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Revista do Villa

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A Memória dos Movimentos Artísticos Negros

Atualizado: 26 de mar.

Estreou Vinte no teatro do CCBB-RIO 3.

 

A idealização e texto é de Tainah Longras. 

O texto parte de uma crítica à montagem da peça teatral "Tudo Preto" (1926), da Companhia Negra de Revistas, grupo que reuniu nomes como Pixinguinha e De Chocolat, e marcou a história do teatro musical negro brasileiro. Tomando como base esse ponto de partida, o texto revisita os anos vinte do século XX, quando a cidade do Rio de Janeiro era capital federal e passava por um processo de modernização. Esta excluía os populares e humildes, e perseguia os pretos e as suas tradições. É esse Rio dos anos vinte que a produção teatral recupera, por meio dos movimentos artísticos negros, uma das manifestações que representavam a resistência, numa narrativa preta e contemporânea.

 

A dramaturgia de Mauricio Lima e Tainah Longras  é crítica, informativa, histórica, memorialística, anti-racista, apresentando uma reflexão crítica profunda sobre os anos vinte do século XX, e apresentando um contraponto com relação a essa mesma cidade nos anos vinte do século atual. Passado um século, houve transformações, a cidade deixou de ser a capital da República, mas também há permanências, como a contínua repressão aos pretos, e a criação de espaços de resistência que contribuem para manter viva as africanidades.


O texto tem o mérito de recuperar o termo quilombo e a ideia de fuga, fugir para poder viver em liberdade, resistindo. Viva Zumbi!

 

Reflete-se também como era ser negra, artista e doente naqueles pretéritos anos vinte, trazendo a tona a memória de Lima Barreto, preto, pobre, e suburbano.

 

Portanto, é a recuperação de uma memória preta e a sua ressignificação através de uma leitura contemporânea. É um teatro preto!

 

O elenco é constituído por quatro atores pretos: 


AfroFlor, Felipe Oládélè, Muato e Tainah Longras. Eles apresentam boas atuações interpretativas. Passam o texto com vigor, força e também com segurança. Apresentam uma intensa movimentação pelo espaço cênico. Eles interpretam, cantam, dançam, tocam instrumentos, batucam, e apresentam um intenso gestual. Em suas falas e gestos há uma simbiose entre o teatro, a música, e a dança.

 

No nosso ponto de vista, a única falha que ocorreu quanto a atuação do elenco foi a dificuldade de entendermos algumas de suas falas ao microfone, cujas vozes soaram falhas e pouco compreensíveis.

 

A direção é de Mauricio Lima, que realizou as marcações pontuais e certeiras, e deu uma direção à correta interpretação dos atores.

 

A direção de arte é de Júlia Vicente.

 

Os figurinos são simples, de pouco bom gosto, predomínio dos tons preto e cinza, e não são criativos.

 

Por sua vez, a cenografia é também simples. Um imenso plástico preto, que apresenta várias utilidades, mas que não conseguimos compreender o significado.

 

A iluminação criada por Dadado de Freitas é correta, e oscila entre momentos de escuridão, e momentos de claridade de luz branca.

 

Rômulo Galvão foi o responsável pela direção de movimento, conseguindo realizar um bom trabalho de deslocamento dos atores, ocupando os espaços, e dominando a ribalta.

 

A direção musical é de Muato, que nos brindou com diversos ritmos musicais negros.

 

Vinte apresenta uma dramaturgia que traz a tona a memória dos artistas negros que atuaram na cidade do Rio de Janeiro nos anos de 1920, numa perspectiva negra e contemporânea; apresenta um bom elenco com atuações convincentes; e mescla teatro, dança e música numa simbiose correta e adequada.

 

Boa produção cênica!



Crédito das fotos: Ira Barillo

 

Alex Varela


 

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