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Revista do Villa

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Costallat: o best-seller esquecido

Benjamim Delgado de Carvalho Costallat nasceu em 26 de maio de 1897, no Colégio Militar do Rio de Janeiro, filho de dona Marietta e do diretor da instituição, general José Alípio Costallat. Viveu sua infância na Ilha de Paquetá, na praia do Estaleiro. Foi enviado ainda adolescente para Paris, onde foi estudar violino. Lá, recebeu a medalha de ouro do Conservatório de Música de Paris. De volta ao Rio de Janeiro, em 1914, tocava no cinema Odeon em uma orquestra comandada por Villa Lobos.


1. Da cadeira F número 2, o crítico teatral Costallat. Jornal O Imparcial. 1915. Fotógrafo desconhecido. Acervo BNRJ
1. Da cadeira F número 2, o crítico teatral Costallat. Jornal O Imparcial. 1915. Fotógrafo desconhecido. Acervo BNRJ

Costallat entrou para a Associação Brasileira de Imprensa em 1916, recebendo a carteirinha número 29. Neste mesmo ano, como colaborador do jornal O Imparcial, começou sua carreira como crítico teatral, aos 18 anos. Macedo Soares, diretor de O Imparcial, era sogro do general Alípio Costallat.


2. Costallat. 1922. Revista Souza Cruz. Fotógrafo desconhecido. Acervo BNRJ.
2. Costallat. 1922. Revista Souza Cruz. Fotógrafo desconhecido. Acervo BNRJ.

Ainda estudante de direito comercial, foi orador da recém-criada Associação Política dos Estudantes. Como resultado de sua vida acadêmica, lançou dois fascículos sobre “Elementos de Direito Comercial”, em 1917, um compêndio didático elogiado pelos “comercialistas". Aspecto pouco lembrado de sua juventude, nas horas vagas, era atirador e competidor do “Tiro da Imprensa”, organização que reunia os entusiastas da modalidade esportiva, no estande da Brigada Policial.


Em dezembro de 1918, foi lançado o livro de coletâneas de críticas escritas para o jornal O Imparcial, “Da Letra F. Número 2. O Municipal em 1918”, sobre a última temporada artística do teatro. O título se referia à numeração da cadeira em que se sentava para assistir aos espetáculos. Caiu no gosto do público.


2.1. Caricatura de Costallat na pena de Alvarus. Reprodução. 1931. Diário de Notícias. Acervo BNRJ.
2.1. Caricatura de Costallat na pena de Alvarus. Reprodução. 1931. Diário de Notícias. Acervo BNRJ.

Lançou o livro “A Luz Vermelha”, pelo editor M. Viggiani, em 1919, um compilado de contos curtos e de críticas aos costumes cariocas. Com ilustrações de Di Cavalcanti, inaugurou o tom de escândalo que iria caracterizar suas obras. Em outubro do mesmo ano, o jovem com rosto de adolescente casou-se com Carmen Vilmar.


3. Costallat em partida para Europa. Rodeado pelo General Costallat e sua esposa. 1920. Semanário Fon Fon. Fotógrafo desconhecido. Acervo BNRJ.
3. Costallat em partida para Europa. Rodeado pelo General Costallat e sua esposa. 1920. Semanário Fon Fon. Fotógrafo desconhecido. Acervo BNRJ.

Depois, entre 1920 e 1922, vieram os títulos: “Modernos”, “Mutt, Jeff & Cia” e “Depois da Meia Noite”. Nestes, era exposto o outro lado do cosmopolitismo do Rio de Janeiro, a pátria dos “almofadinhas”, os clientes da corrupção das grandes cidades: o proxeneta, o cocainômano, os fumantes de ópio, os bebedores de absinto, “macumbeiros”, as mulheres “mundanas” e “perdidas”. Eram os tempos da luxuosa livraria do coronel Leite Ribeiro, n’A Avenida. O estilo de escrever de Costallat era chamado de “nervoso”, cinematográfico, “a galope”. Hoje, diríamos que ele seria “polêmico” e que, tal qual um Marco Polo, em seu “Livro das Maravilhas”, falava de locais exóticos, nunca realmente visitados.


4. Capa do livro Depois da Meia Noite. Semanário Fon Fon. 1922. Reprodução. Acervo BNRJ
4. Capa do livro Depois da Meia Noite. Semanário Fon Fon. 1922. Reprodução. Acervo BNRJ

Em agosto de 1921, foi nomeado diretor das escolas de canto coral e de aperfeiçoamento do canto teatral do Municipal do Rio de Janeiro, assim como professor de estética musical da mesma instituição.


5. Costallat e o maestro Piergini na diretoria do municipal. Nova Escola de Canto. Semanário Fon Fon. 1921. Fotógrafo desconhecido. Acervo BNRJ
5. Costallat e o maestro Piergini na diretoria do municipal. Nova Escola de Canto. Semanário Fon Fon. 1921. Fotógrafo desconhecido. Acervo BNRJ

Com a publicação de “Mlle Cinema", em 1923, conheceu o sucesso estrondoso. Um dos maiores best-sellers da literatura nacional, escreveu sob influência nítida de “La Garçonne”, de Victor Margueritte. Vendeu mais de 75 mil exemplares em um Brasil analfabeto, rendendo mais de 70 contos réis. Lêdo Ivo, em artigo para a revista Manchete, já em 1968, dizia que a protagonista de “Mlle Cinema" era a “avó espiritual ou mesmo carnal das moças que hoje infestam o Arpoador”.


6. Caricatura de Costallat na arte de Romano. Reprodução. Revista Dom Quixote. 1920. Acervo BN.
6. Caricatura de Costallat na arte de Romano. Reprodução. Revista Dom Quixote. 1920. Acervo BN.

Fez uma pequena fortuna com as vendas e passou a editar seus livros. Com um amigo, em 1923, abre a Benjamin Costallat & Niccolis, editora com oficinas na rua do Lavradio, número 49 e loja na avenida Rio Branco, número 127. No mesmo ano, ainda lançou o novo título: Cocktail. Em 1924, “Mlle Cinema” continuou “causando”. A Liga da Moralidade mandou apreender a obra nas livrarias e Costallat foi processado. No mesmo ano, Oduvaldo Vianna, montou uma peça do mesmo nome, no Teatro Trianon. Em 1925, a atriz e produtora Carmen Santos produziu o filme naturalista Mademoiselle Cinema. Costallat lançou “Os Maridas”, no mesmo ano, uma crítica aos costumes masculinos cariocas. Como colaborador do Jornal do Brasil, reuniu suas crônicas em “Mistérios do Rio”, de 1924. Outro grande sucesso.


7. Carmen Santos e Alex Ortoff atuando em Mademoiselle Cinema, de 1925. Revista Filme e Cultura. 1967. Fotógrafo desconhecido. Acervo BNRJ.
7. Carmen Santos e Alex Ortoff atuando em Mademoiselle Cinema, de 1925. Revista Filme e Cultura. 1967. Fotógrafo desconhecido. Acervo BNRJ.

O que mais poderia faltar ao escritor? Entre 1926 e 1927, ele tentou entrar para a Academia Brasileira de Letras, sem sucesso. Em 1926, concorreu à cadeira 11 (Fagundes Varella), devido à morte de João Luiz Alves, em 1925. Entretanto, ganhou o poeta e jurista Adelmar Tavares, com 22 votos, que era o favorito. Em 1927, concorre novamente, agora para o lugar de Osório Duque Estrada, da cadeira 17 (Hipólito da Costa). Ganhou Roquete-Pinto. Mais tarde, já afastado da literatura, disse que ganhou em um dos escrutínios, somente “não tomou posse".


8. Salão do Livro de 1927. Costallat e um grupo de escritores. Revista da Semana. 1927. Fotógrafo desconhecido. Acervo BNRJ.
8. Salão do Livro de 1927. Costallat e um grupo de escritores. Revista da Semana. 1927. Fotógrafo desconhecido. Acervo BNRJ.

Publicou “Guria”, em junho de 1929, “Loucura Sentimental”, em 1930, adaptado por Jayme Costa, para a temporada do Teatro Municipal, em 1933. Seguiram-se os títulos “Katucha”, de 1931, escrita em 15 dias, adaptado de forma lamentável (segundo os críticos) para o cinema, em 1950, “Mulheres e Etc.”, de 1932, “Mulher da Madrugada” e “A Virgem da Macumba”, de 1934.


9. Costallat em seu apartamento no Flamengo. 1959. Correio da Manhã. Fotógrafo desconhecido. Acervo BNRJ.
9. Costallat em seu apartamento no Flamengo. 1959. Correio da Manhã. Fotógrafo desconhecido. Acervo BNRJ.

Nesse ínterim, Costallat prestou solidariedade ao então presidente Washington Luís, com presença no Palácio Guanabara, com várias autoridades políticas e intelectuais, no dia 5 de outubro, no âmbito da chamada “Revolução de 1930”.


10. Costallat em seu no Edifício Maximus. Seu cão e seus quadros. Revista da Semana. 1946. Fotógrafo desconhecido. Acervo BNRJ.
10. Costallat em seu no Edifício Maximus. Seu cão e seus quadros. Revista da Semana. 1946. Fotógrafo desconhecido. Acervo BNRJ.

Seu último grande ato foi ser convidado para fazer o discurso inaugural da Rádio Jornal do Brasil, em agosto de 1935. Costallat se isolou em seu apartamento, de número 1103, no bairro do Flamengo, no edifício Maximus. De lá saíram as últimas crônicas para o JB. Vivia com seu cachorro, um gato angorá e uma tartaruga. Vendeu sua biblioteca para o livreiro José Olympio. Não se interessava mais por literatura. O público o esqueceu porque os gostos mudaram. Brito Broca, crítico literário que faleceria meses depois, resumiu no obituário: Costallat era “uma época”. A prática jornalística se afastou das “letras” e abraçou os temas sociais reais. Não haveria mais espaço para “nefelibatas cheirando à água de colônia”, diriam os mais cruéis. O escritor morreu em 27 de fevereiro de 1961. Alguns se surpreenderam: ué, já não estava morto?


11. Costallat cachimbo susbtituiu os charutos. Revista da Semana. 1946. Fotógrafo desconhecido. Acervo BNRJ.
11. Costallat cachimbo susbtituiu os charutos. Revista da Semana. 1946. Fotógrafo desconhecido. Acervo BNRJ.


 Flavio Santos

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