Bruxarias e Feitiçarias em Cartago
- Alex Gonçalves Varela

- 11 de set.
- 3 min de leitura
Estreou o III Festival Oficina da Ópera 2025 no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (TMRJ).
(Crédito das Fotos: Filipe Aguiar)

A ópera da estreia foi Dido e Eneas, de Henry Purcell, com libreto de Nahum Tate, estruturada em três atos. A direção musical e regência é de Jésus Figueiredo, que conta com a Ensemble Vocal CCTM, e Ensemble OSTM.
Dido e Eneas é uma ópera do período barroco, em específico do inglês. É equilibrada e harmônica a encenação de Daniel Salgado apresentada no TMRJ.
Narra a trágica história de amor entre Dido, rainha de Cartago, e Eneas, o herói troiano que, seguindo o destino de fundar a nova Troia, a abandona. Manipulado por bruxas que enviam um espírito disfarçado de Deus Mercúrio, Eneas parte, levando Dido a morrer de coração partido.
O elenco é composto por excelentes cantores, constituindo um competente time de solistas. Ganha destaque Denise de Freitas que faz Dido. Ela apresenta uma voz potente, afinada e límpida. A apresentação da ária “When I am laid in earth” foi notável.
Belinda por Loren Vandal também teve uma atuação correta e convincente, com um canto forte e envolvente. Outros destaques foram a feticeira, feita por Carla Rizzi, e as bruxas, feitas por Helena Lopes e Noeli Mello, cujas perversidades levaram a partida de Eneas, a morte de Dido, e a destruição de Cartago. Elas exibiram expressividade, e apresentaram vozes poderosas, bem apoiadas, e afinação precisa. Elas vestem vestidos negros.
Na época barroca ainda se acreditava em bruxarias e feitiçarias, elementos mágicos, que conviviam com a fé crista. Magia e fé. A coreografia de Mônica Barbosa apresenta bonitos desenhos coreográficos bem executados pelos bailarinos que integram a apresentação.
O belíssimo coro foi um dos principais êxitos da montagem, muito bem dirigido com qualidade, apresentando um trabalho notável de conjunto. Os integrantes trajam roupas pretas.
A apresentação da récita contou, também, com um maestro de qualidade, Jésus Figueiredo, que soube extrair boa sonoridade da orquestra e do coro. Houve um perfeito equilíbrio e amálgama do som do fosso com o som do palco.
A música de Purcell é de uma beleza de dramaticidade. A montagem se prendeu ao contexto da época barroca, em que se observa na cenografia e figurinos jogos de luzes e sombras.
Os figurinos criados por Ana Luísa Castilho são de bom gosto, e apresentam uma correta reconstituição de época, predominando o tom escuro, como o preto e o roxo. Contrasta a esse tom escuro, os figurinos de Dido, Belinda em tom verde, e de Eneas lembrando um militar.
A cenografia criada por Mariana Marton é correta, criativa e original. Observa-se o castelo da rainha Dido, com pilastras em tom cinza, contrastando com a entrada do salão do palácio, que apresenta uma cúpula inspirada na cúpula do TMRJ, com a figura de um pavão dourado, e um cortinado. Há também cadeiras, uma mesa, e um platô com degraus.
A cenografia e os figurinos se complementam. Bem como a boa iluminação criada por Filipe Magalhães, onde transparece o jogo de luzes e sombras.
Dido e Eneas é uma montagem de qualidade de uma ópera barroca, com um elenco forte e competente, e cenografia, figurinos e iluminação que se complementam e apresentando uma plástica de bom gosto.

Excelente produção de ópera!
Alex Varela






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