top of page
FB_IMG_1750899044713.jpg

Revista do Villa

Revista do Villa

Revista do Villa

Revista luso-brasileira de conteúdo sobre cultura, gastronomia, moda, turismo,

entretenimento, eventos sociais, bem-estar, life style e muito mais...

Bairros Históricos do Rio de Janeiro: O Imperial Bairro de São Cristóvão

Imagem  da Igreja de São Cristovao - séc XIX - Braziliana Fotografica
Imagem da Igreja de São Cristovao - séc XIX - Braziliana Fotografica

Os indícios de ocupação do atual bairro, se inicia no século XVI, onde havia uma aldeia indígena dos tamoios, da tribo dos araroues, aliados dos franceses quando do estabelecimento da França Antártica. Dizimados na campanha de 1567, em seu lugar estabeleceram-se os temiminós de Arariboia, que, na região, teriam estabelecido uma nova aldeia com o nome cristão do seu líder: Martinho.

 

A colonização efetiva da área se daria ao longo do século XVII, com a fundação da Igreja de São Cristóvão em 1627, então à beira-mar. Afirma-se que, à época, os pescadores amarravam as suas embarcações junto às portas da igreja para comparecer às missas. Outro eixo integrador era o Caminho de São Cristóvão, primitiva via que ligava a cidade do Rio de Janeiro aos engenhos de açúcar e roças do interior. A prosperidade do comércio surgido no entroncamento do ancoradouro com a antiga via fez surgir uma vila denominada de São Cristóvão, nome do padroeiro da igreja.

 

Em 1759, o Marquês de Pombal ordenou a expulsão dos jesuítas, e o governador da Capitania do Rio de Janeiro confiscou as terras de São Cristóvão dos jesuítas. As fazendas da região foram divididas em quintas e sítios menores, entre os quais a Quinta da Boa Vista, que foi desmembrada, tendo passado à posse de particulares.

Imagem de São Cristovão em 1862 - Arquivo Nacional
Imagem de São Cristovão em 1862 - Arquivo Nacional

Os anos correram e um só homem passou a tomar conta de todo espaço que hoje comporta a Quinta da Boa Vista: o comerciante português Elias Antônio Lopes, conhecido traficante de negros escravizados.

 

A presença de Elias no lugar inspirou o atual nome. No ano 1803, Elias ergueu um casarão sobre uma colina, da qual se tinha uma boa vista da baía de Guanabara e, do outro lado, a floresta da Tijuca e o do morro do Corcovado. Isso deu origem ao nome ‘Quinta da Boa Vista’” depois conhecido como "Paço de São Cristóvão", quando foi escolhido por D. João VI para ser o Palácio Real da Casa de Bragança, sete anos mais tarde. Após a Independência do Brasil tornou-se o Palácio Imperial, sendo vizinhado por outros solares onde residiam as famílias da nobreza; o que lhe deu a alcunha de Bairro Imperial.

 

Dada a carência de espaços residenciais no Rio de Janeiro, Elias doou a sua propriedade ao Príncipe-regente Dom João VI, para transformá-la na residência real. Este foi um belo golpe de estratégia de Elias, pois sendo conhecido por ter a melhor casa do Rio e ao oferecer tal tesouro ao Príncipe-regente, foi recompensado com outra propriedade que, embora fosse mais simples em estrutura, era bastante boa, em particular em frente à possibilidade de ficar sem nenhum caso não tivesse avançado tão habilidosamente. O comerciante também recebeu títulos de nobreza, além da a quantia de 21:929$000 – vinte e um contos, novecentos e vinte e nove mil réis – referentes ao pagamento das obras já realizadas e uma mensalidade para a conservação do edifício. O Príncipe-regente sentiu-se muito honrado com o gesto e a Quinta passaria a ser a sua morada permanente no Brasil, saindo do Paço Imperial da Praça XV.

Imagens do entao Paço Real de São Cristóvao - Inicio séc XIX - Arquivo Nacional
Imagens do entao Paço Real de São Cristóvao - Inicio séc XIX - Arquivo Nacional
Imagem do antigo Paço Real de São Cristovao - Arquivo Nacional
Imagem do antigo Paço Real de São Cristovao - Arquivo Nacional

Entretanto, o mar incomodava e manguezais e pântanos se estendiam pela região, incomodando os moradores com insetos e mau cheiro. Em torno da quinta, cresceram casarões, pavimentaram-se ruas, instalou-se iluminação pública. Ao longo do século XIX, o mar foi aterrado em vários metros (o acesso à Igreja de São Cristóvão passou a ser a pé) e os pântanos erradicados.

Imagem da planta da cidade do Rj np século XIX - Arquivo Nacional
Imagem da planta da cidade do Rj np século XIX - Arquivo Nacional

 

A família real portuguesa residiu no Paço de São Cristóvão até o regresso de Dom João VI a Portugal. Seu filho Pedro I e a Imperatriz, D. Leopoldina, após o casamento em 1817, passaram a residir no Paço. Ali nasceram a futura Rainha de Portugal, D. Maria II (4 de abril de 1819), nascida Dona Maria da Glória de Bragança, princesa da Beira, mais tarde princesa imperial do Brasil, e o futuro imperador do Brasil, D. Pedro II (2 de dezembro de 1825), cresceu no bairro e, de lá, governou o Brasil por quase meio século. Também ali veio a falecer, em 1826, a imperatriz Dona Maria Leopoldina. No Paço nasceu, em 29 de julho de 1846, a Princesa Isabel, filha de D. Pedro II com D. Teresa Cristina.

 

Para acomodar a família real, o casarão da quinta, mesmo sendo vasto e confortável, necessitou ser adaptado. A reforma mais importante iniciou-se à época das núpcias do Príncipe D. Pedro com Maria Leopoldina da Áustria (1816), estendendo-se até 1821.

Imagem do Paço da Quinta da Boa Vista - 1817 - Braziliana Fotofrafica
Imagem do Paço da Quinta da Boa Vista - 1817 - Braziliana Fotofrafica

Foi encarregado do projeto o arquiteto inglês John Johnston, que, além da reforma do paço, fez instalar um portão monumental em sua entrada, presente de casamento do general Hugh Percy, 2.º Duque de Northumberland. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, esse portão encontra-se atualmente destacado, como entrada principal, no Jardim Zoológico do Rio de Janeiro.


Imagem tirada do Paço de São Cristóvao em 1840 - Arquivo Nacional
Imagem tirada do Paço de São Cristóvao em 1840 - Arquivo Nacional

Entre as reformas empreendidas por D Pedro II na propriedade contam-se as enormes obras de embelezamento dos jardins, as quais, muitas características originais permanecem até os dias atuais, como a Alameda das Sapucaias.

Imagem do Palacio Imperial em 1860 - Aquivo da Biblioteca Nacional
Imagem do Palacio Imperial em 1860 - Aquivo da Biblioteca Nacional

A chegada da Família Real provocou uma série de transformações no bairro. Ao longo do reinado de dom Pedro II, a partir de São Cristóvão, iniciou-se a instalação de indústrias e a modernização da cidade com a instalação de uma central de telefones (a primeira linha da América do Sul servia o Paço de São Cristóvão) e uma rede de postes à luz elétrica nas ruas. O imperador ainda inaugurou o Observatório Nacional do Rio de Janeiro, centro de estudos avançados em astronomia e, ainda hoje, um dos principais centros dessa ciência no Brasil.

Imagem do antigo Observatorio Nacional - séc XIX - Biblioteca Nacional
Imagem do antigo Observatorio Nacional - séc XIX - Biblioteca Nacional

A partir do século XIX, a industrialização mudou o perfil do bairro, já não mais um lugar tranquilo próprio para o passeio de famílias. Iniciou-se a deterioração das construções mais antigas. Com o golpe de estado que instalou a república, a elite se redirecionou para os jovens bairros de Botafogo e Copacabana. O Palácio tornou-se a sede da Assembleia Nacional responsável pela Constituição Brasileira de 1891 e posteriormente do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Imagem do então Museu Nacional - Anos 20 - Braziliana Fotografica
Imagem do então Museu Nacional - Anos 20 - Braziliana Fotografica

Fontes:

Arquivo Nacional

Biblioteca Nacional

Braziliana fotográfica

UFRJ


André Conrado

ree

 
 
 

Comentários


©2024 Revista do Villa    -    Direitos Reservados

Política de Privacidade

bottom of page