Borogodó
- Revista do Villa

- 8 de out.
- 4 min de leitura
“O mestre disse a um dos seus alunos: Yu, queres saber em que consiste o conhecimento? Consiste em ter consciência tanto de conhecer uma coisa quanto de não a conhecer.
Este é o conhecimento.”





Bruna Traesel fez carreira como modelo, começou a desfilar aos 14 anos quando se mudou para São Paulo e ao longo de 20 anos de carreira morou em cidades como Nova York e Milão. Ao se aposentar das passarelas pôde se dedicar à sua grande paixão, a pintura. As vivências adquiridas no acelerado mundo da moda, as paisagens, as histórias, mas principalmente as experiências que formaram seu olhar, ressignificaram-se e viraram alimento para os processos no atelier. O tempo da pintura não é como o da moda, com lançamentos a cada estação. E nisso Traesel surpreende. Com menos de um ano de dedicação intensa (importante reforçar), sua obra que naturalmente ainda está em construção já deixa pegadas de maturidade artística.
Com “Borogodó” a artista se confrontou com a necessidade de desacelerar e perceber que o tempo do atelier se contrapõe à velocidade e voracidade da vida contemporânea. Seu studio na Casa Arlete, um laboratório da liberdade, transborda um delicioso caos. Abstrações carregadas de intensidade e de excessos não deixam dúvidas da disciplina e da precocidade de suas soluções pictóricas. A tensão entre o visto e o sentido nas obras de Bruna Traesel opera numa fronteira instável e fascinante, o encontro entre a sensação e a estrutura. Não se trata de um expressionismo ou de uma abstração pura, que prioriza o gesto emocional, nem de um construtivismo que se apega à geometria, a sua pintura é um campo de batalha onde a gestualidade da emoção e espontaneidade da cor coexistem.
Os planos de cor nervosos, os grafismos quase infantis e as linhas inconscientemente planejadas que emergem, sugerem uma lógica, uma arquitetura subjacente. No entanto, essa ordem é constantemente sabotada por pinceladas afirmativas, rabiscos que parecem anotações de pensamentos esquecidos e espaços que só o plano pictórico é capaz de oferecer. A pintura de Bruna não busca a harmonia ou a síntese, mas a coabitação produtiva do caos e da ordem.
Suas pinturas são um tipo de palimpsesto urbano, a palavra de origem grega significa “aquilo que se apaga para escrever novamente”. (As cidades também podem ser lidas como palimpsestos, nesse caso, falamos em Palimpsesto Urbano). As memórias do plano não são superfícies neutras; são histórias com camadas de tinta, materiais, gestos e ideias sobrepostas. Há um embate físico de Bruna com a obra. As feridas cromáticas e as cicatrizes ritmadas que esse processo solitário vivido no atelier impregna em suas pinturas, são um deleite para olhares sensíveis. As cores das capitais, das paredes das cidades e das revistas, as marcas nas calçadas, a ansiedade dos backstages faz com que uma estética da ruína e dos muros se faça presente. A tela se torna um campo de vestígios, talvez de uma arquitetura que não existe mais, de anotações abandonadas, de emoções que foram apagadas e reescritas. A obra de Bruna é, portanto, uma arqueologia do presente, equilibrando o que está visível e o que está oculto.
Há um certo tipo de ansiedade, em alguém que escolhe recomeçar em um novo campo de atuação, que se bem trabalhado, pode fazer as coisas darem certo muito mais rápido. Isso foi uma das primeiras coisas que Bruna Traesel, com sua proatividade, me ensinou em nossas aulas de pintura. E é importante lembrar... eu sou o professor, ela a aluna. Ao longo dos últimos 15 anos venho ensinando pintura, pensamento criativo e estratégias de apresentação e desenvolvimento de carreira artística na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, a mais importante do país, e por isso tenho a sorte de me relacionar com diversos artistas em diferentes estágios de desenvolvimento, com seus processos, suas questões, seus desejos. Alguns, como ela, tem um algo a mais, uma fome de saber, uma vocação pelo acontecer, um brilho nos olhos. Bruna é dessas artistas que a razão pura não tem como explicar. Viva o Borogodó.
Bruno Miguel
Borogodó – Bruna Traesel
Bruna Traesel artista gaúcha de Porto Alegre abrirá, no dia 07 de outubro, “Borogodó” sua primeira exposição individual no espaço “XXXXX” no Casa Shopping. A artista que fez carreira como modelo, começou a desfilar aos 14 anos quando se mudou para São Paulo e ao longo de 20 anos de carreira morou em cidades como Nova York e Milão. Ao se aposentar das passarelas pôde se dedicar à sua grande paixão, a pintura. Ao se matricular na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, enxergou caminhos para desenvolver suas ideias e pares para essa jornada. As vivências adquiridas no acelerado mundo da moda, as paisagens, as histórias, mas principalmente as experiências que formaram seu olhar , se ressignificaram e viraram alimento para os processos no atelier. A necessidade de desacelerar e perceber que o tempo do atelier se contrapõe à velocidade e voracidade da vida contemporânea se tornou um novo desafio. E isso, sem dúvidas estará presente nas obras apresentadas em “Borogodó”. Atualmente é uma das artistas residentes na Casa Arlette na Gávea. Seu atelier, um laboratório da liberdade, transborda um delicioso caos. Abstrações carregadas de intensidade e de excessos não deixam dúvidas da disciplina e da precocidade de suas soluções pictóricas. As cores das capitais, dos muros e das revistas, as marcas das calçadas, a ansiedade dos backstages tudo isso faz com que seja impensável não conferir o “Borogodó” de Bruna Traesel.
Cristina Granato

Comentários