O Glamour da Princesinha do mar
Ao longo da década dos 20, Copacabana passou por várias transformações em sua orla, algumas devido as frequentes ressacas e outras seguindo o desenvolvimento do bairro.
O proprietário da Empresa Balneária, que explorava as barracas para banho na praia de Copacabana, Luiz Dante Torre, teve a ideia de colocar bancos de 10 em 10 metros ao longo de toda a Avenida Atlântica, mas em 1926 a falta de bancos era cobrada à Prefeitura, já sob a gestão de Antônio da Silva Prado Junior. Começava também a construção de um prédio na esquina da avenida com a então denominada rua do Barroso, atual Siqueira Campos, projeto do engenheiro Eduardo Pederneiras e de propriedade dos srs. Rocha Miranda Filhos & Companhia Limitada. Mas o mais marcante fato de 1923 na avenida foi a inauguração do Hotel Copacabana Palace, ícone da arquitetura do Rio de Janeiro, que se tornaria um símbolo do glamour carioca. Na época de sua inauguração, era o maior hotel da América Latina e representava a modernidade da cidade.
Copacabana Palace
Construído entre 1919 e 1923, o Copacabana Palace foi erguido a pedido do então presidente Epitácio Pessoa (1919-1922), que desejava que a cidade do Rio de Janeiro – capital do Brasil na época – tivesse um grande hotel turístico.
A intenção era um projeto que ficasse para os anos seguintes, mas o foco inicial para o Hotel era ajudar a hospedar o grande número de visitantes esperados para a Exposição do Centenário da Independência do Brasil, um evento de dimensões internacionais, realizado na esplanada do Castelo, em 1922.
O empresário Octávio Guinle chamou uma grande equipe para erguer seu hotel, que foi o primeiro grande edifício de Copacabana, cercado apenas por pequenas casas e mansões.
“Para liderar a equipe que construiu o Palace foram chamados o arquiteto francês Joseph Gire e o engenheiro César Melo e Cunha. Gire se inspirou em dois famosos hotéis da Riviera Francesa: o Negresco, em Nice, e o Carlton, em Cannes. César impôs o mármore de Carrara e cristais da Boêmia. Foi um projeto marcante para época, pois essa região da Zona Sul da cidade ainda era pouco habitada. O Copacabana Palace mudou a estrutura social do bairro de Copacabana” conta o historiador Maurício Santos.
Entretanto, o hotel só foi inaugurado em 13 de agosto de 1923, quase um ano após a Exposição do Centenário. Isso se deveu às dificuldades na importação de mármores e cristais e na execução das suas fundações (com catorze metros de profundidade, conforme exigido pelo projeto); à falta de tecnologia e experiência no país para tal confecção; e a uma violenta ressaca que, em 1922, destruiu a Avenida Atlântica, causando danos aos pavimentos inferiores do hotel.
Para marcar a inauguração, contou-se com a presença da grande cantora, atriz e vedete francesa Mistinguett, que, mesmo tendo as famosas "mais belas pernas do mundo", foi proibida de mostrá-las na festa. Sua presença e sua apresentação tornaram a inauguração do hotel um evento de projeções mundiais.
Em sua abertura, só seis apartamentos estavam ocupados, mas sua equipe já contava com cerca de mil funcionários. As diárias custavam menos de 10 dólares e davam direito a pensão completa e transporte para o Centro da cidade. Desde o início sua marca era o requinte, a sofisticação e em um artigo publicado no mês seguinte a sua inauguração, a iniciativa foi muito elogiada.
O atraso na inauguração do hotel gerou uma polêmica. A área onde o hotel se encontra foi liberada por Epitácio Pessoa quando o mesmo era presidente. Epitácio queria o hotel pronto antes de 1922 (por conta da Exposição do Centenário) e em troca liberou que se fizesse um cassino no Palace.
Como não ficou pronto a tempo da Exposição do Centenário, o presidente Artur Bernardes tentou caçar o funcionalmente do cassino do Copacabana Palace. Mas ele perdeu na Justiça e essa área do Hotel ajudou a deixar o prédio ainda mais conhecido.
O Copa, apelido pelo qual ficou conhecido, teve seu batismo oficial realizado em 13 de agosto de 1923 com a visita do presidente da República, Artur Bernardes, em companhia de outras autoridades, dentre elas o prefeito do Rio de Janeiro, Alaor Prata. Foram recebidos por Octávio Guinle. No dia seguinte o hotel começou a receber hóspedes, distintos turistas e brasileiros da melhor sociedade.
Para o comando gastronômico do Copacabana Palace, foi contratado o chef Auguste Escoffier, trazido do Hotel Savoy, de Londres. Em 1930, com a contratação do chef tcheco Fery Wunsch como maitre sênior a cozinha do hotel se consagrou.
Rigoroso em relação a protocolos e etiquetas, Octávio Guinle criou o Código de Empregados da Companhia Copacabana Palace onde detalhava, em 18 itens, a conduta de seus funcionários. Para supervisionar o hotel, possuía, em seu quarto, a suíte B, um sistema de escuta que possibilitava que ele soubesse de tudo o que se passava no Copa.
Em 1934, foi construída a piscina do hotel, com projeto do engenheiro César Melo e Cunha, ampliada em 1949. Em 1938, inaugurou-se o "Golden Room", com um espetáculo do ator, cantor e humorista francês Maurice Chevalier.
Depoimentos:
"Av Atlântica, lindas casas construías pelas famílias Guinle, Dias Garcia, Paula Machado, imediações posto 03. Ainda hoje existe a casa dos Dias Garcia... Chateaubriand adquiriu por compra uma da família Guinle. Nesta avenida existiu o Hotel Londres muito antes do Copacabana Palace . Na esquina da Atlântica com Santo Expedito moravam familiares de Olegário Mariano. A área hoje é ocupada por um restaurante usado para festas no carnaval. 1918/1925 época de minha referência não existiam prédios (arranha-céu), somente casas. O primeiro edifício da Avenida Atlântica foi construído no final do Posto Seis, edifício Olinda, ali hoje é um hotel construído por Santos Dias (família pernambucana).
“Na esquina da Avenida Atlântica com Barrozo, Posto Três existia prédio servindo assistência pública como mais adiante uma escola pública. Ha um fato, acredito ocorrido 1919 a 1922, naufrágio e/ou encalhe de um navio mercante cujos restos permaneceram por muito tempo no local, era nas imediações hoje Copacabana Palace”.
Fontes:
Arquivo Pessoal
Biblioteca Nacional
Brasiliana fotográfica
Copacabana Palace Hotel
Instituto Moreira Salles
André Conrado
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