ocupada demais antes. O sério estudo de música, de inglês e de francês exigiam tempo e dedicação. Estudava num colégio de freiras. Detalhe: eu era a única filha de desquitados aceita; e a condição era que isso não fosse revelado a ninguém. “Punk!”. Aos 16, fui para o Andrews, colégio puxado, conforme diziam na época, mas eu passava de ano - um compromisso que firmei comigo mesma. Queria mais era sair com os meus amigos de todas as tribos.  Continuava os estudos de inglês na Cultura Inglesa, onde também me divertia a valer. Nem questionei a sugestão de  fazer vestibular para Direito. Estava decidido. Eu tinha certeza que ia passar. E passei. Dois anos depois, após ter feito um estágio na Imobiliária Litorânea, do Dr. Drault Ernanny,  recebi um convite para estagiar no escritório do então Senador Nelson Carneiro, o “pai” da Lei do Divórcio, e do Dr. Orlando Pereira, presidente da ABDF (Associação Brasileira de Direito de Família). Foi uma experiência maravilhosa, mas igualmente sofrida. Um escritório de Direito de Família para alguém que viveu questões de família. A imaturidade contribuiu. Permaneci seis anos no escritório. Fui fazer psicanálise. Graças a isso, concluí que eu podia ter até talento, mas não tinha vocação. E qual seria ela? Escrever… poesia, ficção…e dar adeus às petições iniciais!


Desde a PUC, eu sabia que não exerceria a advocacia a vida toda. O curso de Direito oferecia matérias empolgantes, como Filosofia do Direito, Direito Internacional, Direito Penal. O que ficou de mais precioso, entretanto, foi a vida universitária, o dia-a-dia, a convivência com pessoas de idades, procedências e posições diferentes, com objetivos tão diversos. O pilotis da PUC era palco de atividades sociais nos intervalos das aulas – badalação, paquera rsrs – e de  manifestações políticas verdadeiramente importantes. Tudo aquilo era fascinante. Não me tornei uma jurista, contudo não me arrependo nada de ter me formado em Direito e de pertencer à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).



4) E essa nova guinada profissional na área cultural, agora para o estudo das Letras, também na PUC?


O fato é que não houve uma guinada. Desde os cinco anos, quando aprendi a ler, comecei a devorar livros e revistas de história em quadrinhos, revistas tipo “Reader’s Digest”, tudo o que havia por perto. Vivia cercada de livros e discos. Uma enorme sorte. Filha única, se não tinha ninguém para brincar, a diversão era o piano e a leitura. O interesse pela escrita foi consequência natural. Sempre gostei das aulas de Português. Adorava gramática e redação. Escrevia poemas até mesmo em inglês, mas só mostrava em casa e para uma professora da Cultura, amiga da minha família, Mrs. Cunningham, grande incentivadora. Nunca deixei de ler, nem de escrever, nem de ouvir música.



5) E mais um acréscimo intelectual - ou melhor, dois: para a filosofia e a psicanálise! Que curiosidade!


A família da minha mãe tinha muito apreço pelo intelecto. Gente viajada e culta. Não que a família do meu pai também não o  tivesse, mas eu convivia mais com o lado materno. Minha avó, mãe da minha mãe, conhecia bem a mitologia grega e, desde que eu era pequena, ela conversava muito comigo sobre os deuses e o que representavam e como a filosofia surgiu. A criança vai absorvendo tudo ao seu redor. Aos 13, inventei de fazer faculdade de filosofia, porém fui desencorajada pela minha mãe e por um tio avô que era embaixador. A situação política era  complexa e temiam que eu me engajasse em movimentos contra a ditadura. Isso havia acontecido com primos meus. Tempos depois de formada em Direito, frequentei por dois anos um grupo de estudos do professor Augusto  Madureira de Pinho com participações do escritor, psicanalista e filósofo Luiz Alfredo Garcia-Roza, por coincidência, ex-marido de minha prima Glória Leal Garcia-Roza. Filosofia é um assunto atraente. A psicanálise me arrebatou no momento em que eu precisava de ajuda para resolver o dilema profissional: um emprego bom, pessoas adoráveis, um renomado escritório de advocacia, mas detestava o trabalho que fazia. À medida que era analisada, crescia a minha curiosidade sobre a teoria freudiana. O “divã” me fez voltar à PUC para estudar Letras. A essa altura, uma amiga, formada em Letras, e que compartilhava o mesmo interesse pela teoria psicanalítica, me chamou para participar do grupo de estudos do médico e professor Francisco Dauldt. Outra experiência sensacional. Durou dois anos.  O tempo certo para obter as “ferramentas” e continuar os estudos sozinha. “O Mal Estar na Civilização” de Sigmund Freud é, até hoje, um dos meus livros de cabeceira. O processo todo – abandonar o Direito, voltar para a PUC para estudar Letras, participar dos grupos de estudo, se deu simultaneamente. Eu tinha 26 anos e uma voracidade em relação ao saber. Foi tudo  bom demais!

Em momento musical com Bernardo Vilhena e o Raul de Souza. 
Em momento musical com Bernardo Vilhena e o Raul de Souza. 

6) Depois vem a poesia, com um livro seu apresentado pelo acadêmico da ABL Antonio Houaiss - uma virada total?


De certa forma, uma virada. Quanto ao meu livro “Mar Aberto”, tive o incentivo do escritor, cientista político e advogado Antônio Fernando de Bulhões Carvalho. Ele gostava do que eu escrevia e insistiu que eu publicasse. A José Olympio se interessou e assim foi feito. Conheci Antonio Houaiss, João Cabral de Melo Neto – um ídolo – e muitos  imortais da ABL naquela  época. Todos me receberam de braços abertos. Guardo as cartas que me escreveram com incentivos e elogios. Mas eu tive receio de me expor para a minha geração. Um amigo editor queria me levar para o CEP 20.000 e eu me esquivei. O livro me deu muitas alegrias. Eu sempre escrevi e continuo escrevendo. Deixei de lado a poesia e mergulhei na prosa. Tenho alguns engavetados. Um dia, publicarei. Em suma, sigo escrevendo, apesar de a música ter inexoravelmente me envolvido de forma quase absoluta.



7) Como foi seu encontro com o poeta, compositor e letrista Bernardo Vilhena, com quem está hoje casada - foi a poesia que os uniu?


Na época do Andrews, tinha uma turma “cabeça”, que gostava de arte, cinema, teatro, música, poesia. Eu adorava o Clube da Esquina, Caetano, Gal, Bethânia, Gil, Mutantes, entre outros da música brasileira. No entanto, meu coração acelerava com o rock progressivo – Pink Floyd, Genesis, Yes… Uma observação: Beatles “forever”. Gostava também do som que rolou em Monterey Pop e Woodstock - Jimi Hendrix, Carlos Santana (sou louca por ele) etc. Aqui surgiu o Vímana, banda de rock progressivo “made in Brazil”. Seus integrantes eram Ritchie, Lulu Santos, Lobão, Luiz Paulo Simas e Fernando Gama. Bernardo Vilhena escreveu algumas letras e fazia umas intervenções nos shows. Ele era um jovem, eu, uma adolescente de 16 anos. Virei fã. Depois veio o movimento de poesia marginal chamado Nuvem Cigana, formado pelos poetas Chacal, Bernardo Vilhena, Charles Peixoto e Ronaldo Santos, Guilherme Mandaro. Minha turma “cabeça” e eu piramos com o que faziam. Mais tarde, nos anos 80, Bernardo começou a escrever  letras de música direto. E eu ouvia no rádio e pensava “que letras fabulosas do   Bernardo Vilhena!” Eu: sempre fã!! Só fui apresentada a ele nos anos 2000. Fui vizinha do Ritchie e do Lobão, alguns dos seus grandes parceiros. Bernardo frequentava os apartamentos deles e eu nunca sequer o vi no prédio em São Conrado. Em 2003, uma cantora amiga,  Karla Sabah, me convidou para ir à casa dela tomar uns proseccos – era a febre do prosecco – antes de um show do Alceu Valença no Canecão. Eu fui. Bernardo também. Fomos apresentados. Conversamos um pouco. Dois meses mais tarde nos tornamos amigos e namorados. Fizemos alguns projetos juntos, como o CopaFest, festival de música instrumental brasileira no Copacabana Palace, ideia do Bernardo. E continuamos trabalhando juntos em alguns projetos.



8) Pelo jeito, a música voltou à sua vida junto com suas letras, com a poesia, foi isso?


A música jamais saiu da minha vida. Até hoje toco piano. Batuco. Só para mim. Sendo amiga de alguns dos maiores pianistas brasileiros, conheço o meu lugar. Adoro quando vêm aqui em casa e tocam!!



9) Até que um dia, em 2009, surgiu a sua empresa Carol Jazz Design, certo? Conte, de lá para cá, como hoje você vive e se dedica totalmente à música, ao jazz que passeia delicada e energeticamente do Teatro Rival na Cinelândia aos salões do Country Club em Ipanema.


Muito obrigada pelo “delicada e energeticamente”. Sem modéstia, acho que é desse jeito mesmo que eu tento fazer. A música não tem fronteiras. Adoro o Rival, o Country Club, o Copacabana Palace, o Manouche, o Soberano, o saudoso Mistura Fina, todos os lugares onde produzi shows e outros palcos onde gostarei muito de apresentar o meu trabalho com artistas que admiro.


Em 2009, constituí a minha empresa, mas já trabalhava com música antes, ainda em 1999. Comecei a acompanhar shows e aprender sobre produção com o cineasta, diretor de teatro e tv, compositor e músico, criador do Teatro do Som, Paulo Martins. Ele era o melhor amigo do gigante maestro, compositor, arranjador, saxofonista, clarinetista Paulo Moura, outro super amigo que tive, assim como continuo amiga da viúva dele, a escritora e psicanalista Halina Grynberg, e do filho Domingos. Depois, realizei alguns pequenos projetos até chegar ao Prosper Jam. Patrocinado pelo Banco Prosper, o projeto durou quatro anos…acho que até mais! No início, o projeto foi no Drink Café, em parceria com o saxofonista AC, Afonso Claudio. Nos mudamos para o Armazém Digital Leblon, no Shopping Rio Design, onde permanecemos de 2004 a 2008. Nesse meio tempo, o AC saiu e o meu  queridíssimo amigo, giga fera no sax alto, Idriss Boudrioua, entrou. Os outros integrantes do quarteto, músicos fabulosos, eram Marco Tommaso (piano), Tony Botelho (contrabaixo) e Renato “Massa” Calmon (bateria) até que o Armazém fechou. Eu já produzia shows no Clube Katmandu, na Lagoa, e seguimos com o projeto lá. O projeto Prosper Jam foi fantástico, influenciou muita gente. Apresentou   inúmeros músicos de alto quilate, jovens talentos que hoje brilham no cenário internacional. Conheci muitos frequentadores, pessoas incríveis que gostavam de jazz, de música em geral. Ainda fiz muita coisa antes e depois do Prosper Jam até chegar aqui. Por exemplo, produzi o show de lançamento do CD ‘Dorival’ do meu outro “brother/ídolo”, Tomás Improta, na saudosa Modern Sound, na Rua Barata Ribeiro. Tinha fila de gente na porta que não conseguiu entrar. Acho que foi o meu primeiro sucesso retumbante como produtora. Outro projeto bacana foi o do Bar do Copa, no Copacabana Palace. Formei uma super banda: Widor Santiago (sax, flauta), Marco Tommaso (piano), Alberto Continentino (baixo e contrabaixo) e Renato “Massa” Calmon (bateria). A maravilhosa cantora Thalma de Freitas fazia participações especiais. Durou  alguns meses e logo, logo veio o CopaFest, considerado pela imprensa, sobretudo paulista (Folha e Estadão), o maior festival de música instrumental brasileira. Só para completar, durante a pandemia, consegui reunir meus amigos virtuoses Tony Botelho, Marco Tommaso, Renato “Massa” Calmon e Jessé Sadoc para cada um gravar da sua casa. Batizei de Rio Jam. Os vídeos estão no meu canal de YouTube Carol Jazz Design. Rio Jam é  um projeto que pretendo dar continuidade.



10) E, finalmente, quais são os seu planos à frente, para o futuro - sempre com a música ao seu lado?


O show RAUL DE SOUZA–BONE, reverenciando o mestre trombonista, um dos maiores do Brasil e do mundo, de todos os tempos, que nos deixou em 2021, é um projeto já conhecido do público carioca e elogiado pela crítica. Existem altos planos para o seu futuro. Tenho a sorte de poder trabalhar só com quem gosto e com o tipo de música que gosto. Sou eclética. Muitos estilos me encantam, não apenas a música instrumental. Gosto é um tema subjetivo, mas eu só gosto do que é bom rsrs. Tenho produzido shows dos quais me orgulho e pretendo seguir criando, fazendo a direção artística e produzindo!


Voltando à filosofia, citando Nietzsche: “Sem a música, a vida seria um erro.”

Curtindo arte com Sergio Zobaran
Curtindo arte com Sergio Zobaran

Fotos:Cristina Granato.


Chico Vartulli

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1 comentário


Convidado:
21 de set.

Exelente e interessante entrevista!

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