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Revista do Villa

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A Travessia…

Estreou Migrantes no teatro Firjan Sesi Centro. 

O texto é de Matéi Visniec, cuja correta adaptação foi realizada por Rodrigo França. Este último teve o mérito de trazer o texto para o tempo presente em que vivemos, pois as travessias e deslocamentos em massa de pessoas são problemas que permanecem no mundo contemporâneo.

 

O texto é contemporâneo, potente, sensível, emocionante, crítico e problematizador, é um grito de alerta pela valorização, afirmação e defesa de um dos direitos naturais do homem e do cidadão, a liberdade. Este valor é semeado. Contudo, por meio de inúmeras atitudes, sobretudo políticas, é submetido e subordinado ao principio da ordem, principio este que levanta muros de concreto ou grades eletrificadas para impedir a livre circulação de seres humanos.

 

O texto também, em suas diversas cenas, deixa transparecer a difícil realidade dos migrantes e refugiados que atravessam desertos e oceanos em busca de uma nova vida.   As travessias e es deslocamentos são doídos, sofridos, humilhantes. E, ao chegar à nova terra, passam por situações as mais deprimentes possíveis. São vítimas sobretudo de racismo estrutural, e o texto sublinha bem essa postura racista, imoral e humilhante. Ao chegar passam a ocupar as atividades mais desqualificadas possíveis como faxina, entregadores de materiais, garçons, entre outros, passando as piores agruras possíveis. O caminho da inclusão é um processo longo e duro. Só vence os que resistem!

 

O elenco é integrado por nove artistas: Alex Nader, Aline Borges, Anderson Cunha, Mery Delmond, Monique Vaillé, Paulo Guidelly, Sarito Rodrigues, Stella Maria Rodrigues e Tom Nade. No geral, tem uma atuação correta e adequada. Eles interpretam com qualidade, e expressam sentimentos de dor, desespero, sofrimento, humilhação, entre outros. Dominam o texto, apresentando uma linguagem simples e de tranquila compreensão, bem como o palco, apresentando uma boa movimentação e ocupando todos os espaços. Apresentam também uma boa comunicação com o público, que é testemunha e participante da travessia e dos deslocamentos, deixando a todos perplexos com tal brutalidade. Atuam com consistência, de forma segura e sincronizada. Eles estão unidos e coesos.

 

Complementa a atuação dos atores projeções, e efeitos sonoros. Na lateral direita do palco, há músicos que cantam músicas associadas ao texto.

 

A direção é de Rodrigo França que realizou as intervenções certeiras e precisas, dando ao espetáculo um tom emocionante, que por meio das excelentes interpretações dos atores expressaram dor, sofrimento, humilhação, luta, resistência, entre outros.

 

No nosso ponto de vista a cena mais impactante é aquela em que o coordenador do navio veda os olhos, amordaça, enlaça as mãos e amarra uma pedra no imigrante ilegal que estava indo no transporte. Caso o controlador de imigração  aparecesse, o elemento que estava fazendo a travessia seria jogado ao mar. Viraria comida de peixe!

 

A cena da travessia no navio também é impactante! 

Os figurinos criados por Vania Ms Vee são de bom gosto, adequados, e predomina os tons pastéis. Representa todo o universo dos imigrantes.

 

A cenografia criada por Mauro Vicente é criativa, bem distribuída pelo palco, e clean. Visualizamos uma carcaça de um navio negreiro, transporte que realizava o deslocamento forçado da “diáspora africana”. Em frente ao navio visualizamos esculturas de rostos negros, memória daqueles que ficaram pelo oceano na travessia. Também visualizamos uma cadeira, que nos remete a um trono, símbolo de poder e de intolerância dos governantes. Há também uma cerca de arame farpado, típica daquelas instaladas nas regiões de fronteiras para impedir a livre entrada dos imigrantes.

 

A iluminação criada por Pedro Carneiro apresenta um bonito desenho de luz, imperando partes iluminadas e outras escuras, e contribui para realçar a interpretação dos atores de seus respectivos personagens.

 

Migrantes é uma peça teatral que tem uma dramaturgia contemporânea, crítica e reflexiva; uma direção segura e consistente; e um elenco com uma atuação que relaciona interpretação com emoção.

Excelente produção cênica!

 

Fotos: Marcio Farias


Alex Varela


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