Bairros Históricos do Rio de Janeiro - Botafogo
- André Conrado
- 3 de mai.
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A primeira pessoa a ocupar o local foi Antônio Francisco Velho, que recebeu as terras como recompensa por ajudar o amigo Estácio de Sá na fundação da cidade, em 1565. Quase três décadas depois, o terreno foi vendido para o português João Pereira de Sousa, mais conhecido como Botafogo.

A região pertencia à freguesia rural de São Sebastião da Lagoa. Parte da terra foi comprada por Dom Clemente José de Matos, o Vigário Geral, que abriu caminhos no terreno, chegando ao local onde hoje estão situados o bairro do Catete e o Forte de São João, na Urca.
Até o século XVIII, a região não passava de uma área isolada, com pouca expressão na vida social e econômica da cidade. Em 1702, houve um desmembramento da Freguesia de São João Batista da Lagoa, que gerou três chácaras: a de Olaria, que abrange quase toda a extensão do atual bairro, a do Outeiro e a do Vigário Geral.

Casarões imperiais e o surgimento do bairro
Botafogo só começou a ganhar contornos de bairro no início do século XIX, quando a rainha D. Carlota Joaquina, esposa de D. João VI, construiu um casarão na praia, na esquina da atual Rua Marquês de Abrantes.

Os comerciantes ricos, os nobres portugueses e os diplomatas da corte também passaram a construir casarões por ali. Com um clima agradável e rodeado de belezas naturais, Botafogo se tornou uma boa opção para morar ou passar o verão.

Naquela época, havia poucos caminhos para circular pelo bairro. Existia o do Berquó, que dava nome a um rio e fica onde hoje é a Rua General Polidoro; o do São Clemente, com direção à Lagoa; o de Copacabana, atual Rua da Passagem; e o da Praia de Botafogo. Nos anos seguintes, outras vias foram abertas, como a Voluntários da Pátria e a Real Grandeza, facilitando a expansão para o interior do terreno, que, a cada dia, ganhava novos moradores, após a repartição das antigas chácaras em lotes.

Infraestrutura impulsionou o povoamento
Em meados do século XIX, alguns serviços básicos passaram a facilitar a vida da população que morava ali. Em 1843, entrou em circulação o serviço de barcos a vapor, que ligava Botafogo ao Saco do Alferes – atual Santo Cristo. Quase uma década depois, em 1854, novas instalações no bairro garantiram o abastecimento de água nas residências e, em 1860, as casas passaram a ter iluminação a gás.
O aumento demográfico ganhou novo impulso com o surgimento dos bondes de tração animal, transporte coletivo que permitia o passeio de mais pessoas em uma só viagem. O novo veículo ajudou a trazer para a região camadas mais humildes da população.
No início do século XX, Botafogo apresentava um perfil bem heterogêneo de moradores, que incluía operários, biscateiros, funcionários públicos, comerciantes, militares e artesãos. Ao lado dos grandes casarões e de algumas vilas, surgiram os cortiços – habitações coletivas que foram imortalizadas na obra O Cortiço, de Aluísio Azevedo.

Em sintonia com a vinda de novos moradores e a expansão dos serviços básicos, a área comercial se desenvolveu, sobretudo, nos locais em que os bondes passavam. Nessa época, os caminhos percorridos seguiam as atuais ruas São Clemente, Voluntários da Pátria, Mena Barreto, Real Grandeza e da Passagem e a Praia de Botafogo. Duas das instituições de ensino mais tradicionais do Rio de Janeiro, os colégios Santo Inácio (1903) e Andrews (1918), foram construídas.

Bairro de passagem e consolidação como centro comercial
Devido à abertura dos túneis Velho e Novo, no início dos anos 1900, dando acesso a Copacabana – região ainda pouco habitada –, Botafogo passou a ser considerado um bairro de passagem para outras áreas da cidade. Era por ali que os moradores precisavam atravessar caso desejassem fazer o trajeto entre o Centro e os novos locais que estavam surgindo na Zona Sul.

Pavilhão Mourisco
O célebre Pavilhão Mourisco foi projetado pelo arquiteto Alfredo Burnier e inaugurado durante a administração do Prefeito Souza Aguiar, em 1906.Havia sido pensado para ser um “music hall”, mas nunca funcionou de fato como tal, e sim como salão de festas, salão de chá, restaurante e café.O estilo em que foi construído, neo-mourisco, com elementos persas, era sinônimo de elegância, exotismo e excentricidade naquela época.

Era o monumento que fechava com chave de ouro o passeio pela Avenida Beira Mar. Sua construção era tão marcante, com suas cinco cúpulas douradas que reluziam ao sol, que o Mourisco tornou-se topônimo e um ícone de Botafogo.O pavilhão foi demolido, em 1950, para a construção do Túnel do Pasmado, fato que gerou enorme controvérsia.
A Favela Santa Marta
As primeiras favelas do bairro datam do início da década de 1920, com a ocupação dos morros do Pasmado, da Saúde e do São João. A mais conhecida e que existe até hoje é a Santa Marta, que surgiu junto com as obras de expansão do Colégio Santo Inácio.

Na época das obras, o padre Natuzzi, então diretor do colégio, permitiu que os operários se instalassem no Morro Dona Marta, que fazia parte do terreno da instituição. Com a oferta de emprego, muitos passaram a morar por ali, justamente por estar perto do trabalho e dos principais serviços que o local oferecia.
Ao longo dos anos, o Morro Dona Marta ganhou novos habitantes, vindos de outras comunidades. Isso aconteceu devido às políticas de remoção e expulsão feitas pelo então governador do estado da Guanabara, Carlos Lacerda, na década de 1960.
Fontes:
Arquivo Nacional
Braziliana Fotográfica
André Conrado

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