Entre o Porto e o Brasil, a arte que pulsa

Bordalo II, LIQUEN, Camilo Silva e Caroll Moreira em um diálogo entre o urbano, o natural e o humano.

“A tudo que, estando fora de nós, nos amplia, nos revela.”

A arte sempre será como a memória de um passado vivido ou a antecipação de um futuro que ainda está por vir. É expressiva, livre, autêntica e muitas vezes incompreendida, mas, ainda assim, permanece sendo arte, questionadora, pulsante e viva.

Na primeira edição da minha coluna para a Revista do Villa, falei sobre a intersecção entre moda e arte na atmosfera cool, fashion e criativamente vibrante da cidade do Porto. De forma sutil, quase imperceptível a um olhar desatento, o Porto exala charme, ousadia e elegância, mantendo, ao mesmo tempo, uma vocação urbana que o aproxima das grandes metrópoles cosmopolitas do mundo. Entre vielas, cafés e construções históricas, a cidade revela sua alma artística a cada esquina.

Foi atravessando a ponte que liga o Porto a Vila Nova de Gaia que encontrei uma das expressões mais emblemáticas dessa força criativa: o “Coelho”, ou Half Rabbit, do artista português Bordalo II, conhecido por transformar resíduos industriais em esculturas que desafiam o olhar e questionam o desperdício. A obra, meio escultura e meio pintura, dá nova vida ao que seria descartado e torna o Cais de Gaia um ponto de contemplação e reflexão.

De volta ao lado do Porto, em uma ruazinha discreta e quase secreta — considerada a menor da cidade —, outro olhar se impõe nas paredes: “O Gato”, criação do artista galego LIQUEN, captura em traços vibrantes a energia e o movimento da cidade. A figura felina parece observar o vai e vem urbano, símbolo de um Porto que se transforma sem perder sua essência.

Instalada na ensolarada Casa das Virtudes, um edifício do século XVIII, a Cooperativa Árvore surgiu nos anos 60 como um refúgio de liberdade criativa, idealizado por artistas, arquitetos e intelectuais do Porto. Desde então, tornou-se um marco cultural da cidade. Desta vez, volto-me ao Brasil, onde dois artistas se apresentaram no Bosco no Porto, em outubro, uma exposição que dialoga com o mesmo espírito questionador que encontrei nas ruas do Porto.

A exposição “Natureza Inventada” foi um verdadeiro brinde à criação e à sensibilidade, unindo os artistas brasileiros Camilo Silva e sua convidada Caroll Moreira nos jardins da Casa Bosco. Segundo o material de divulgação, a mostra apresentou um conjunto de pinturas em que Camilo explora o diálogo entre gesto e paisagem, entre o natural e o construído. Em paralelo, Caroll, em sua estreia na pintura, fruto de pouco mais de um ano de exploração e descoberta pessoal da artista.

O encontro entre as duas linguagens trouxe à tona uma harmonia instintiva: a maturidade poética de Camilo, em sua terceira exposição, e a expressão livre e emocional de Caroll, que traduz em cor e forma uma reflexão sobre a própria existência. “Criar é um modo de superar a ausência de um criador absoluto”, disse a artista — uma frase que parece resumir a essência dessa mostra.

O público português respondeu com entusiasmo: os jardins do Bosco se encheram de olhares curiosos e afetos despertos. As obras encontraram novos lares — todas vendidas —, num gesto simbólico que mostra como a Cooperativa Árvore continua a florescer, dando novos frutos e reafirmando o papel da arte como algo tangível, vivo e capaz de fazer sentir.

Se quiserem conhecer mais sobre Camilo Silva e Caroll Moreira, vale visitar suas páginas e mergulhar nesse universo criativo que tanto me encantou. 📸 Instagram: @camilosilvaart | @carolcaxemira 📩 Contato: camilosilvaart@gmail.com.

Eu confesso: saí de lá apaixonada e já quero uma obra para chamar de minha. Até a próxima edição, quando falaremos sobre Marrocos — e como Marraquexe se tornou o novo hit do momento. Posso adiantar? Eu simplesmente amei!

Créditos: fotografias acervo pessoal de viagem e fotografias cedidas pelos artistas Carol Moreira e Camilo Silva 

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Ana Paula de Deus

Jornalista / Observadora do encontro entre moda, arte e comportamento