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Revista do Villa

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Atrizes Pretas Protagonistas

Estreou Irmãs na Arena do Sesc Copacabana. 

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O texto de Dani Ornellas e Renato Carrera é feminino, anti-racista, anti-patriarcado, ancestral e contemporâneo.

 

O texto tem o mérito de realizar uma livre adaptação e de se apropriar da obra As Três Irmãs, de Anton Tchékhov, redigida na Rússia czarista no fim dos oitocentos, e a aplicar ao contexto do universo brasileiro preto, sendo encenada por três atrizes pretas e uma branca, esta última comprometida com as questões pretas. Ao realizar esse procedimento, os autores buscam refletir sobre a mulher na sociedade contemporânea, resgatar raízes perdidas, elaborar novas narrativas, e estabelecer conexões da obra referida com o tempo presente.

 

Ao tornar as atrizes pretas protagonistas, interpretando personagens brancas e russas, a dramaturgia valoriza a cultura afro-brasileira, e deixa transparecer a figura feminina como agente da resistência e da perpetuação dos legados da ancestralidade. Dar visibilidade e voz ás mulheres pretas numa sociedade onde as práticas racistas estão enraizadas e o patriarcado resiste é algo nobre. E a implosão destes males é urgente e necessário. O texto transforma o teatro num espaço de conexão humana, e de libertação.

 

O texto também recupera a trajetória de atrizes pretas brasileiras, como Ruth de Sousa, Léa Garcia, entre tantas outras, que tiveram suas carreiras atravessadas pelo racismo, e lutaram para conseguir um espaço no meio artístico brasileiro dominado pelos artistas brancos que ocupavam os papéis principais. Elas resistiram para fincar suas raízes em palcos iluminados!

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O texto se estrutura em três atos. O primeiro é a fase de testes, seleção das atrizes pelo diretor. O segundo ato acontece durante o aniversário de Irina, a irmã mais nova, e é o momento em que ocorre o ensaio e as atrizes apresentam o propósito da peça. E, finalmente, o terceiro ato é a encenação do quarto capitulo da obra original de Tchékhov.

 

O elenco é constituído por quatro atrizes, três pretas (Dani Ornellas (Olga), Isabél Zuaa (Macha) e Jamile Cazumbá (Irina)), e uma branca, Alli Willow (Natacha), que têm uma atuação de forte qualidade. Elas interpretam com mérito, e emocionam. Deixam as personagens falar. Transmitem luta, garra e vibração. Querem fincar seus pés naquele chão, criar raízes, e produzir novas narrativas, menos elitistas e mais inclusivas. Elas também recitam textos em dialetos africanos, e há elementos do candomblé que aparecem nas canções. Dominam o palco, ocupando todos os espaços, bem como o texto, passando com segurança, tranquilidade, e tornando-o assimilável. Portanto, uma atuação deferida e digna de aplausos.

 


Convém sublinhar que as três atrizes pretas estão interpretando personagens das camadas dominantes, aristocratas, mulheres que tiveram êxito e sucesso em suas vidas, tinham vidas fartas e glamourosas, e não marcadas por faltas e carências. Ao contrario do que com frequência é reservado para as atrizes pretas. Elas não estão atuando como empregadas domésticas, babás, faxineiras, nem são moradoras de comunidades carentes. Há, portanto, uma inversão dos valores estabelecidos.

 

A direção é de Renato Carrera que realizou as marcações certeiras e precisas, e deu ao espetáculo um tom de luta contra as assombrações que ainda dominam a nossa sociedade e em seu lugar imperar o amor, o afeto, o carinho, e não o ódio racista. Para tal direcionou as atrizes com interpretações que apontam nessa direção mais fraternal das relações humanas, e colocou as atrizes pretas como protagonistas.

 

Os figurinos criados por Biza Vianna e Dani Ornellas são de bom gosto, adequados e facilitam a movimentação. Ganham destaque os vestidos vermelhos do terceiro ato.

 

A cenografia de Daniel de Jesus é correta, clean, e apresenta uma boa distribuição dos elementos cenográficos pelo palco. Toda branca, com uma imponente fachada de uma mansão aristocrática da Rússia czarista e o mobiliário da residência.

 

A bonita iluminação de

Daniela Sanchez dá um colorido à cenografia em tom branco, e realça a interpretação das atrizes de seus personagens.

 

A Trilha Sonora de  Jonathan Ferr apresenta canções com melodias poéticas e letras com conteúdo denso. Há também canções com sons de candomblé.

 

Irmãs é um texto teatral que valoriza as atrizes pretas colocando-as como protagonistas e executando os papéis de mulheres brancas e ricas; uma dramaturgia que recupera os legados da ancestralidade e das nossas raízes para construir novas narrativas; um elenco de qualidade e potencial constituído por quatro atrizes.

 

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Excelente produção cênica!

 

Alex Varela

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