Depoimento de Berta Loran, em 1989, ao ator Delcio Marinho

"Sou filha de um alfaiate que também era ator e, desde criança, convivia com artistas israelitas. Aos 14 anos, fui dirigida por meu pai na peça clássica israelita O DIBUC. Aos 18 anos, tornei-me profissional e parti com minha irmã Bela para Buenos Aires, onde, nos anos 50, havia três companhias israelitas funcionando o ano todo. Como era novata, o ordenado era mínimo, mas eu comia arte. Os astros eram israelitas-americanos do mais alto gabarito e, com eles, aprendi todos os gêneros: drama, comédia, farsa, sapateado. Para aprimorar a voz que Deus me deu, resolvi estudar canto.

Com 26 anos voltei para o Brasil, Rio. Entrei para o teatro de revista com PUDIM DE OURO, ao lado de Mesquitinha e Eros Volúsia. Foram quatro anos de Praça Tiradentes.

Através da atriz Pepa Ruiz, que me admirava muito, e do empresário Giuseppe Bastos, fui convidada para ir a Lisboa com É FOGO NO PANDEIRO. Sucesso! Foram dois anos em cartaz em Portugal e na África Portuguesa. Eu tinha sido contratada por seis meses e fiquei seis anos. Foram onze revistas, uma opereta e a comédia BOEING BOEING.

Em 1963 voltei para o Brasil e fui fazer BOEING BOEING com Eva Wilma e John Herbert. Depois fiz DAMA DO MAXIM’S, direção de Gianni Ratto, no Maison de France, ao lado de Tônia Carrero e Paulo Autran. Fiz também O ALEGRO DESBUM, de Oduvaldo Vianna Filho; O ATELIER DE ZAZÁ e O PERU, de Georges Feydeau; CAMA REDONDA, CASAIS QUADRADOS, de Ray Cooney e John Chapman — todas sob a direção de José Renato. Atuei ainda em CINDERELA DO PETRÓLEO, de João Bittencourt, com direção dele mesmo.

Ainda em 1963, quando eu estava fazendo a comédia americana COMO VENCER NA VIDA SEM FAZER FORÇA, ao lado de Marília Pêra e Moacyr Franco, fui contratada pela TV Globo.

Participei de vários programas: Bairro Feliz, Balança Mas Não Cai, Faça Humor, Não Faça Guerra, Satiricom, Planeta dos Homens e Viva o Gordo. Foram 17 anos trabalhando ao lado de Jô Soares, Renato Corte Real, Milton Carneiro, Luiz Delfino, Brandão Filho e Paulo Gracindo.

Só fiz uma novela: AMOR COM AMOR SE PAGA, em que interpretava a Afrozinha, ao lado de Ary Fontoura. Atualmente estou no programa do Chico Anysio, na Rede Globo, aos 62 anos.

A última comédia que fiz no teatro foi no Teatro Copacabana: VIVA A NOVA REPÚBLICA, de Jesus Rocha, produção e direção de Carlos Imperial.

O artista nunca se realiza, mas eu me realizei um pouco quando, em 1980, escrevi e produzi meu show individual DIVIRTA-SE COM BERTA LORAN. Fiquei um ano em cartaz no Teatro da Praia e viajei durante um ano pelo Brasil."

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Delcio Marinho