Entrevista: Fabi Salabertt
- Delcio Marinho

- 2 de out.
- 3 min de leitura
Entrevista com Fabi Salabertt
Rio Café Comedy Club

1. Como nasceu sua paixão pela comédia e como ela se conecta com sua trajetória como atriz?
Eu gosto de explicar a comédia como uma especialização dentro das artes cênicas, assim como acontece no direito ou na medicina, em que cada profissional encontra sua área de atuação. A comédia é a minha zona de conforto, mas isso não significa que eu não faça drama — pelo contrário, também atuo muito bem nesse campo. Para mim, migrar entre os gêneros não diminui nem atrapalha a trajetória de um ator ou atriz, apenas amplia as possibilidades. No fundo, o que eu amo é atuar, seja no drama, na comédia, no absurdo, no stand up comedy e outras.
2. O palco do Rio Café Comedy Club tem uma energia única. Como é para você se apresentar nesse espaço?
O palco do Rio Café Comedy Club tem realmente uma energia única, e isso é muito especial para mim, porque fui eu quem idealizei e construí esse espaço. Ele nasceu de um projeto de muita resistência e, de certa forma, já estava escrito para acontecer — até no plano astral, se é que vocês acreditam nisso. Curiosamente, apesar de viver e trabalhar intensamente naquela casa, até hoje só me apresentei uma única vez. Mas pretendo subir mais vezes.
3. O que te inspira na criação dos seus personagens e esquetes cômicos?
O que me inspira são as pessoas da vida real e as situações inusitadas do cotidiano, tanto as que eu presencio quanto as que escuto em relatos. Quem nunca teve uma tia-avó muambeira que viajava para o Paraguai para vender perfumes, papai noel e casacos? Ou aquele vizinho excêntrico, ou ainda um colega de trabalho cheio de trejeitos engraçados? Todos os meus personagens partem de pessoas reais — é essa verdade que dá graça e aproxima o público.
4. Humor também é crítica social. Como você enxerga o papel da comédia nos dias de hoje?
Eu acredito que o humor sempre foi uma forma de crítica social. A diferença é que, nos dias de hoje, existe uma certa censura em tudo. Por isso, precisamos ter muito cuidado na hora de elaborar e estruturar uma piada. A maioria dos temas pode ser vista como politicamente incorreta em algum nível. Claro que existem limites — eu, por exemplo, não consigo enxergar graça em usar uma doença como recurso de piada, embora existam humoristas que façam isso. Fico me perguntando como seria se programas como Casseta & Planeta ou TV Pirata estreassem hoje: será que seriam banidos da TV?
5. Já teve alguma situação inusitada com a plateia que virou piada no palco?
Na verdade, a situação inusitada que me marcou não aconteceu comigo no palco, mas como plateia. Eu me senti ofendida por uma piada de cunho religioso. Talvez bobagem da minha cabeça, mas na época eu estava muito inserida em uma religião que deixava meu mindset fechado e passando por um período de depressão. Levantei da cadeira e saí no meio do show. O que me marcou foi que, ainda naquela noite, o humorista me procurou na casa e pediu desculpas — um gesto muito bacana. É exatamente isso que eu penso: os comediantes vivem sempre na corda bamba ao formular suas piadas, e cada reação é distinta.
6. Qual recado você deixa para quem está começando na comédia e sonha em subir ao palco do Rio Café?
Primeiramente, eu diria que não é preciso sonhar apenas em subir no palco do Rio Café — ele está lá para todos, e a casa é muito democrática nesse sentido. Para quem está começando na comédia, o mais importante é fazer tudo com amor, paixão e garra. Não foque em viralizar ou ganhar dinheiro — apesar de isso ser positivo, o essencial é fazer aquilo que você realmente ama. O verdadeiro artista não busca apenas colher frutos, mas encontra prazer em fazer parte do processo de criação e se entregar à arte daquilo que ele realmente acredita.

Delcio Marinho

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