Bairros Históricos do Rio de Janeiro
- André Conrado
- 8 de fev.
- 4 min de leitura
Nesta série de matérias, convido ao leitor a uma fantástica viagem aos bairros históricos da cidade maravilhosa.
LAPA
O bairro localiza-se em um espaço privilegiado no centro do Rio de Janeiro entre a zona norte a zona sul, tendo como bairros vizinhos Santa Teresa e Glória. Em homenagem à Nossa Senhora da Lapa do Desterro, em 1751 o bairro foi nomeado como Lapa, antes conhecida como Areias de Espanha. A ocupação do local deu -se significativamente em 1808 após a vinda da família real.


No início do século XX, a Cidade do Rio de Janeiro passou por transformações urbanísticas significativas na gestão de Pereira Passos. Na Lapa não foi diferente, inúmeros trabalhadores foram expulsos do centro e arredores a fim de demolirem os cortiços para construção de avenidas e alargamento das ruas. Além disso, o prefeito arborizou o espaço do largo e permitiu a construção do lampadário no local remetendo às influências francesas da época.

Abertura de avenidas como Mem de Sá e Gomes Freire, alargamento da Rua Frei Caneca foram algumas das grandes reformas urbanas realizadas ainda nesta gestão. Aliás, o Largo da Lapa situado atrás dos Arcos, local atual do Circo Voador, surgiu após o aterramento da Lagoa do Boqueirão.

Após das transformações visuais arquitetônicas que abandonavam os resquícios da colônia, a Lapa configurou uma percepção no imaginário coletivo como um dos berços do samba e da boemia. O local também foi ponto de encontro de intelectuais, políticos e artistas, sobretudo no início do século XX. Portanto, o bairro torna-se parada quase que obrigatória para visitantes pois, em conjunto com outras áreas do centro, integram um circuito de entretenimento e lazer da cidade.
O AQUEDUTO CARIOCA
Um dos maiores símbolos do Rio Antigo Preservado, o Aqueduto Carioca, começou a ser construído no governo de Antônio de Brito Freire de Menezes (1717-1719), porém concluído no governo de Aires de Saldanha de Albuquerque Coutinho Matos e Noronha (1719-1725) no ano de 1723.

Inicialmente, a função do aqueduto era minimizar o problema de abastecimento de água na região. A ideia era transportar água do Rio Carioca (localizado no Morro do Desterro, conhecido hoje como bairro de Santa Teresa) até o Morro Santo Antônio (atual Largo da Carioca) na fonte Carioca. Dessa forma, a água seria distribuída para a população do Campo de Santo Antônio.
A partir de 1876, o aqueduto passou a ser um viaduto, portanto, a mudança do seu nome para Arcos da Lapa. O que antes a função do monumento destinava ao abastecimento, agora passou a servir de transporte público para o bonde ligando o Centro do Rio para o bairro de Santa Teresa.

O cartão postal da Lapa e da cidade do Rio de Janeiro é composto por 42 arcos dispostos em 270 metros de extensão. Hoje, os Arcos da Lapa é uma das maiores obras arquitetônicas realizadas no Brasil Colônia no século XVIII.
A multifuncionalidade que foi de transporte de água à deslocação de gente, os Arcos também foi palco de encontro entre os sambistas e de prática coletiva do samba. “O samba caracterizado pela música cantada por solista e pelo choro, quase sempre formado por todos os participantes da roda. Sua realização ocorre idealmente em ambientes informais (terreiros, botequins e fundos de quintais)” (HERSCHMANN, 2007 p,47). Inclusive, tendo como um dos protagonistas Noel Rosa, frequentador assíduo da Lapa na época, foi considerado o “responsável de unir o samba do morro com o asfalto.”.

A INFLUÊNCIA DA FRANÇA NA LAPA
Com a urbanização do bairro e o crescimento da população, era difícil não perceber a influência da cultura francesa no cotidiano do carioca. Podia-se perceber sua presença desde bares até os bordeis da lapa. A começar pela língua que era aplicada dia após dia por toda a Lapa. Chamar o garçom, pedir o menu ou até mesmo a comida “a la carte”, são expressões recorrentes e passam quase que imperceptíveis ao brasileiro. Porém, no início do século XX, os viajantes de outros estados ficavam admirados com a proficiência carioca na língua francesa. Em seu livro, Isabel Lustrosa relata um conto de Aluísio Azevedo no qual é retratado, através de um diálogo entre os personagens, a presença da cultura francesa já absorvida pelos moradores do Rio de Janeiro.

“- Garçom! - Gritou o Paiva, entrando no gabinete com um ar sem-cerimônia. La Carte! O criado disparou. - Tu falas francês? - inquiriu Amâncio, já com admiração na voz. Ora - respondeu o Paiva, levantando os ombros. - Aqui na Corte será difícil encontrar alguém que não fale francês. Pois eu ainda não sei… - disse aquele tristemente. Questão de prática! observou o outro”. (LUSTOSA, Isabel., p21).
Antes do inglês, a França possuía o título de idioma da cultura por excelência e da elegância por costume. Na época, era a língua da globalização. Muitas eram as francesas que vinham para o Rio e estas ganharam destaques por sua aura de requinte e glamour. Nos bordeis da Lapa, possuíam um espaço próprio e sabia-se de longe que eram de maior valor dentre suas concorrentes: as mulatas e as polacas. Foi a França também que influenciou Pereira Passos, prefeito do Rio de Janeiro no início do século XX, responsável pela reforma urbana na cidade inspirado no modelo parisiense de Haussmann. Na época, conferiu à Lapa o título de “Montmartre Carioca”. Dentre seu legado, está o Passeio Público, primeira praça pública do Rio de Janeiro.

Fontes:
Arquivo Nacional
Biblioteca Nacional
Brasiliana Fotográfica
MultiRio
André Conrado

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