Bairros Históricos do Rio de Janeiro – Glória
- André Conrado
- 22 de mar.
- 4 min de leitura
Durante o século XVI, em uma expedição francesa no Brasil, o escritor Jean de Léry relatou que existia uma aldeia tupinambá no sopé do atual Outeiro da Glória. A aldeia, que utilizava as águas do Rio do Catete, se chamava Kariók ou Karióg (“casa de carijó”) que deu origem ao termo “carioca”.

Assim como aconteceu no vizinho Catete, muitos conflitos entre portugueses e franceses e tribos indígenas aliadas aconteceram na região onde hoje fica o bairro da Glória.
“Em 20 de janeiro de 1567, em uma dessas batalhas, Estácio de Sá, líder português que fundou a cidade do Rio de Janeiro, foi ferido e acabou morrendo”, conta o historiador Maurício Santos.
O nome do bairro se deu por conta da Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, construída no século XVIII. Em torno do templo religioso, o bairro se formou e consolidou-se. Inaugurada em 1739, a Igreja é considerada uma joia da arquitetura barroca setecentista.

A respeito de sua história, é curioso saber que Cláudio Gurgel do Amaral, dono da Chácara do Oriente, doou as terras a Nossa Senhora em escritura pública de 20 de junho de 1699, com a condição de ser edificada ali uma capela permanente e nela ser sepultado com seus familiares e descendentes.
A igreja obteve um status especial a partir do século XIX, com a chegada da corte real portuguesa ao Brasil. O príncipe regente e futuro rei Dom João VI se afeiçoou ao templo, onde costumava assistir às missas. Seus sucessores mantiveram a preferência pela igreja. Dom Pedro I iniciou a tradição de batizar os príncipes em seu interior. Nela, foram batizados a futura rainha Dona Maria II e o futuro imperador Dom Pedro II (a princesa Isabel foi batizada na Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo). Até hoje, a Família Imperial Brasileira batiza suas crianças ali.

Já abaixo, na Rua do Catete 6, encontra-se o Palacete Cornélio. A belo palacete é mais do que uma simples construção.
Erguido em 1862, o edifício já foi o lar de famílias nobres da cidade do Rio de Janeiro durante o século XIX, incluindo a ilustre família de Cornélio Santos. No entanto, ao longo dos anos, o bonito palacete testemunhou um declínio preocupante, passando de uma joia arquitetônica para um símbolo de abandono e decadência.

Na mesma calçada, é possível também conhecer o Palácio São Joaquim propriedade da Arquidiocese do Rio de Janeiro.
Foi construído para ser a residência do primeiro cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti.


O terreno no qual foi erigido o Palácio São Joaquim havia sido antes local do palacete construído por Manuel Lopes Pereira Baía, Barão e Visconde de Meriti.
Os bailes que nele dava o Visconde, que era sogro do Marquês de Abrantes, marcaram época nas crônicas do Segundo Império Brasileiro, sob o reinado de D. Pedro II. O Imperador D. Pedro II e D. Teresa Cristina Maria costumavam frequentá-los, após os festejos em louvor a Nossa Senhora da Glória, no dia 15 de agosto de cada ano. Foi, num dos bailes nessa casa do Visconde de Meriti, que, pela primeira vez, o sorvete apareceu numa reunião familiar, servido no ano de 1835. Ao final da missa solene e festiva de N. Sra. da Glória, suas Majestades, D. Pedro II e D. Teresa desciam a ladeira da Igreja da Glória, dirigindo-se ao palacete Meriti, bem perto da dita Igreja, para tomar parte nos esplendorosos bailes oferecidos pelo Visconde de Meriti...
Tal Palacete foi comprado pelo Governo Federal, sendo nele instalada a Secretaria dos Negócios Estrangeiros. Em 1912, foi demolido o Palacete Meriti, e no seu chão vazio se construiu o novo Palácio Arquiepiscopal, denominado São Joaquim. Embora o prefeito Pereira Passos tenha reservado um terreno na Av. Rio Branco para a Mitra, esta preferiu trocá-lo pela propriedade do Visconde de Meriti localizada no bairro da Glória.
No final do século XIX e durante o século XX, o bairro da Glória viveu momentos marcantes. Foi considerada uma das regiões mais nobres da cidade, devido à proximidade com o Catete e suas sedes do governo e os hotéis e prédios históricos existentes na Glória.

Até os anos 1930, era considerado o "Saint-Germain-des-Prés carioca", pois, desde fins da década de 1880, abrigava hotéis que serviam de residência a deputados e senadores em exercício no Rio de Janeiro.
Murada é lembrança de um mar próximo
Indo em direção ao Centro, vê-se o relógio de 1905, seguido da murada feita para conter a ressaca do mar, que chegava até ali no século XVIII. Um pouco adiante, no número 156 da Rua da Glória, existe, ainda, o chafariz construído em 1772 para trazer água potável de Santa Teresa.

Em 1906, foi construída a Avenida Beira Mar, seguindo um projeto de ajardinamento e arborização de inspiração francesa. E, na década de 1960, o aterramento chegou ao estágio atual, com a criação do Parque do Flamengo.

Entre as avenidas Beira-Mar e Augusto Severo, a Praça Paris foi inaugurada em 1929, seguindo também o estilo francês. Do seu lado direito, antes de chegar à Praça do Russel, fica a sede da Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro – Seaerj – um prédio de dois pavimentos, em alvenaria de pedra, construído em 1864 para ser a sede dos serviços de esgotos sanitários e pluviais, uma das obras públicas mais importantes do reinado de D. Pedro II.

Na próxima matéria, continuaremos no bairro da Gloria, com um capítulo especial em homenagem ao saudoso Hotel Gloria! Não percam
Fontes:
Arquivo Nacional
Acervo Instituto Moreira Salles
Arquidiocese do Rio de Janeiro
Brasiliana Fotográfica
Iphan
André Conrado

Parabéns pela materia !! 🙌😘