Brasil: Segunda edição do FliParaíba terá curadoria de escritor português
- Ígor Lopes

- há 15 horas
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Imagem: Centro Cultural São Francisco, em João Pessoa, na capital do estado brasileiro da Paraíba, acolhe a nova edição do FliParaíba. Foto: divulgação
O governador do estado brasileiro da Paraíba, João Azevêdo, anunciou a realização da segunda edição do Festival Literário Internacional da Paraíba (FliParaíba), com data prevista para os dias 27, 28 e 29 de novembro, no Centro Cultural São Francisco, em João Pessoa.
O evento parte de uma iniciativa do governo da Paraíba, por meio da secretaria de Estado da Cultura (Secult-PB), da Fundação Espaço Cultural (Funesc) e da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), em parceria com a Associação Portugal-Brasil 200 anos.
“O FliParaíba é um festival extremamente importante para a cultura, para a literatura e que se consolida no calendário de eventos de João Pessoa, representando também mais uma ação do nosso governo visando atrair pessoas para o Centro Histórico e promover a interação entre escritores, lançamentos de livros, apresentações musicais, e eu tenho certeza de que vamos ter três dias de muita celebração com a presença de um público ainda maior do que o registrado o ano passado”, frisou João Azevêdo.
Sob a curadoria do escritor português José Manuel Diogo, o segundo FliParaíba tem como proposta curatorial “Nossa Terra, Nossa Gente - Ancestralidade, Identidade e o Futuro da Democracia”, destacando a literatura como campo de disputa simbólica e como lugar de memória, escuta e invenção coletiva.
A partir de um olhar que une filosofia, arte e inteligência coletiva, o curador concebe o festival como uma cartografia de vozes e como um encontro com as vozes que habitam a terra: do barro ancestral às redes digitais, das oralidades indígenas às poéticas urbanas, das margens às academias.
O conceito curatorial é “Cada mesa é uma travessia entre mundos”, afirma José Manuel Diogo, acrescentando que “o FliParaíba não se limita a reunir escritores, mas a criar uma geografia simbólica da língua, onde o diverso se reconhece, se confronta e se transforma”.
A programação literária do Festival destaca nomes da literatura da Paraíba, do Brasil, de África e de Portugal, que vão compor mesas que interligam ancestralidade, identidade e expressões culturais diversas.
A programação contará com dez mesas temáticas, articulando três dimensões: um autor internacional, um brasileiro e um paraibano, somando, ao todo, mais de 30 convidados.
Entre as participações confirmadas estão os escritores Itamar Vieira Junior, da Bahia; o paraibano Bráulio Tavares; os vencedores do Prémio Camões, Silviano Santiago e Germano de Almeida; Odete Semedo, da Guiné-Bissau; e Inês Pedrosa, de Portugal.
Quanto à programação cultural, os destaques são os espetáculos de Maria Gadú e Camerata Parahyba, Mariana Aydar, Joyce Alane e Lukete, além de Coco Quilombola, Toré Indígena, Sarau Cigano, bem como a exposição "Versos Parahybridos" e Slam, batalha de poesia performática.
Entre as novidades desta edição, destaca-se um espaço destinado ao público infantil, com feira literária, contos de histórias e outras atividades, além de oficinas de cordel e xilogravura.
Um dos pontos marcantes do Festival desde a sua primeira edição é a Feira Literária, na qual os escritores podem inscrever-se para lançar as suas publicações.
José Manuel Diogo apresenta a FliParaíba como um projecto literário que nasce de uma necessidade urgente de olhar o Brasil a partir das suas zonas menos visíveis.
“A FliParaíba nasce de uma urgência. Nasce do desejo de olhar o Brasil a partir das suas margens, onde a democracia ainda pulsa com força e fragilidade”, afirmou o curador, ao destacar o território e o simbolismo que estruturam o festival. Este responsável acrescentou que o evento “nasce da terra seca e da palavra molhada de esperança”, sublinhando que pretende constituir-se como “um festival que não quer reproduzir modelos, quer propor novas formas de escuta”. Para José Manuel Diogo, a FliParaíba configura-se como “um espaço de reparação simbólica, de visibilidade e de encontro”.
Ao caracterizar o que o move na construção do festival, este escritor, com fortes ligações ao Brasil, reforçou a importância da cultura fora dos grandes centros.
“O que me move na FliParaíba é a convicção de que a cultura não se faz apenas com grandes centros, mas com gestos pequenos que iluminam a vastidão”, declarou o curador, que acrescentou que o evento “acredita que a literatura pode regenerar o país por dentro, que o livro pode ser ferramenta de afeto e de transformação social”.
“A cada edição, sinto que o sertão se alarga e o mundo se estreita. O que parecia distante torna-se vizinho; o que parecia silêncio transforma-se em canto. O que espero é que a FliParaíba continue a ser lugar onde a palavra tem corpo, onde a memória encontra o futuro, e onde a literatura não é apenas arte, mas forma de viver. Acredito que é nas margens que a democracia se regenera, e é no encontro dos nossos sotaques que o mundo encontra sentido. Entre o Recife e a Paraíba, a língua volta a ser casa, o pensamento volta a ser chão e o sonho volta a ser possível”, finalizou José Manuel Diogo.
Ígor Lopes

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