Entrevista: Aldo Brizzi - Diretor Musical e Maestro
- Chico Vartulli

- 9 de nov.
- 3 min de leitura
Entrevista com o Diretor Musical e Maestro Aldo Brizzi.

1- Olá Aldo Brizzi! Como surgiu o projeto da ópera I-Juca Pieama?
Foi uma ideia de Paulo Coelho
2- Você, junto com o Gilberto Gil, são os responsáveis pela composição musical. Como foi o processo de criação? Como se caracterizam musicalmente as composições?
A gente se reuniu no estudio de Gil no Rio e começamos compor juntos até terminar a ópera.
Musicalmente quisemos salientar cada palavra do texto, cada sentido e sublinha-lo em música.
3- A ópera recupera tradições indígenas da Amazônia. Como o indígena e suas tradições sâo retratadas?
A ópera não busca “recuperar” tradições indígenas — elas nunca deixaram de existir. O que fazemos é levá-las ao palco em diálogo com outras linguagens artísticas: o canto lírico, a música sinfônica, o teatro e as projeções audiovisuais. Os artistas indígenas estão presentes como criadores e intérpretes, trazendo seus rituais, cantos e gestos para um espaço simbólico compartilhado, onde o palco se torna território de encontro e respeito entre diferentes formas de expressão.
4- A ópera deixa transparecer uma preocupação conservacionista? Justifique.
Mais do que uma mensagem ecológica explícita, I-Juca Pirama revela uma escuta da Terra. A destruição das florestas e as queimadas aparecem como feridas abertas na memória do I-Juca Pirama e de seu povo. A ópera nasce como um canto pela regeneração, onde o humano reencontra sua origem natural e espiritual. Não se trata de discurso, mas de sentimento: a música respira com a floresta.

5- Como as ancestralidades aparecem nas composições?
Elas estão no modo de conceber o som, no respeito ao silêncio e na circularidade do tempo musical. A ancestralidade é presença, não citação. Ela atravessa as vozes, os tambores, os modos de respiração. Em I-Juca Pirama, o antigo e o contemporâneo se tocam, revelando que a verdadeira modernidade está em reconhecer o que vem de muito longe.
6- Quando se deu o seu interesse pela música?
Desde criança, a música era uma forma de compreender o mundo. Aos poucos, ela se tornou também uma linguagem de ligação entre culturas. Sempre me interessou o ponto de encontro entre o erudito e o popular, o europeu e o americano, o ancestral e o eletrônico. Sem esquecer tudo o que aprendi com meus mestres — como Leonard Bernstein, por exemplo — que mostrava como a música sinfônica, no mais alto nível de profundidade e entendimento, podia coexistir com a música popular. Ele passava da Missa Solemnis de Beethoven a West Side Story sem perder a coerência e a escuta profunda dos sons e de suas articulações.
7- Como se deu a sua formação? Quais sâo seus espaços de atuação?
Minha formação começou na Itália, passou pela França e se aprofundou no Brasil. Trabalhei com orquestras, teatros e universidades de vários países, mas é no diálogo entre culturas que encontro o meu verdadeiro espaço de atuação.
8- Quais sao as suas principais referências no campo da música (teóricas e práticas)?
Minhas referências são múltiplas: de Mozart e Mahler a Gilberto Gil, passando pelas tradições orais africanas, indianas e ameríndias. Gosto de pensar que cada compositor é também um tradutor de mundos — e que a teoria serve apenas enquanto ponte para o som viver.
9- A ópera também será exibida em outras partes do Brasil?
sim temos projetos, mas antes de tudo aguardamos o resultado e o feedback de Belém.
10- Quais sao os seus projetos futuros?
Continuar nessa linha de criação entre música, tradição e inovação. Há novos projetos de ópera e também obras sinfônicas que aprofundam esse diálogo entre espiritualidade e contemporaneidade. Acredito que o futuro da música passa pelo reencontro com o planeta — e com a nossa escuta interior.

Fotos: Arquivo pessoal/Divulgação
Chico Vartulli

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