Entrevista: Rogério Guimarães (músico)
- Chico Vartulli

- 11 de out.
- 4 min de leitura

1- Olá Rogério! Qual é o balanço que você faz dos seus 29 anos de carreira como músico?
Nesses quase 30 anos, já vivi uma grande diversidade de experiências que traduzem um pouco do que é a vida do artista e músico brasileiro. Momentos de realização tocando com artistas que admiro como a Jane Duboc, Tunai, Fátima Guedes foram muito marcantes e felizes. A oportunidade de gravar um cd com minhas composições instrumentais também foi um marco importante. Mas não posso deixar de mencionar a luta de quem vive da arte e tem que inventar e se reinventar todo dia, criando novos caminhos para seguir junto com as demandas da vida, dos filhos, da casa e da família. É uma montanha russa, mas, para mim, é o que dá gosto e prazer na vida.
2- Você pode comentar sobre o show “Grandes Compositores Brasileiros”? O que você apresentará?
O show Grandes Compositores Brasileiros é um projeto que me dá um grande prazer em realizar. Primeiro, porque tocar o repertório daqueles que fundaram os alicerces da nossa música já é uma alegria enorme. Depois, porque como é um show que faço sozinho, tenho uma flexibilidade que me permite fazer mudanças no roteiro em cada show, já que o cancioneiro desses gênios é inesgotável. Também tenho a liberdade de modificar os arranjos de cada canção. Uma sólida formação como violonista e guitarrista com grande influência do jazz, me permite dar ênfase ao violão, que é o instrumento que uso nesse show e dar um colorido mais vibrante às interpretações. A lista é interminável: Caymmi, Tom, Gil, Caetano, Ary Barroso, Luiz Gonzaga, Chico, Dolores, Ivan Lins e tantos outros. Esse show também é uma oportunidade de apresentar algumas composições minhas que têm sido muito bem recebidas.
3- Quando surgiu o seu interesse pela música?
Desde bebê, minha mãe diz que eu sempre prestava muita atenção quando ouvia música e muito cedo, já reconhecia as gravações da coleção de discos de nossa casa. Os vinis que tocavam em nossa vitrola fizeram parte da minha formação, assim como o rádio numa época em que a programação era dos grandes nomes da MPB. O interesse só fez crescer e com ele, o desejo de tocar um instrumento e entender a linguagem daquela arte que tanto me encantava.
4- Como se deu a sua formação como músico?
Tive uma professora de violão aos 9 anos de idade que nos deu aula, a mim e a minha irmã, por um ano. Depois disso segui sozinho, tirando de ouvido as músicas que gostava. Aos 13 anos, entrei na escola de música Villa Lobos onde aprendi a ler música e depois na Pró Arte, onde segui meus estudos de teoria, percepção musical e também de violino, que toquei por alguns anos. Aos 18 anos, já tocando guitarra, entrei para a escola que me deu uma grande formação em harmonia, improvisação e arranjo que foi o CIGAM. Centro Ian Guest de aperfeiçoamento musical.

5- Quais são as suas principais referências no campo da música?
Muitas referências, cada uma com sua importância e valor. Tem os nossos grandes compositores como os que já citei, nomes importantes do jazz como Coltrane, Miles Davis, Charlie Parker. Como guitarrista e violonista, não posso deixar de mencionar nomes como Wes Montgomery, Joe Pass, Hélio Delmiro, Baden Powell e Raphael Rabello. Intérpretes como Gal, Elis, Nana, Emílio também me emocionam e influenciam muito.
6- Quais sao os seus ritmos preferidos?
Essa é a pergunta mais difícil! Não tenho como nomear apenas um. Numa fase estou mais para o samba, noutra estou ouvindo mais baião, ou o jazz, também adoro os ritmos latinos, o bolero e assim vai.
7- Durante as Olimpíadas de 2008, em Pequim, você passou dois meses na China, apresentando-se diariamente na Casa Brasil — espaço criado para divulgar a cultura brasileira, com destaque para o samba e as danças típicas. Como foi essa experiência?
Foi inesquecível! Conviver com uma cultura tão diversa e, ao mesmo tempo, ter a chance de mostrar nossa música para o mundo, foi fantástico. Também fizemos uma apresentação para o presidente Lula que na época, estava em seu segundo mandato. Foi um momento que considero muito importante em minha carreira. O povo chinês é extremamente educado e cortês. Tivemos a oportunidade de conhecer casas noturnas onde se tocava música brasileira com músicos locais e foi incrível!
8- Qual é o seu olhar sobre a China? O que lhe chamou atenção naquela cultura?
Como disse, a cordialidade e a doçura das pessoas era comovente. É claro que havia também uma desigualdade econômica grande, principalmente naquela época. Por um lado se via muita riqueza, prédios e hotéis luxuosos e por outro, muita pobreza nas ruas. Mas acho que a maneira deles de lidar com essas questões é diferente da nossa. Acredito que eles têm uma confiança em seus governantes que, para nós, pode parecer com conformismo. Mas, como estamos vendo, a China vem impressionando o mundo com seu crescimento.
9- Você interagiu musicalmente com músicos chineses?
Sim! Visitamos alguns bares e casas noturnas e demos canja tocando música brasileira com eles. Incrível como eles tocam bem nossa música e, muitas vezes, cantando em português, mesmo sem saber o significado do que cantavam.
10- Quais são os seus projetos futuros?
Quero me concentrar em meu trabalho autoral e fazer mais shows com minhas músicas. Tenho alguns outros projetos como show só com repertório de compositoras mulheres como Dolores Duran, Chiquinha Gonzaga, Joyce, Angela Ro Ro, Rita Lee. Também tenho um tributo ao João Gilberto que pretendo fazer em breve.

Fotos: Arquivo pessoal/Divulgação
Chico Vartulli


Te amo amigo 🩵Adorei essa entrevista, como tantas outras!
Amo vc Chico e admiro muito....
Adorei! Não o conhecia!