top of page

Revista do Villa

Revista do Villa

Revista do Villa

Convidamos você a se juntar a nós nesta jornada, acompanhando as novidades e publicações

em forma de matérias, entrevistas e artigos realizados pela equipe de colunista.

Enquanto houver histórias para contar, o mundo continua

Estreou a peça teatral Ideias Para Adiar o Fim do Mundo, no teatro Futuros Arte e Tecnologia. A idealização é de Joao Bernardo Caldeira.

 

A peça teatral narra a trajetória de vida de Yumo Apurinã, há seis anos radicado no Rio de Janeiro. Ele é um indígena do povo Apurinã, nascido na Aldeia Mawanaty, no território Cinta Larga, em Rondônia, cuja vida é marcada por um intenso processo de massacre, desmatamento e evangelização.


Os aspectos da sua trajetória são cruzados com as obras, falas, o pensamento e a trajetória do líder indígena Ailton Krenak, possibilitando assim a realização de uma reflexão sobre o processo de violação dos povos nativos do Brasil.

 

O texto de Joao Bernardo Caldeira, e de Yumo Apurinã,  inspirado nas obras de Ailton Krenak, é denso, profundo, robusto, denunciador, reflexivo, e deixa transparecer a preocupação com os povos originários. Apresenta-se como um grito de alerta contra o processo de aniquilamento, destruição e esmagamento dos povos indígenas e suas tradições. É um texto que clama pela defesa das terras indígenas, pela preservação da floresta, e pela resistência cultural dos nativos. 

 

Conforme a fala de  Yumo Apurinã durante a sua apresentação enquanto continuamos a contar histórias adiamos o fim do mundo. As histórias narradas representam a vida, a sabedoria, o conhecimento, que é passado de geração a geração, por meio da oralidade, mantendo vivas as suas tradições socioculturais. São os legados vivos da ancestralidade. Portanto, enquanto houver vida, essas narrativas serão contadas e se perpetuarão, mantendo o funcionamento e a dinâmica das sociedades nativas, e impedindo a extinção do mundo.

 

Yumo Apurinã tem uma atuação notável. Ele domina o texto e o palco com segurança e firmeza. Atua e interpreta com uma técnica perfeita. E a esta última alia a emoção. Deixa transparecer uma forte carga emocional, ao colocar para fora a inquietude contra o processo de colonização que o seu povo viveu e continua a viver, processo liderado pelo homem branco, violento e usurpador. 



 A direção é de João Bernardo Caldeira. Ele deixou o ator a vontade no palco, e valorizou as suas interpretações nas diversas cenas, bem como seu gestual e corporal, marcada por sua intensa movimentação pelo palco.

 

Os figurinos criados por Wangleys Manaó são adequados e simples. Deixam transparecer as vestimentas do homem branco no corpo nativo. Ele nao está de tanga e cocar, mas de camisa de botão e calça. Num segundo momento, troca a camisa referida por uma do Brasil. E, em outro momento, fica com o peito nu, mostrando as suas tatuagens.

 

A cenografia criada por João Bernardo Caldeira e Yumo Apurinã é criativa e adequada. No centro do palco há um banco de madeira, e dois elementos aparecem pendurados por fios presos ao teto: uma pedra, e uma escultura com formato do mapa do Brasil.

 

Convém sublinhar que, para os indígenas, a pedra não é somente um material mineral, mas também tem um caráter sagrado, como montanhas, rios, entre outros.

 

A Iluminação criada por Djalma Amaral é adequada, apresenta um bonito desenho de luzes,  oscilando entre momentos de claridade, e momentos de escuridão.

 

As composições criadas por Xipu Puri e Felipe Storino, e a música "Um Indígena", de Kae Guajajara e Kandu Puri, deixam transparecer o quanto a sonoridade nativa é agradável e melodiosa.

 

Ideias para Adiar o Fim do Mundo apresenta uma dramaturgia crítica, densa e reflexiva; uma notável atuação de Yumo Apurinã, associando técnica e emoção; e, figurinos, cenografia e iluminação adequados ao espetáculo.

 


Excelente produção cênica!


 

Alex Varela


12 visualizações0 comentário

Comments


©2024 Revista do Villa    -    Direitos Reservados

Política de Privacidade

bottom of page