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Revista do Villa

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E “A melhor mãe do mundo”?

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Não é porque passei um momento difícil com a minha há poucos dias; não é porque eu também acho que a minha mãe é a melhor do mundo, mas esse filme mexeu muito comigo. Nesta coluna, sempre falo de aspectos técnicos de cinema como direção, fotografia, montagem, etc., mas esta vai ser diferente; quero te falar do que eu senti ao assistir ao filme. Topa?

 

Digo, orgulhosa, que “A melhor mãe do mundo” é um filme de mulher, de uma diretora e roteirista: Anna Muylaert. A própria Anna escreveu o roteiro em colaboração com a Grace Passô e a Mariana Jaspe. O resultado? Uma das coisas mais lindas que já vi no cinema. Esta é a história de Gal (Shirley Cruz), uma mulher que foge de um relacionamento abusivo com o marido Leandro (Seu Jorge). Depois de tentar em vão com as autoridades, Gal vai embora e leva seu casal de filhos com ela. Sem ter onde ficar com as crianças, Gal coloca-os na sua carroça de catadora de lixo reciclável e vai. Vai com medo, mas com uma força que só quem pariu consegue ter. E aí, o que poderia ser uma fuga desesperada é transformado em uma jornada mágica, uma “grande aventura” como ela mesma fala no longa. Vemos a mãe e as crianças sendo livres, tomando banho de chafariz, “acampando” na carroça e Gal fazendo de tudo para preservar os filhos. 

 

Não tem como não se lembrar de “A vida é bela”, de Roberto Benigni: os dois transformam a dor numa fantasia para os filhos. Tenho a impressão de que nos dois filmes, Gal e Guido reescrevem o mundo brutal para que o mundo real se perca.

 

Agora: Shirley Cruz! Meu Deus, que atriz é essa? Eu ri, chorei, senti orgulho e saí preenchida do cinema. É uma atuação sensível, tão cheia de humanidade que parece que estamos vendo o recorte da vida de uma mulher real, como se tivesse uma câmera escondida. É tudo junto: suor, silêncio, afeto com uma precisão técnica de atuação fantástica no jeito como a Shirley Cruz conecta voz, gesto e olhar. Que potência de atriz; ela faz parecer que cada passo da Gal é um grito para dentro, um desses gritos de amor que não é berrado. 

 

Não vá ao cinema esperando ver só uma aventura fofa e lúdica, é vida real. Gal tem cansaço, tem fome, tem medo. Mas tem amor. Sob o olhar de Anna Muylaert, “A melhor mãe do mundo” não é só bem contado, é bem cuidado. Cada cena parece ter sido escolhida com o mesmo zelo com que uma mãe separa o melhor pedaço para o filho, transformando o caos em uma narrativa que move a gente. Anna não aponta caminhos; ela os constrói, tijolinho por tijolinho. A gente vai junto, atravessa esses caminhos por ruas infinitas com a Gal e as crianças. No final, senti que não precisa ser só uma existência: ainda pode ser dança, ainda pode ser amor… Ainda posso abraçar a minha mãe! A vida venceu.


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Cláudia Felício

(roteirista, escritora best-seller e crítica especializada em cinema)

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