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Entrevista: Bernardo Vilhena - Poeta

Entrevista com Bernardo Vilhena, poeta,compositor e roteirista.

Bernardo Vilhena  - 2025
Bernardo Vilhena - 2025

1- Olá Bernardo! Você está se dedicando à pesquisa de um documentário sobre as Américas. O que você poderia nos adiantar sobre a produção?


Esse é um projeto à moda antiga. A la Sartre. Um projeto para a vida inteira. América é o Novo Mundo. O continente que abriga a maior potência militar das últimas décadas. O país responsável por tornar o inglês o idioma dominante na cultura, na política e na economia. E, também, o responsável por colocar os anglo-saxões no comando do planeta, tomando o lugar dos latinos e sendo responsáveis por um domínio militar mais violento, mais armado e com possibilidade de destruir o planeta. E é interessante notar que a China, nos séculos das grandes navegações e dos grandes saques ao novo continente, preferiu não tentar explorar o Atlântico Sul e consolidar o território conquistado. E a China tinha, nessa época, uma frota de navios  com 10 vezes a capacidade de carga de qualquer navio europeu. O mundo dá voltas.


2- Para você, o que é ser um poeta? Como você define a poesia?


Ser poeta é, antes de qualquer coisa, ter prazer em ler e escrever.

A poesia é a arte da reflexão e da expressão dos momentos e dos sentimentos de uma época. E, sobretudo, a consciência de que a linguagem não evolui, ela se transforma. Os poetas conversam entre si através de seus textos. E esse diálogo vem sendo construído através dos séculos. Não existe diferença entre muitos pontos de vista de diferentes poetas em diferentes épocas. É como a relação dos povos originários com o planeta que, por não ter escrita, os conhecimentos foram mantidos pela tradição oral.


Carol Rosman e Bernardo Vilhena
Carol Rosman e Bernardo Vilhena

3- Em suas poesias, qual ou quais assuntos mais lhe despertam interesse?


A vida. O ser. Viver. Essa experiência comum, coletiva. E a experiência incomum. Individual. Introspectiva. A vida e seus infinitos aspectos. Sejam íntimos, pessoais ou sociais. A própria poesia e seu permanente chamamento para a constante observação de tudo. Absolutamente tudo. E o amor, é claro!


4- Você roteirizou e apresentou com Nelson Motta o programa “Noites Cariocas”, na radio Nacional. Como foi essa experiência?


Na verdade, o roteiro era feito por um grupo de poetas, do qual eu fazia parte — a Nuvem Cigana. Aconteceu no momento exato da dissipação do grupo. Penso ser importante fazer uma rápida apresentação do grupo. Éramos 5 poetas: Guilherme Mandaro, Chacal, Charles, Ronaldo Santos e eu. Nós nos apresentávamos, a partir de 1975, em lugares como a livraria Muro em Ipanema, que hoje é Livraria da Travessa, no Parque Lage à época da direção de Rubens Gerchman na Escola de Artes Visuais, no Planetário da Gávea, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, no Theatro Municipal de São Paulo, no Teatro Galpão de Brasília e outros locais menores em tamanho, mas não em importância. Nosso espetáculo era de poesia falada, que chamávamos de Artimanhas.

Dando continuidade: o Chacal tinha ido morar em Brasília, quando o Nelson Motta convidou a gente para fazer um programa na Radio Nacional — Noites Cariocas. Além dos já mencionados, tinha também o DJ Dom Pepe. O programa era de música, entrevista e um quadro de ficção de humor, que era escrito por Charles, Ronaldo e eu. Foi um grande sucesso — de certa forma a estrutura do programa de radio foi transplantada para a TV, gerando o programa Armação ilimitada. O Nelson Motta e o Charles faziam parte do time de roteiristas.



5- Como foi a sua experiência na extinta TV MANCHETE?


Eu tive duas experiências, para mim, marcantes na TV Manchete. Uma, a mais importante, foi uma série de 5 especiais sobre o programa Conexão Internacional. Um programa de entrevistas com celebridades do mundo inteiro apresentado por Roberto D’Ávila, Direção de Walter Salles e Direção de Produção de Fernando Barbosa Lima. Eu fui convidado para dirigir essa série e tive a oportunidade de assistir todos os programas, convidamos a Bruna Lombardi para entrevistar Roberto D’Ávila. José Guerra era o  Diretor de Fotografia e João Paulo Carvalho o Editor. Um time de primeiríssima linha. Essa experiência teve uma grande surpresa porque o programa seria apresentado no sábado e eu tinha uma viagem para Paris no Domingo. Na segunda-feira da semana da estreia, Adolpho Bloch entrou na sala de edição, assistiu dez minutos do trabalho, virou-se pra mim e perguntou: Nós temos quantos desse? Eu respondi: Um. Ele falou: Quero cinco! Virou as costas e saiu. Imediatamente eu pensei na viagem. Eu não tinha como adiar. Trabalhamos dias e noites quase sem dormir. Lembro que João Paulo passou muitas noites dormindo na sala de edição. Aumentamos o número de entrevistados e demos mais tempo para as perguntas de Bruna Lombardi e as resposta de Roberto D’Ávila. Ainda bem que a entrevista não era sobre cada um dos entrevistados, nós exploramos momentos marcantes e divertidos.


A outra experiência foi o roteiro de um Especial de fim de ano com Lucia Veríssimo e Osmar Prado nos papéis principais, Direção de Mauricio Capovilla e a participação das grande bandas e os grandes cantores surgidos nos anos 80. É a história de um casal que se conhece em uma boate, onde tem música ao vivo, namoram e se casam nesta boate em meio a infindáveis confusões que levam a um grande final. É uma comédia de erros.


Bernardo Vilhena atuando
Bernardo Vilhena atuando

6- Você escreveu o libreto para a ópera “O Cientista “sobre a vida de Oswaldo Cruz – com música do maestro Silvio Barbato. O que mais lhe chamou atenção na trajetória do cientista Oswaldo Cruz?


O romantismo em seu sentido mais amplo. Seja no amor, no seu apaixonado casamento; ou no trabalho, ao acreditar na extensão que seu sonho poderia alcançar ao abranger milhões de pessoas. Sua fé na ciência e na humanidade estava expressa em suas inúmeras cartas. Eu li seiscentas cartas para escrever este libreto e ter acesso ao seu vocabulário e a sua visão holística da vida, do mundo. Essa impressão de um ser humano romântico eu guardo até hoje, e foi o que eu falei na entrevista que dei à jornalista Monica Sanches para o Jornal Nacional na época.


7- Como foi a experiência de ter dirigido a cantora Gal Costa no show Hoje?


Em primeiríssimo lugar quero registrar a emoção de dirigir a cantora mais bonita e mais importante da minha geração. Gal cantava as melhores músicas dos melhores compositores brasileiros. E sua entrega nos ensaios era exemplar. Em todos, absolutamente todos os momentos do ensaio ela estava presente cantando. Não havia momento em que a banda estivesse ensaiando, resolvendo um problema específico de arranjo que ela não estivesse presente, cantando. Ela não abria mão disso. Teve um momento em que alguém falou que era um problema da banda, que ela não precisava cantar.  Ela falou, seca: Precisa sim! E como cantava!!!


8- Quais são os seus planos futuros?


Voltando à primeira pergunta, continuar minhas pesquisas sobre as Américas. E mais: lançar um novo livro de poemas que pode ser a qualquer momento, lançar o trabalho com a excelente cantora Ella Fernandes, terminar meu próximo romance e colaborar no que me for possível para ter um país mais justo e menos desigual.

Com os companheiros do grupo Nuvem Cigana   (da esquerda para a direita: os poetas Charles Peixoto, Chacal, Ronaldo Santos e Bernardo Vilhena)
Com os companheiros do grupo Nuvem Cigana (da esquerda para a direita: os poetas Charles Peixoto, Chacal, Ronaldo Santos e Bernardo Vilhena)

Fotos:Arquivo pessoal/Divulgação 

Chico Vartulli


 
 
 

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